Tuesday 3 May 2022

O LONGO E QUENTE VERAO EUROPEU PELA FRENTE

O LONGO E QUENTE VERAO EUROPEU PELA FRENTE escrito por um coronel respeitado do Servico de Inteligencia do Corpo de Fuzileiro Navais dos EUA traduzido por Jojo Kalango, 03 de Maio de 2022

Enquanto alguns observadores previam um conflito curto que resultaria em uma vitoria russa decisiva, a guerra na Ucrania se transformou em uma classica luta militar, cujo resultado e incerto. Tanto Russia quanto os EUA concordam que o futuro da seguranca europeia esta em jogo e, como tal, nenhum deles parece disposto a aceitar nada que nao seja a vitoria total do seu lado. O resultado e um impasse perigoso que corre o risco de se transformar em um conflito europeu maior.

A medida que Russia e Ucrania entram no terceiro mes do que a Russia chama eufemisticamente de "operacao militar especial", mas que o resto do mundo  ve como pouco mais do que a invasao, ocupacao e desmembramento da Ucrania, qualquer expectativa de um ataque russo rapido e facil a vitoria foi frustrada pela inesperada tenacidade dos defensores ucranianos e pelas duras realidades do moderno combate terrestre em larga escala.

Embora o resultado final do conflito ainda nao tenha sido determinado, as metricas implacaveis da matematica militar moderna sugerem que Russia esta se aproximando de um ponto em que sua superioridade em poder de fogo e manobra no campo de batalha alcancara, em algum momento, uma vitoria no sul e leste da Ucrania que resultara na consolidacao do contreole russo sobre toda a regiao do Dombass, juntamente com uma ponte terrestre estrategicamente que liga a Crimeia ao territorio da Federacao Russa. O objetivo militar declarado da Russia de libertar a regiao de Dombass tera sido cumprido.

Qualquer consolidacao do controle russo sobre essa regiao poderia, no entanto, ser apenas um meio para um objetivo maior der criar uma nova estrutura de seguranca na Europa que atenda as demandas de seguranca russas. Essa exigencia foi esclarecida pela Russia em varios rascunhos de tratados complementares entregues em meados de dezembro de 2021, que exige que a OTAN "nao desdobrasse forcas militares e armamentos no territorio de qualquer outro estado da Europa, alem das forcas estacionadas naquele territorio em 27 de maio de 1997" - significando a maior parte da Europa Oriental, incluindo a Polonias, os estados balticos e os paises balcanicos. Os russos tambem exigiram, entre outras coisas, que os EUA nao operassem nenhuma base militar em solo de ex-republicas sovieticas.

Esses tratados propostos tambem exigiam que os EUA se abstivessem de enviar tropas em areas onde pudeassem ser percebidas como uma ameaca a seguranca nacional e a proibicao de enviar suas aeronaves e navios de guerras para areas onde eles ameacam o territorio um do outro, como o Mar Negro.

A proposta russa tambem pedia a limitacao da implementacao de misseis de medio e cuerto alcance lancados do solo e a proibicao da implantacao de armas nucleares fora dos territorios nacional.

Os EUA e seus aliados da OTAN rejeitaram categoricamente tais limites a sua presenca na Europa Oriental. Muitos observadores argumentam que Russia sabia que suas exigencias eram irreais e simplesmente as usou para justificar suas acoes militares subsequentes. Essa linha de pensamento ignora a realidade de que a Russia se opos a expansao da OTAN para o leste desde que o conceito foi lancado formalmente pela administracao Clinton dos EUA em 1993. O entao presidente russo Boris Yeltsin expressou "inquietude" sobre a discussao da "expansao quantitativa" da OTAN e defendeu fortemente "um sistema de seguranca pan-europeu" em vez desse. "Nao apenas a oposicao", escreveu Yeltsin em uma carta ao seu homologo dos EUA, "mas tambem os circulos moderados (na Russia), sem duvida perceberiam isso como uma especie de neo-isolamento de nosso pais em oposicao diametral a sua admissao natural no espaco euro-atlantico".

A intencao da Ucrania de buscar um Plano de Acao  de Adesao a OTAN apos a cupula da OTAN em Buscareste de 2008 levou o Ministerio das Relacoes Exteriores da Russia declarar que "uma nova expansao radical da OTAN pode trazer uma serie mudanca politico-militar que inevitavelmente afetara os interesses dr seguranca da Russia", o que exigiria que Russia tomasse o que chamou de "medidas apropriadas" em resposta. William Burns, o embaixador dos EUA na Russia na epoca observou: Embora a oposicao russa a primeira rodada de ampliacao da OTAN em meados da decada de 1990 fosse forte, Russia agora se sente capaz de responder com mais forca ao que percebe como acoes contrarias a seus interesses nacionais.

Se os dois esbocos de tratdos nao foram, de fato, um estratagema de negociacao, mas sim uma forte declaracao da posicao da Russia, entao a invasao da Ucrania e apenas o comeco de um movimento maior de Moscow para pressionar a OTAN e os EUA a eventualmente aderirm as suas demandas. Essa possibilidade foi aludida pelo presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Mark Milley, em comentarios a CNN recentemente: O que esta em jogo e a seguranca da Europa" disse ele, com uma potencial vitoria russa representando "o maior desafio a seguranca da Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial"

NAO SE RENDENDO

O secretario de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, apos uma visita a Ucrania no mes passado com o secretario de Estado Anthony Blinken, sinalizou aos reporteres que os EUA nao se renderiam para a Russia. Os EUA, disse Austin, querem "ver Russia enfraquecida a ponto de nao poder fazer o tipo dr coisa que fez ao invadir Ucrania". Os comentarios de Austin foram ecoados por um porta-voz do Conselho dr Seguranca Nacional, que declarou que o objetivo dos EUA era "tornar esta invasao um fracasso estrategico para Russia".

A estrategia dos EUA recentemente revigorada busca combinar transferencia macicas de armas - o presidente dos EUA, Joe Biden, acaba de autorizar US$33 bilhoes em ajuda militar e outras para Ucrania - com sancoes e controles de exportacao para atingir a economia e a industria de defesa da Russia de uma maneira que enfraquece sua capacidade de sustentar o conflito em curso eprevine futuras agressoes militares contra os vizinhos da Russia. O Congresso dos EUA tambem concordou com uma versao moderna do programa de ajuda "Lend-Lease" da Segunda Guerra Mundial, fornecendo outro canal para o rapido fornecimento de armas modernas para os militares ucranianos.

Mas se Russia completar a conquista do Donbass, estara livre para expandir as operacoes para o Sul, incluindo a vital cidade portuaria de Odessa. Isso poderia nao apenas criar uma ponte terrestre ao sul da Crimeia, mas permitir sua extensao ao territorio separatista da Transnistria - uma faixa de terra entre a Ucrania e a Moldavia, onde 200.000 de sua populacao estimada de 500.000 pessoas possuem passaportes russos e onde 98% votaram a favort de independencia e potencial integracao com a Russia em um referendo em 2006. 

O conflito russo-ucraniano adquiriu vida propria, com nenhum dos contendores dispostos a recuar do que consideram interesses existenciais. Atualmente, a vantagem parece estar com Russia - mas o calculo geopolitico na Europa pode mudar em um piscar de olho, com a Finlandia e Suecia se juntarem a OTAN, Polonia intervir no oeste da Ucrania por motivos humanitarios ou Ucrania atacar Transnistria para desviar a atencao russa. Tudo isso ameaca escalar a situacao para um conflito mais amplo. Embora prever qualquer resultado especifico seja problematico, uma coisa e certa: Europa enffrentara um verao longo e quente, dominado pela guerra.


Original EUROPE's LONG HOT SUMMER AHEAD publicado por Energy Intelligence Group traduzido por Jojo Kalango.