Wednesday 28 April 2021

O Mito da Sociedade de Transicao

 Ernest Mandel disse em um de seus muitos artigos nos quais ele desenvolveu o tema de q da evolucao social que intervem - e deve intervir - entre o capitalismo e o socialismo uma "sociedade" de transicao com sua propria base social e relacoes de producao, etc. [1] Este e um ponto de vista que vale apena discutir, dado que apesar da terminologia marxista em que se expressa, na verdade nao e um ponto de vista sustentado pelo proprio Marx. Como esse artigo tentara demonstrar Marx realmente falou de um "periodo de transicao politica" entre o capitalismo e o socialismo, mas nunca de uma "sociedade de transicao" 

O quem entao, Marx quiz dizer quando falou desse "periodo de transicao" Ao contrario do que geralmente se supoe (em grande parte como resultado de decadas de propaganda stalinista e trotskysta), para esse periodo nao foi aquele entre o estabelecimento da propriedade comum dos meios de producao e o tempo em que o principio ":de cada um de acordo com suas habilidades, a cada um de acordo com suas necessidades" poderiam ser implementadas. Em vez disso, e o periodo durante o qual a classe trabalhadora estaria usando o poder do Estado para trazer os meios de producao a propriedade comum. Em outras palavras, o periodo de transicao e uma forma politica entre a tomada do poder politico pela classe trabalhadora dentro da sociedade capitalista e o eventual estabelecimento do socialismo, um periodo durante o qual a classe trabalhadora substitui a classe capitalista como classe dominante, ou seja, como o contr4olador do poder do Estado.  O fim deste periodo de transicao e o estabelecimento de uma sociedade sem classes baseada na propriedade comum e no controle democratico por toda a sociedade dos meios de producao, com o consequente desaparecimento do Estado coercivo, do sistema de trabalho assalariado, da producao de bens para venda em um mercado com vista ao lucro, de fato, de compra e venda, dinheiro e o mercado como um todo.

Que para Marx o "periodo de transicao" foi o periodo apos a tomada do poder politico pela classe trabalhadora e antes do estabelecimento real da propriedade comum dos meios de producao e claro tanto em seus primeiros como em seus ultimos escritos.

Em 1852 ele escreveu ao seu amigo Weydemeyer nos EUA que uma das coisas que ele provou foi que a "DITADURA DO PROLETARIADO" (como ele designou o periodo de controle em que a classe trabalhadora controla o poder do Estado)[2] "apenas constitui a transicao para a abolicao de todas as classes e para uma sociedade sem classes"[3] Engels resume sua propria visao e a de Marx em 1873 da seguinte forma:

"As concepcoes do socialismo cientifico alemao SOBRE A NECESSIDADE DA ACAO POLITICA DO PROLETARIADO E DE SUA DITADURA como a transicao para a ABOLICAO DAS CLASSES E DO ESTADO..."[4]

O periodo de transicao, entao, e o periodo ate o estabelecimento da propriedade comum dos meios de producao. Novamente, em 1875 em suas notas privadas sobre o Programa Gotha adotado pelo congresso de unidade dos Social Democratas Alemaes, Marx escreveu:

"Entre a sociedade capitalista e a comunista esta o periodo da transformacao revolucionaria de uma na outra. Correspondente a isso  E TAMBEM UM PERIODO DE TRANSICAO POLITICA EM QUE O ESTADO NAO PODE SER OUTRA COISA QUE A DITADURA REVOLUCIONARIA DO PROLETARIADO."[5]

Marx, podemos perceber nesses textos, usou as palavras "socialistas" e comunistas" alternadamente para se referir a futura sociedade sem classes (se alguma coisa, ele preferia a palavra "comunista" para descrever a futura sociedade sem classe baseada na propriedade comum e no controle democratico dos meios de producao) A ideia de que "socialismo" e "comunismo" foram duas fases sucessivas da sociedade pos-csitalista nao se encontra em Marx, mas surgiu com Lenin. Assim, quando Marx escreve, na citacao acima, sobre "sociedade comunista", ele quer dizer exatamente o mesmo que quando ele escreveu sobre "sociedades sem classes" em 1852.

E verdade que Marx percebeu que, se o socialismo tivesse sido instituido em seus dias, nao teria sido possivel implementar imediatamente, ou mmesmo por alguns anos, o principio "de cada um segundo sua capacidade, a cada um  segundo suas necessidades" ou sejsa, acesso gratuito para todos os bens de consumo e servicos de acordo com as necessidades individuais. Nos primeiros anos do socialismo, estabelecido nesta epoca, teria que haver inevitavelmente algumas restricoes ao acesso a bens de consumo e servicos, alguma forma, se voce preferir, "racionamento"(sw esta palavra associada a guerra - os cartoes de racionamento de tempo e pos-guerra sao esquecidos, pois embora o acesso totalmente gratuito de acordo com as necessidades nao teriam sido possivel em 1873, a quantia alocada para o consumo poderia ter sido consideravelmente maior do que os trabalhadores estavam recebndo sob o capitalismo). Marx sugeriu como um desses metodos possiveis os chamados cartoes de tempo de trabalho. E importante perceber que se tratava apenas de uma sugestao e, alem disso, passivel de serias objecoes. Mas o que Marx queria dizer era que, por algum tempo, algum modo de recionamento do consumo seria necessario. Referiu-se ao periodo de socialismo durante o qual isso ocorreria, como "a primeira fase da sociedade comunista", em comparacao com uma "fase superior" em que o acesso livre a bens e servicos de consumo poderia ser implementado. Observe que Marx esta falado de diferentes fases da mesma sociedade, sociedsade "baseada na propriedade comum dos meios de producao"[6], ou seja uma sociedade sem classes, sem Estado, sem salarios ou sistema monetario (Marx deixou isso claro que os "cartoes/vales de tempo de trabalho" nao seriam dinheiro, "nao mais dinheiro do que um ingresso para o teatro", como ele colocou em O Capital[7] Sem duvida, pode-se falar de uma transicao da fase "primeira" para uma fase "superior" do socialismo, mas permanece o fato de que Marx nao empregou o conceito de "periodo de transicao" nesse sentido. Para ele, como ja explicamos, foi a passagem do capitalismo ao socialismo e nao de uma fase do socialismo a outra.

Quanto tempo Marx esperava que esse periodo de transicao politica iria durar" Sua opiniao sobre essa questao mudou ao longo do periodo de sua vida politica. Em 1848m ele claramente sentiu que deveria durar alguns anos. Trinta anos depois, ele e Engeles pensaram que poderis ser consideravelmente mais curto, como resultado do tremendo desenvolvimento da industria moderna no periodo intermediario.

O Manifesto Comunista de 1848 fala da classe trabalhadora capturando o podeer politico usando

"Sua supremacia politica para arrancar, aos poucos, todo o capital da burguesia, pars centralizar todos os intrumentos de producao nas maos do Estado, isto e, do proletariado organizado como classe dominante; e aumentar o total das forcas produtivas o mais rapido possivel"

Marx e Engeles passaram listar varias medidas imediatas que eles e os outros membros da Liga Comunistas sentiram que a classe trabalhadoras deveria assumir ao chegar ao poder, a fim de fazer "incursoes despoticas nos direitos de propriedade".

Eles concluem:

"Quando, no decorrer do desenvolvimento, as distincoes de classes desaparecerem e toda a producao se concentrar nas maos de uma vasta associacao de toda a nacao, o poder publico perdera seu carater politico",[8]

Claramentr, em 1848, Marx e Engels esperavam que o periodo de transicao para o estabelecimento da propriedade comum e a consequentre abolicao das classes e do Estado fosse bastante longo. Engeles, em seu rascunho para o manifesto que nao foi usado, mas foi publicado posteriormente sob o titulo Principio do Comunismo (o que e sempre uma  glosa util no Manifesto), afirmou isso explicitamente. Respondendo a pergunta: "Sera possivel que a propriedade privada seja abolida de uma so vez?", ele respondeu:

"Nao, nao mais do que as forcas de producao existentes podem ser multiplicadas de uma so vez na medida necessaria para a criacao de uma sociedade comunal. Com toda a probablidade, a revolucao proletaria transformara gradualmente a sociedade existente e sera capaz de abolir a propriedade privada somente quando os meios de producao estiverem disponiveis em quantidade suficiente."[9]

So mais tarde, depois que a onda de entusiasmo revolucionario de 1848 diminuiu, Marx e Engeles descobriram todas as implicacoes disso. Eles vinham dizendo, com efeito, que o estaberlecimento do socialismo nao seria possivel em 1848. Engels, em 1895, em uma introducao a alguns artigos que Marx havia escrito em 1850, sobre a politica francesa, afirmava abertamente o seguinte:

"A historia provou que nos, e todos os que pensavam como nos, errados. Deixou claro que o estado de desenvolvimento economico daquela epoca nao estava, de longr, maduro para a eliminacao da producao capitalista".[10]

Engels estava claramente correto neste ponto. O Capitalismo, como Fritz Sternberg apontou, era entao dominante apenas em um pais:

"Quando Karl Marx e Friedrich Engels escreveram "O Manifesto do Partido Comunista" - isto e por volta da metade do seculo XIX - o capitalismo era dominante apenas na Inglaterra; os Estados Unidos ainda era um pais colonial, no qual a populacao agricola superava em muito a industria; na Europa, os primordios do capitalismo foram confinados ao oeste - na Alemanha, por exemplo, as formas pre-capitalistas de producao ainda eram dominantes; A Russia e o Japao ainda eram estados feudais; e havia relativamente poucos pontos na costa asiatica que estavam em contato com aqueles paises ocidentais nos quais o desenvolvimento capitalista havia comecado.

Dizer que, naquela epoca, talvez 10 por cento da populacao mundial estava envolvida na producao capitalista e provavelmente uma estimativa otimista."[11]

Se o socialismo nao era possivel em 1848, isso levanta uma questao interessante (claramente relevante para tentativas posteriores de estabelecer o "socialismo" em um unico pais atrasado): O que a classe trabalhadora, ou melhor, um determinado grupo de comunistas teria sido capaz  de fazer no caso improvavel de eles terem obtidos  controle do poder politico naquela epoca? Certamente, apenas para desenvolver o capitalismo. Na verdade, as medidas listadas no final da Secao II (Proletarios e Comunistas") do Manifesto, e mencionadas acima, poderiam ser descritas com precisao como sendo de natureza capitalista der Estado. Muitos deles foram implementados em paises abertamente capitalistas (imposto de renda progressivo, banco central, nacionalizacao de ferrovias, educacao gratuita, proibicao do trabalho infantil, etc), indicando assim que nao havia nada inerentementr anticapitalists sobre eles.

Nem Marx nem Engeles foram ao ponto de repudiar essas medidas, ou de afirmar que os comunistas de 1848 estavsm errados ao imaginar que poderiam ate mesmo conquistar o poder politico, quanto maisd estabelecer o socialismo naquela epocas. Mas o que Engeles escreveu em 1872 sobre essas medidas:

"....nenhuma enfase especial e colocads nas medidas revolucionarias propostas no final da Secao II. Essa passagem seria, em muitos aspectos, redigidas de forma muito diferente hoje.... este programa tornou-se em alguns detslhes antiquado."[12]

Alem disso. escrevendo em 1850, Engels discutiu o destino de Thomas Munster, como o lider de um partido comunista chegando ao poder antes que as condicoes estivessem maduras para o estabelecimento de uma sociedader comunista. Vale a pena citar esta passagem extensivamente:

"O pior que pode acontecer a um lider de um partido extremista e ser obrigado assumir um governo em um momento em que a sociedade ainda nao esta madura para o dominio da classe que ele representas e para as medidas que essa dominacao implica. O que ele pode nao depende de sua vontade, mas do grau de antagonismo entre as varias classes e do nivel de desenvolvimento dos meios materiais de existencia, das condicoes de producao e comercio sobre as quais sempre repousam as contradicoes de classe. O que ele deve fazer, o que seu partido exige dele, mais uma vez nao depende dele ou do estagio de desenvolvimento da luta de classes e suas condicoes. Ele esta vinculado as doutrinas e exigencias ate agora propostas que, novamente, nao procedem, das relacoes de classe do momento, ou do nivel mais ou menos acidental de producao e comercio, mas de sus visao mais ou menos penetrante no resultado geral do movimento social e politico. Assim. ele necessariamentre se encontra em um dilema insoluvel. O que ele pode fazer contradiz todas as suas acoes e principios anteriores, e os interesses imediatos de seu partido e o que ele poderia fazer nao pode ser feito.  Resumindo, ele e compelido representar nao seu partido ou sua classe, mas a classe para cujo dominio o movimento esta maduro. No interesse do movimento, ele e compelido a promover os interesses de uma classe estrngeira e a alimentar sua propria classe com conversas e promessas, e com a afirmacao de que os interesses dessa classe estrangeira sao os seus proprios interesses. Aquele que e colocado nesta posicsao estranha esta irrevogsvelmente perdido."[13]

O proprio Marx havia escrito algo semelhante em outubro de 1847 (poucos meses antes que ele e Engels escrevessem o Manifesto):

"Se o proletario destruir o poder politico ds burguesia, isso sera apenas uma vitoria temporaria, apenas um elemento a servico da propria revolucao burguesa, como em 1794, enquanto no curso da historia, em seu "movimento" ainda nao foram criadas as condicoes materiais que tornam necessarias a abolicao do modo de producao burgues e, portanto, a derrubada definitiva do poder politico burgues."[14]

Seria demais dizer que, se Marx e Engels e os outros da Liga Comunista tivessem chegado ao controle do poder politico em 1848, que, nao sendo capazes de estabelecer o socialismo, eles teriam sido "irrevogavelmente perdidos", na medida em que eles nao teriam outra alternativa senao desenvolver o capitalismo (mesmo que na forma de um capitalismo de estado)?

De qualquer forma, essa situacao nunca surgiu, nem mmesmo era uma possibilidade remota. No exilio em Londres, Marx e Engels logo perceberam a futilidader dos comunistas conspirando para tomar o poder politico no futuro imediato, e se concentraram na longa e dificil tarefa de preparar a classe trabalhadora para se organizar para capturar o poder politico.

Depois de 1848, a industria moderna fez grande avancos. Em 1847, Engeles escreveu sobre os meios de producao nao estarem disponiveis em quantidades suficientr para permitir o estabelecimento imediato, ou mesmo rapido, do socialismo. Um quarto de seculo depois, em 1872, ele estava escrevendo:

"...E precisamente esta revolucso industrial que elevou a forca produtiva do trabalho humano a um nivel tao alto que - pela primeira vez na historia da humanidade - existe a possibilidade, dada uma divisao racional do trabalho entre todos, de nao produzir apenas o suficiente para o consumo farto de todos os membros da sociedade e para um fundo de reserva abundante, mas tsmbem de deixar a cada individuo lazer suficiente parsa que o que realmentre vale a pena preservar na cultura herdada - ciencia, arte, formas de relacionamentos - possa nao apenas ser preservado, mas convertido de um monopolio da classe dominante em propriedade comum de toda a sociedade, e pode ser desenvolvido posteriormente."[15]


 


Monday 19 April 2021

O PRECO NEGATIVO DO PETROLEO ESTA NOS DIZENDO QUE ALGO MAIS ACONTRCERA EM SEGUIDA

Esse artigo e traducao do NEGATIVE PRICE OF OIL de Vineer Bhansali que saiu no Forbes , 21 Abril 2020

Exatamente quanto pensavamos que os trilhoes de dinheiro recentemente saidos das  maquinas impressoras do FED  e dos Bancos Centrais haviam  estabilizados os mercados financeiros, o preco do petroleo bruto WTI caiu para -$40 o barril na segunda feira. A causa imediata foi o excesso  da oferta de oleo e nenhuma capacidade de armazenamento livre para o excesso de petroleo em Cushing Oklahoma. O anuncio da tarde pelo CME de que precos futuros de petroleo negativos foram permitidos acelerou a venda do contrato para aquele nivel intradiario impensavel de _$40 por barril (Fonte Bloomberg) Nao diferente do disastre do XIV no inicio de 2918, isso poderia pressagiar a implosao dos derivativos baseados nos ETFs de petroleo?

Um contrato futuro de petroleo compra 1000 barris de petroleo, entao o que um preco negativo de (menos)-$40 significa e que se poderia, teoricamente, receber os direitos de 1000 barris e, ao mesmo tempo, receber um pagamento de $40000. Convertendo isso em galoes, pode-se receber aproximadamente  42.000 galoes de petroleo bruto e receber $40.000 junto com o petroleo! Pense nisso, - para cada galao de petroleo bruto, voce poderia obter o petroleo bruto e tambem obter um dolar, desde que voce pudesse armazena-lo em algum lugar.

Para que nai fique salteando e gritando  que isso e loucura, saiba que nao e a primeira vez que nos estivemos nas condicoes de  ter que pagar alguem para comprar um objeto de valor que nao queriamos dispor naquele momento. No caso, presente, do petroleo, o culpado tem sido a incrivel excesso da oferta, combinado com pouco armazenamento sobressalente devido a dizimacao da demanda associada com a suspensao das atividades economicas por causa do Covid19. No entanto, em Franca e no Japao, os rendimentos dos titulos tem sido negativos faz alguns anos, e os investidores ja estao voluntariamente abrindo maos de dinheiro e pagando pelo privilegio de faze-lo. Essa "normalidade do desvio" esta se tornando muito comum agora em muitas classes de sativos. O excesso de oferta de liquidez levou os rendimentos dos titulos abaixo de zero. O excesso de oferta de petroleo levou seu preco abaixo de zero.

Poderiam esse dois fatos dispares, um da economia real (petroleo) e o outro da economia financeira de papel (mercados de titulos) estar conectados?

Penso que eles nao apenas estao profundamente conectados. mas carregam sinais de coisas estranhas a seguir, e a maneira como essa historia se desenrola provavelmente nao sera  agradavel para investidores de varejos em ETFs baseados em derivativos que sao o crack do investmento passivo.

Para compreender a evolucao de onde estamos hoje, temos que olhar para atras nao apenas vinte anos, mas talvez para o seculo passado. Apos a grande depressao de 1930, os govenos se engajaram em um esforco sem precedentes para aumentar a producao para que a seguranca economica por meio de  empregos consistentemente elevados pudesse ser garantida. Como a producao em prol da producao tornou-se primordial na economia dos EUA, os bens produzidos tiveram que ser consumidos. Nas palavras de John Kenneth Galbraith (The "Affluent Society"), onde nao havia necessidades, as necessidades tiveram que ser fabricadas por meio do marketing e da publicidade de produtos que eram graduados do luxo as necessidades. Para permitir o consumo daqueles que nao podiam comprar os bens de maneira confortavel, o emprestimo tinha de ser fascil e acessivel.

A medida que o emprestimo se tornou facil, uma enorme quantidade de divida foi criada e securitizada. Esta explosao da divida resultou em booms e colapsos impulsionados pela divida, ou o ciclo de credito, como testemunhado pela crise global de 2008-009 e, mais recentemente, a desalavancagem repentina e acentuada de marco de 2020. E os desastres da divida foram resolvidos com mais divida. O FED interveio na ultima vez, prometendo dar apoio tanto ao credito corporativo quanto ao lixo. Talvez os ativos financeiros e reais com retorno negativo sejam o fim do jogo natural de decadas de alavancagens acumuladas e um excesso de dinheiro e credito.

Entao, como o dinheiro barato e a alavancagem se relacionam com o preco negativo do petroleo?

Em um mercado movido a dividas, tudo e financeirizado para gerar retornos totais. Os retornos totais dependem dos retornos dos precos cada vez mais alto e tambem do "carry trade" Nos mercados de energia, os participantes do mercado financeiro podem criar uma "refinaria" sintetica comprando futuros de petroleo brutos e vendendo futuros de produtos refinados, como gasolina, ou oleo para aquecimento. Eles tambem podem jogar o "backwardation", ou seja, vender um contrato mais proximo do vencimento e comprar outro, ou contango, que faz o contrario. Isso, e claro, nao e um almoco gratis. Quando ha um choque de oferta, a curva de comodidades torna-se mais atrasadsa, e quando ha um choque de demanda, como estamos vendo agora, a curva torna-se mais ingreme ou supercontango. Embora vinte anos atras essas negociacoes de curvas fossem feitas por meios de acordos de swap (OTC) (over de counte/feito no balcao) limitados a profissionais, hoje, o acesso democratizado aos mercados de  futuros torna a construcao de uma refinaria sintetica ou a negociacao da curva tao simples quanto abrir uma conta no futuro. Uma conta de futuros, ou um ETF baseado em futuros, pode ser altamente alavancada, uma vez que os contratos futuros sao altamente alavancados. 

Produtos sinteticos baseados em futuros, como ETFs e ETNs, tornam o acesso especulativo aos mercados de derivativos convenientes para investidores de varejo. Por exemplo, o USOil Fund (USO) e um fundo que fornece exposicao ao mercado de petroleo em uma forma negociada em bolsa, mas uds contratos futuros como suas participacoes sujascentes. Quando novas contas do fundo sao criadas, o fundo tem que comprar contratos futuros. A medida que o fundo rola os contratos futuros, por exemplo, vendendo o contrato de maio para comprar  o contrato de junho, ele o faz de uma forma bastante insensivel ao preco. Isso e obviamente intencional e segue o prospecto subjacente ao produto que qualquer pessoa pode ler. O  verdadeiro risco para os agentes do fundo nao e a queda do preco, mas sim o risco legal de nao cumprir as condicoes especificadas no prospecto.

Dois anos atras, o inverso VIX ETN (XIV), que tambem era um agente que implementava negociacoes de volatilidade curta, implodiu espetacularmente quando a volatilidade disparou. O fundo, que se baseava em contratos futuros de VIX a descoberto, teve que compra-los no mercado, dando inicio a um ciclo em que devorou a si mesmo e a muito de seus pares. 

Obter a essencia? Em uma economia financeira, evoluimos sutilmente do consumo de produtos reais para produtos financeiros que estao sendo produzidos para satisfazer a demanda especulativas dos investidores. Quanto menor o rendimento dos investimentos tradicionais, maior sera a necessidade de alavancar os produtos e disponibiliza-los aos investidores de varejo. Esse autor antecipou a derrocada do VIX ETP, mas nao esperava que seus danos colaterais aparecessem em algo tao real quanto o mercado de petroleo. 

O que o desastre do Covid e o choque economico repentino fizeram foi expor a vulnerabilidade generalizada embutida de um sistema financeiro altamente alavancado com produtos criados para satisfazer as necessidades de retorno. Superficialmente, o fato do preco do petroleo ter ficado negativo parece apenas refletir o fato de que nao ha armazenamento de petroleo a qualquer preco. No entanto, o fato de os contratos financeiros futuros sobre o petroleo terem ficado muito abaixo do custo de armazenamento nos diz que as restricoes e a alavancagem criadas pelo sistema financeiro mercantilizados ampliaram esses atritos a niveis impenssaveis.

O mantra a ser lembrado a medida que o sistema financeiro alavancado se desfaz sob choques repetidos e que "tudo pode acontecer" e nenhum "preco e sagrado". Primeiro os rendimentos dos titulos, depois o VIX e agora o petroleo. O valor de qual ativo financeiro  ficara negativo em seguida? Neste mundo cada vez mais dificil de alavancar, nenhuma classe de ativos ou seguranca esta segura. Para os investidores, esse e um pensamento realmente preocupante


Desculpa ai quem ler, eu fiz essa traducao rapida mas nao tenho tempo para corrigi-la e ao mesmo tempo o assunto e importante. De manha eu postei o original em ingles que saiu no Forbes. John Amaral

Wednesday 14 April 2021

INFLACAO, A CRISE E A EXPANSAO ECONOMICA DO POS GUERRA/DAVID YAFFE&PAUL BULLOCK

 Este texto publicado na revista Revolutionary Communist n 3/4, Novembro 1979, e uma continuacao, desenvolvimento da Teoria Marxista da Crise de David Yaffe. Dado que a Parte I, Como a crise se apresenta, e ilustrada com materiasl britanico, eu vou resumi-la so traduzindo as partes teoricas que sao relevantes para compreender o texto. Tradutor John Amaral

INFLACAO, A CRISE  E A EXPANSAO ECONOMICA APOS A GUERRA

PARTE I - COMO A CRISE SE MANIFESTA

(A) INTRODUCAO

Em uma contribuicao editorial no finasl de Dezembro de 1974, o  The Economist, o jornal domestico da burguesia industrial, anunciou um tanto tarde o fim da expansao economica do pos-guerra. Ele disse aos seus leitores que a maior expansao economica da historia havia terminado, uma expansao que viu a producao industrial crescer 3 vezes e meia sem precedentes entre 1948 e 1973. Ele pintou um cenario ameacador de um crescente  forte desemprego a frente em uma crise mundial que poderia resultar na completa desintegracao da "estrutura social das democracias". A medida que o alto nivel desemprego e os cortes nos padroes de vida se generalizariam, os paises individuais, segundo The Economist, iriam se recuarem  em em condicoes de cerco a medida que as politicas protecionistas se tornassem generalizadas. O clima economico mundial iria tornar-se hostil: os capitais nacionais deveriam se preparar para defender  os seus interesses em casa e no exterior.[1]

Os instintos de classe da burguesia ditam essa virada nao sentimental e decisiva. A burguesia nao e mais capaz de compreender esse desenvolvimento do que de explicar a duracao da expansao economica do pos guerra. Mas seus reflexos nao foram prejudicados. Para a Gran Bretanha, o programa da burguesia e brutalmente obvio. Exige grande cortes nas despesas do Estado, um congelamento dos salarios e uma desvalorizacao da libra  esterlina (ja em curso). Ele exige uma restruturacao do trabalho e restricoes severas nos direitos sindicais.[2]. Em suma, e um programa que representa um serio ataque combinado a classe trabalhadora para forcar a queda dos salarios abaixo do valor da forca de trabalho em uma tentativa de restaurar a lucratividade e melhorar a posicao competitiva do capital britanico em um mercado mundial capitalista cada vez hostil. 

A expansao economica do pos guerra, expandindo macicamente a producao e a produtividade permitiu aos capitais nacionais repartir os lucros mundiais de acordo com suas posicoes competitivas relativas. Dai a relativa "paz" entre as nacoes capitalistas avancadas; "enquanto as coisas vao bem, a competicao afeta uma fraternidade operacional da classe capitalista"[3]. Porem, agora que nao se trata mais de repartir os lucros, mas de limitar as perdas, a competicao torna-se entao uma luta de irmaos hostis"[4], Cada capital nacional, alem de enfrentar sua propria classe trabalhadora, sera forcada a limitar suas perdas as custas de outros capitais nacionais. Protecionismo, controles de importacao e desvalorizacoes competitivas tornam-se politicas aceitaveis a medida que cada csapital tenta sobreviver.

A crise do capital mundial, portanto, se expressa tanto no nivel nacional quanto no internacional, como um conflito entre trabalho e capital e entre capital e capital. Cada classe  dominante tentara reunir o apoio de setores de sua propria classe trabalhadora, tentando dividir o movimento trabalhista nesta luta pela sobrevivencia. APELOS AO SACRIFICIO NACIONAL E A UNIDADE NACIONAL, OS APELOS AO CHAUVINISMO NACIONAL SERAO USADOS PARA COBRIR O OBJETIVO PRINCIPAL DO CAPITAL: "RESOLVER" ESTA CRISE MUNDIAL, DA MESMA FORMA QUE RESOLVERAM A ULTIMA, AS CUSTAS DOS TRABALHADORES.(grifos do tradutor)

Nessas condicoes, as tradicoes reformistas do movimento da classe trabalhadora, tradicoes fortalecidas enormementes  ao longo da expansao do pos guerra, fluiram espontaneamente ate o presente. Enquanto a classe dominante chama suas tropas para se armar, a classe trabalhadora e desarmada pelo despreparo politico e ideologico de nosso movimento. .............Enquanto a burguesia tenta limpor no pais os seus interesses de classe, colocando o peso da crise sobre a classe trabalhadora, a direcao sindical busca solucoes conjuntas, uma responsabilidasde compartilhada com a classe dominante para "superar a crise que o pais enfrenta"......os reformistas veem "o socialismo" realizados por meio de um capitalismo reformado, mais eficiente e mais justo....propoe programa nacional de investimentos...reconhecendo que para isso devemos inevitavelmente orientar nossa economia mista para fazer isso possivel.....[7]

E precisamente no momento em que o capitalismo entra em crise que ele mais precisa de uma direcao reformista da classe trabalhadora. O reformismo, como uma ideologia dentro do movimento da classe trabalhadora que ve o "socialismo" gradualmente evoluindo de um estado capitalista reformado, inevitavelmente amarra a classe trabalhadora a concepcoes ideologicas burguesas como "unidade nacional" e "crise nacional", ao mesmo tempo tentando reconciliar os conflitos de classe que inevitavelmente surgirao em tal contexto. PROGRAMA DE NACIONALIZACAO, COOPERASTIVAS DE TRABALHADORES, CONTROLE DEMOCRATICO NO LOCAL DE TRABALHO E OUTRAS MEDIDAS RADICAIS SURGEM ESPONTANEAMENTE A TONA EXATAMENTE EM PERIODOS DE AMEACA DE DESEMPREGO, DEMISSOES E FECHAMENTO DE FABRICAS. MAS COMO TAIS PROGRAMAS SAO CONCEBIDOS DENTRO DA ESTRUTURA DA PRODUCAO CAPITALISTA - A CHAMADA "ECONOMIA MISTA" - ELES EVENTUALMENTE RESTRINGEM A CLASSE  TRABALHADORA  AOS INTERESSES DA CLASSE DOMINANTE.(grifo do tradutor) 

Enquanto as relacoes capitalistas de producao permanecerem incontestaveis, serao semprre as "leis inexoraveis da economia" que fundamentam as rascionalizacoes daqueles, seja da "direita" ou da "esquerda". que buscam solucoes para os problemas enfrentados pela classe trabalhadora conforme  a crise se desenvolve.

........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

PARTE II A TEORIA MARXISTA DA CRISE

........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................(B) VALOR DINHEIRO E PRECO

Para explicar o movimento historico dos precos, devemos primeiro entender o preco. Para entender o preco, entretanto, e renecessario um entendimento da mercadoria dinheiro. Essa mercadoria, uma coisa, e a forma pela qual surge uma relacao social. A relacao social e ainda mais obscurecida quando a propria coisa e representada por um simbolo, mero papel impresso com o nome do dinheiro.

O desenvolvimento historico do dinheiro surge da natureza da propria mercadoria. A mercadoria e a forma social mais simples em que o produto do trabalho se apresenta na sociedade capitalista. A mercadoria aparece  tanto como valor de uso quanto valor de troca. Mas uma analise mais profunda revela que e tanto um valor de uso quanto um valor, isto e o produto do trabalho individual concreto e do trabalho abstrato em geral. Essa natureza contraditoria da mercadoria evolui para a duplicacao da mercadoria em mercadorias comuns e mercadoria-dinheiro.

Antes de reservar uma mercadoria particular como equivalente universal, isto e, como dinheiro, uma mercadoria expressaria o valor de outras mercadorias, enquanto as outras mercadorias, por sua vez, expressariam seu valor. A contradicao aqui era que os produtores individuais de mercadorias estabeleceram relacoes sociais diretas por meios de trocas dos produtos de seu trabalho individual privado. Com o crescimento da producao de mercadorias, esta contradicao entre o carater privado e social do trabalho encontra sua resolucao espontanea em reservando parte da forca de trabalho da sociedade para produzir a mercadoria dinheiro - a mercadoria universal - isto e, uma mercadoria que a personificacao do trabalho diretamente social. Varios trabalhos concretos assumiram historicamente esse papel, mas ele acabou recaindo sobre o produtor de ouro. A razao e que o ouro e uma materializacao adequada daquilo que e comum a todas as mercadorias - trabalho humano abstrato homogeneo. Agora temos, por um lado, mercadorias comuns em que o carater social do trabalho existe apenas latentemente e, por outro lado, a mercadoria-dinheiro que serve como a personificacao direta do trabalho social e, portanto, pode expressar e realizar o valor de todas as outras mercadorias. Os produtores individuais de mercadorias se relacionam nao diretamente por meio dos produtos de seu trabalho privado individual, mas indiretamente por meio da mercadoria-dinheiro. Este e um desenvolvimento necessario que surge com o surgimento da producao de mercadorias e permite o desenvolvimento posterior  dessa producao. A contradicao interna da mercadoria e resolvida, apenas para ser recriada em um nivel superior. 

A mercadoria especial, a mercadoria-dinheiro, o ouro, e o produto do trabalho social e, portanto, tem um valor. A magnitude de seu valor, como acontece com todas as outras mercadorias, e o tempo socialmente necessario para produzir uma dada quantidade dela. A magnitude dos valores das mercadorias com as quais e trocada passa entao ser expressa em uma quantidade dessa mercadoria-dinheiro - isto e, seus valores sao expresso no peso de uma certa quantia de ouro.

O nome monetario da quantidade de ouro que expressa o valor de troca da mercadoria pela qual e trocado e o preco dessa mercadoria. O preco e a forma fenomenal de uma relacao social que expressa a comensurabilidade das mercadorias fundadas em sua natureza comum como produto do trabalho abstrato. No entanto, as mercadorias trocam por dinheiro somente depois de  terem sido idealmente transformadas em precos,[53]. No estabelecimento do preco das mercadorias, a quantidade de dinheiro realmente disponivel nao tem importancia. As mercadorias sao primeiros transformadas em dinheiro, de maneira ideal, antes que a troca ocorra.[54]

A mercadoria-dinheiro nao pode ter um preco, pois isso tornaria necessaria, a existencia de uma segunda mercadoria para servir de dinheiro - uma medida dupla de valores.

O nome do dinheiro pode ser "separado" de sua base social. Por exemplo, qualquer coisa de qualidade, por exemplo florests virgem ou consciencia, que nao tem valor, pode ter um preco. Assim, adquire a forma de mercadoria. A forma de preco aqui esconde uma inconsistencia qualitativa, uma vez que deixa completamentre de expressar valor. Esse aspecto da forma preco nao sera considerado aqui.

(II) A QUANTIDADE DE DINHEIRO

E essencial estabelecer, neste nivel de abstracao, a relacao necessaria entre a quantidade de dinheiro e massa  de mercadoria que o circulam. Mais tarde, quando a producao capitalista  e tratada como um todo, onde o credito e levado em consideracao, a quantidade de dinheiro circulada pode ser totalmentre explicada.

Para estabelecer os principios basicos aqui, devemos examinar a simples circulacao de mercadorias e ignorar o credito. . Supondo, por enquanto, que o valor do ouro, a mercadoria-dinheiro, seja constante, im aumento geral nos precos das mercadorias so podem  resultar de um aumentos nos valores. Uma queda nos precos so pode resultar de uma queda nos valores por meio de aumentos na produtividade do trabalho. Se o valor do ouro cair, deve ocorrer um aumento proporcional no preco das mercadorias, pois mais ouro e necessario para expressar seus valores. Com o movimento no valor das mercadorias e do ouro, ocorre um movimento nos precos onde ocorre uma discrepancia entre as mudancas no valor da mercadoria e seu equivalente universal, o dinheiro.

Uma mudanca no valor da mercadoria dinheiro, desde que o valor das mercadorias fosse constante, nao afetaria suas funcoes como padrao de preco, uma vez que sao as proporcoes  relativas que importam aqui. Elas permaneceriam inalteradas apesar de um valor mais alto ou baixo do ouro, o preco em ouro das mercadorias apenas seriam mais baixos ou mais altos[55] Uma queda cada vez mais constante no valor do ouro assim significaria apenas  um preco em ouro mais alto, mas uma constancia geral nos precos relativos das mercadorias.[56]

A quantidade de dinheiro  necessaria em qualquer momento, dada uma velocidade constante de circulacao de dinheiro, depende do nivel dos precos das mercadorias, da quantidade  de mercadorias em circulacao e do valor da mercadoria-dinheiro.[57]. Uma maior velocidade de circulacao do dinheiro substitui sua quantidade. [58]. Isso e elementar, mas o nivel de precos e regularmente atribuido a quantidade de dinheiro que circula a qualquer momento, uma percepcao decorrente da suposicao absurda de que as mercadorias nao tem preco e o dinheiro nao tem valor, quando entram pela primeira vez em circulacao.[59]

"Isso e obvio, que os precos nao sao altos ou baixos porque a quantidade de dinheiro em circulacao e muito ou pouco, mas muito dinheiro ou pouco dinheiro circula porque os precos sao altos ou baixos, e tem mais, a velocidade da circulacao do dinheiro nao depende de sua quantidade, mas a quantidade do dinheiro em circulacao depende da velocidade desta...[60]

O precos das  mercadorias varia inversamente com o valor do dinheiro, e a quantidade de dinheiro varia diretamente com o preco das mercadorias, dada a velocidade constante da circulacao do dinheiro. Essa quantidade de dinheiro nao varia como os "monetaristas" sustentam por causa de sua funcao como meio de circulacao, mas porque ele e o padrao, de valor. Fica claro entao que o movimento do dinheiro expressa a circulacao de mercadorias, e  nao, como ela aparece, que a circulacao de mercadorias depende do movimento do dinheiro.[61]

Resumindo, se assumimos um valor fixo do ouro, e uma velocidade constante da circulacao do dinheiro, a quantidade de dinheiro e determinada pela soma dos precos a ser realizada. Se os precos sao dados, a soma dos precos depende da massa de mercadorias em circulacao; e se a massa de mercadorias em circulacao e constante, a quantidade de dinheiro em circulacao varia com as flutuacoes nos precos. Agora isso e verdade para o capital total independentemente se os precos refletem com precisao ou nao valor em caso individual - dado que e totalmente impossivel para o preco total expressar qualquer outra coisa diferente o valor total.

A concepcao elementar da determinacao da quantidade de dinheiro em circulacao deve ser desenvolvida agora. Historicamente, a massa de ouro e outros metais preciosos foi substituida como moeda comum por simbolos de papel. Tanto a aceitabilidade desses simbolos, quanto a necessidade de facilitar a expansao do capital em uma base diferente da massa restrita de metais preciosos, fundamentam esse desenvolvimento. O papel, que substituiu o ouro e a prata como moeda, e quase sem valor. A sua utilizacao entao, depende do seu reconhecimento social que assenta hoje na sua circulacao obrigatoria como papel-moeda inconversivel emitido pelo Estado. Esse papel-moeda so pode surgir com base no dinheiro como meio de circulacao.

"Na medida em que ,,,, (simbolos) realmente assume o lugar do ouro com a mesma quantidade, seu movimento esta sujeito as leis que regulam a moeda do dinheiro"[62]

E importante, porem, que a emissao de papel-moeda nao exceda em valor o ouro ou a prata que realmente circulariam se nao fosse substituidos por simbolos da mercadoria-dinheiro. Se excedesse "limite adequado", cairia, como diz Marx, em descredito geral; embora ainda represente apenas aquela quantidade de valores de ouro que e exigida pela circulacao de mercadorias. A possibilidade de inflacao e dada aqui no divorcio do papel-moeda e do dinheiro mercadoria. Mas essa possibilidade nao deve ser confundida com a causa. A causa esta em explicar como a possibilidade se torna realidade[63].

Se uma emissao de "dinheiro" em notas bancarias aumentasse alem de seu "limite adequado", a equivalencia legal das notas bancarias a um peso fixo de ouro (de valor constante) seris prejudicada por sua equivalencia real mais baixa. O papel representaria menos valor do que e declarado. Essa depreciacao do papel-moeda se expressaria em um aumento nos precos do papel-inflacao. A expansao artificial da oferta de papel moedas, que possibilita a compra de mercadorias antes do seu pagamento, levaria a desvalorizacao do papel moeda - demonstrando como ilusoria o poder do Estado de transformar papel em ouro pela  magia simples de suas impressoras.[64]

O que e importante aqui e que o uso de papel-moeda inconvertivel cria maiores dificuldades nas analises do funcionamento da lei do valor do que quando se trata de ouro-dinheiro. Uma mudanca no preco em papel das mercadorias esconde mais efetivamente do que uma mudanca nos precos do ouro, sua causa. Quer se trate de um aumento no valor das mercadorias causado pela diminuicao da produtividade, uma queda no valor do ouro ou uma expansao forcada na oferta de papel-moeda - tudo e indistinguivel no aumento do preco em papel. Esses proprios movimentos exigem explicacao.

(III)  A TRANSICAO DO PRECO SIMPLES PARA O PRECO DE PRODUCAO

Com a transicao da simples producao de mercadorias para a producao de mercadorias capitalistas, o valor aparece na forma fenomenal dos precos de producao. Assim como a forma de precos das mercadorias e uma forma em que as relacoes sociais sao expressas sob condicoes de producao de mercadorias simples, tambem os precos de producao sao a forma fenomenal pela qual as relacoes sociais sao expressas sob a producao de mercadorias capitalistas. A producao e realizada no capitalismo nao apenas para a troca, mas para produzir valor adicional, mais valia. Para a producao generalizada de mercadorias, a separacao necessaria de valor e sua forma fenomenal (preco) torna-se uma condicao para a acumulacao de capital dada uma taxa geral de lucro.

Sob a producao capitalista, capitais do mesmo tamanho exigem taxas de lucros iguais. Dada a taxa de exploracao, capitais com diferentes composicoes organicas adquirirao diferentes massas de mais valias - portanto, diferentes taxas de lucro. Por meio de sua separacao do valor, a forma do preco acarreta a possibilidade de uma incongruencia quantitativa com o valor da mercadoria individual. Isso permite que  varios capitais de magnitude iguais estabelecam precos que garantam que uma taxa media de lucro seja realizada. Os precos estarao acima ou abaixo do valor das mercadorias, ocasionando uma redistribuicao da mais valia entre os  produtores. Embora isso seja possivel apenas porque a forma de preco permite uma diferenca quantitativa entre magnitudes de valor e de precos, e necessario visto que e somente quando esses precos de producao sao formados que a acumulacao de capital pode continuar. A formacao desses precos de producao, traz um lucro industrial medio para todos os capitais da mesma magnitude. O limite real para essa redistribuicao da mais valia e o valor total produzido, que restringe os varios movimentos dos precos individuais das mercadorias, uma vez que o preco total so pode expressar o valor total.[65]

Os precos de producao nao sao entretanto, os precos finais das mercadorias no mercado. Eles sao apenas elos intermediarios na formacao dos precos finais. Eles serao ainda afetados pela operacao do capital mercantil e bancario que circula as mercadorias, e pelo aluguel, etc. Esses "precos finais" estao sujeitos as flutuacoes provocadas pelas condicoes de demanda de mercadorias individuais no mercado. Essas flutuacoes giram em torno do preco final, no longo prazo. Destas flutuacoes surgem as ideias confusas sobre as determinacoes de precos na mente burguesa.

(IV) DINHEIRO DE CREDITO

Hoje a principal forma de dinheiro e aquela baseada no credito. Isso decorre da funcao do dinheiro como meio de pagamento. E considerado aqui na medida em que afeta a quantidade de dinheiro em circulacao.

Os pagamentos na circulacao de mercadorias podem ser atrasados. Ou seja, ao comprar uma mercadoria antes de pagar por ela, o comprador recorre ao uso do credito. Nesse caso, presumimos que o vendedor se torna o credor, enquanto o comprador se torna um devedor. Aqui, o meio de pagamento so entra em circulacao depois que a mercadoria o deixa, o preco de vendedor e realizado como uma reivindicacao legal sobre o dinheiro. O  dinheiro funciona como uma medida de valor e um padrao do preco da mercadoria comprada, que se torna   a    obrigacao do devedor em um contrato. Aqui , o dinheiro e o meio ideal de compra, uma vez que a quantidade equivalente de dinheiro nao e colocada em circulacao.

Vemos entao que onde a massa de pagamentos esta atrasada - no caso do credito - e onde nenhum dinheiro realmente circula, o dinheiro atua idealmente apenas como uma medida de valor, como dinheiro de conta. Em geral, essas dividas se equilibram, de modo que, nos pagamentos reais, o dinheiro nao e agora um meio circulante, nem um agente transitorio de intercambio. Somente onde os pagamentos sao feito e que o dinheiro e uma forma independente da existencia do valor de troca. Esse uso do equivalente universal pelo qual o preco e expresso significa que os pagamentos ideais sao expandidos com a expansao das linhas de credito. O que deve ser lembradoaqui e que a soma de dinheiro corrente durante um periodo deve, 

"....dada a rapidez da moeda do meio circulante e dos meios de pagamento, (ser) igual a soma dos precos a serem realizados, mais a soma do pagamento a vencer, menos os pagamentos que se equilibram, menos, finalmente, o numero de circuitos em que a mesma moeda serfve por sua vez, como meio de circulacao e de pagamento."[68]

A massa de mercadorias em circulacao em um deteerminado periodo nao corresponde mais a massa de dinheiro corrente. O dinheiro que representa mercadorias ha muito fora de curculacao continua a ser corrente e circulam mercadorias cujo equivalente pode muito bem nao aparecer ate alguma data futura. Na verdade, as dividas contraidas a cada dia e os pagamentos devidos sao quantidades inconmensuraveis. Na pratica, a moeda e o papel-moeda sao relegados ao comercio varejista, enquanto a extensao do credito como divida permite a continuacao de grandes transacoes comerciais.

E apenas na esfera internacional de troca que o dinheiro adquire em toda a extensao seu carater de mercadoria cuja forma corporal e tambem a "encarnacao social imediata do trabalho humano abstrato" Aqui, o ouro continua sendo o meio de pagamentos internacionais, o dinheiro do mundo. Como a personificacao reconhecida da riqueza social, permite a transferencia de riqueza diretamente entre os paises. Internamente, e cada vez mais internacionalmentre, o dinheiro passa ser expresso com simbolos, e assim surgiram as nocoes erroneas de que e um simbolo. A aceitacao internacional do dolar como um simbolo monetario fortaleceu essa nocao, e uma onde de "planos" para eliminar o ouro, como dinheiro do mundo, se seguiu. A crenca de que o dinheiro e apenas um simbolo e ainda mais seria na esfera da circulacao do papel - onde o preco real e sua base real nao aparece em nenhum lugar, mas apenas ouro, moedas de metal, notas, letras de cambios e titulos

(C) TRABALHO PRODUTIVO E IMPRODUTIVO [67]

Essa distincao e central na obra de Marx, e nenhuma discussao sobre o papel da intervencao do Estado e possivel ate que essas categorias sejam clarificadas.

O conceito mais geral de trabalho produtivo e bem simples - e aplicavel a todos os modos sociais de trabalho humano. E apenas trabalho util, um certo gasto do qual sempre sera uma condicao necessaria para a existencia humana. Para determinar esse "trabalho produtivo em geral"[68], examinaremos a producao apenas do processo de trabalho, do ponto de vista do resultado, isto e, se e util ou nao.[69]. E a partir desse ponto que Marx comeca considerar o carater operativo do processo de trabalho, [70] a partir do qual restringe o conceito ao modo de producao particular, o capitalista. Aqui, a forca de trabalho e vista nao apenas do ponto de vista de seu resultado, um produto util, mas como um valor de uso produzido dentro de uma relacao social especifica. O trabalho produtivo para o capital nao produz simplesmente, mas produz valor e mais valia por meio da producao de mercadorias. Sob o capitalismo,

"Trabalhador so e produtivo, aquele trabalhador  que produz mais-valia para o capitalista e, portanto, trabalha para a auto expansao do capital"[71]

Enquanto a economia classica definia o trabalho produtivo dessa maneira, seu entendimento variava com suas diferentes concepcoes de valor. Nunca foi capaz de ir alem da compensacao da troca formal de capital e trabalho no mercado. A "troca" real, o consumo ou a forca de trabalho para fins de producao de valor e mais-valis nao foram apreendidos e, portanto, o trabalho produtivo nao foi devidamente concebido.

Para a definicao de trabalho produtivo, suas caracteristicas particulares sao irrelevantes. A especialidade do trabalhador nao tem importancia. O valor de uso produzido "pode ser do tipo mais futil"[72] O trabalho produtivo nao pode ser definido pelo retornos, seja o tipo ou a quantidade, do proprio trabalho.[73] E uma definicao de trabalho derivada nao de seu conteudo ou resultado individual, mas de sua forma social particular. Assim, a moral e os meritos de quaisquer de duas obras nada tem haver com a distincao.[74]. Como veremos, a natureza concreta particular do trabalho produtivo tem significado economico, como no caso da producao de luxo, devido a parte especial que tais produtos jogam no processo de reproducao. Mas esse significado nao importa para definir o trabalho produtivo em si. A forca de trabalho do trabalhador produtivo e consumida na producao de valor e mais-valia - seu valor de uso para o capital e a capacidade de produzir mais-valia. O capital variavel real e a forca de trabalho do trabalhador produtivo em acao.

Quando Marx definiu o trabalho produtivo, ele se preocupou em analizar a forca de trabalho consumida no processo de trabalho propriamente dito, a regulamentacao e o controle pela humanidade das reacoes materiais entre ela e a natureza. No entanto, a producao de mais-valia pode ocorrer no reino da producao de mercadorias imateriais, que nao se enquadra no processo de trabalho propriamente dito[75].

Trabalho improdutivo e o trabalho que nao produz valor e mais-valia. Embora todo trabalho produtivo seja trabalho assalariado livre, nem todo trabalho assalariado e produtivo. O trabalho improdutivo, como trabalho assalariado, nao produz as condicoes objetivas de sua possivel reproducao e expansao - sua absorbicao pela base do capital. A troca de forca de trabalho por receita distingue os servicos. Esse trabalho nao e a substancia do valor, mas apenas trabalho util para o consumidor. Segue-se dai que nenhuma mais-valia e produzida aqui, que os salarios nao fazem parte do capital variavel e que, portanto, o trabalho socialmente necessario nao e trabalhado. O trabalhador, entretanto, consumira as mercadorias necessarias para a sua reproducao[76]. Grande parte dessa mao-de-obra hoje fornece "servicos" por meio de empregos para o Estado. No entanto, como indicamos acima, nem todos os "servicos" sao prestados por trabalho improdutivo; a producao imaterial pode cair no dominio do trabalho produtivo.

Um caso diferente se apresenta com o trabalho que "...produz, treina. desenvolve, mantem ou reproduz a propria forca de trabalho[77].

A forca de trabalho e uma mercadoria unica. Onde o treinamento ocorre, o valor da forca de trabalho e elevado. Se este treinamento for realizado de forms capitalista, o trainee absolvera diretamente tanto o tempo de trabalho necessario quanto o excedente realizado pelo instrutor. Sua forca de trabalho contem, portanto, valor e mais-valia, que se apresenta como um preco mais alto para o comprador dessa forca de trabalho.

Os capitalistas, entretanto, podem se tornar independentes da forca de trabalho que contem mais-valia, mudando o processo de producao. Por essa razao, o Estado normalmente assumira essa esfera de "producao" e garantira que apenas o trabalho necessario seja execuado nela. Este trabalho de treinamento e uma parte do capital variavel, mas nao cria mais-valia. Como no caso da forca de trabalho despendida diretamente no elemento passivo do capital produtivo, e chamada de trabalho produtivo de um tipo especial. Se o aumento do custo do treinamento reduz ou nao a taxa de lucro, dependera se o aumento da produtividade resultante do treinamento e suficiente para compensar seus custos.

Voltando-nos para a forca de trabalho que mantem em vez de treinar os trabalhadores produtivos, novamente encontramos trabalho produtivo de um tipo especisal[78]. Neste caso, no entanto, o gasto desse trabalho, enquanto aumenta o capital variavel, nao pode compensar o custo adicional por meio de aumentos da produtividade. Em todos os casos, portanto, os gastos medicos com a classe trabalhadora reduzirao a taxa de lucro. Foi apenas a luta historica da classe trabalhadora que deu origem aos atuais niveis de gastos do Estado com saude.

O trabalho despendido na "educacaso" e "manutencao" do trabalho improdutivo e em si mesmo trabalho improdutivo e uma grande parte do setor estatal emprega esse trabalho. Para Harrison e Gough, todos os trabalhadores do Estado sao produtivos, incluindo a policia, seus salarios, como os dos trabalhadores produtivos, fazem parte do capital variavel, do qual podemos concluir que o policiamento dos trabalhadores esta inserido nas necessidades historicamente determinadas da classe trabalhadora. Brilhante![79]

Os trabalhadores assalariados empregados na esfera da circulacao sao improdutivos. Seu trabalho realiza, em vez de produzir mais-valia, transforma mercadorias em dinheiro e e um custo para o capital social. E o custo de realizacao dos valores existentes [80] e nao cria valor nem mais-valia. Envolve contabilidade, marketing, correspondencia etc., mas muitas vezes ests vinculado a funcoes como transporte e armazenamento, que estao diretamente relacionados com o processo de producao, uma conexao que e mal utilizada por aqueles que pretendem tratar a forca de trabalho utilizada na esfera da circulacao como produtivo.

Os custos incorridos pelo capital comercial e bancario atraem a mais-valia do capital produtivo. O capital na esfera da circulacao faz isso comprando mercadorias do capital produtivo abaixo de seus precos de producao e vendendo-as a esses precos. A exploracao da mao-de-obra de circulacao e lucrativa para o capital comercial, mas improdutiva para o capital total, uma vez que  a mao-de-obra de circulacao trabalha tempo nao remunerado para seu senhor, mas nao produz valor nem mais-valia.

Segue-se dai que, do ponto de vista do capital social total, a mais-valia e extraida de uma categoria de trabalhadores, os trabalhadores produtivos. A forca de trabalho dos trabalhadores em servicos e de circulacao tambem assume a forma de mercadoria, e trabaho assalariado, mas nao produz valor ou mais-valia. Finalmente, a forca de trabalho dos empregados do Estado que contribuem para a reproducao da mercadoria especial forca de trabalho, dos trabalhadores produtivos, e incluida no capital variasvel, mas nao produz mais-valia.

Embora os trabalhadores improdutivos sejam trabalhadores assalariados, a parcela dos "salarios" e dos "lucros" na renda nacional nao e uma indicacao da taxa de exploracao. E possivel que, se o emprego improdutivo estiver crescendo a uma taxa mais rapida do que o setor produtivo, os salarios totais como uma parcela das renda nacional possam crrescer e a taxa de exploracao ainda aumente. Isso e possivel porque os salarios dos trabalhadores improdutivos sao, na realidade, separados da mais valia.

Estamos agora em posicao de examinar a acumulacao.

(D) A LEI GERAL DE ACUMULACAO DE CAPITAL E A TEORIA DA CRISE

(I) - A CRESCENTE COMPOSICAO ORGANICA DO CAPITAL

A producao capitalista tem como objetivo e forca motriz a producao da maior quantidade de mais valia. A mais-valia e a diferenca entre o valor de trioca de trabalho (representando aquela parte da jornada de trabalho em que o trabalhador produz o equivalente de seus proprios meios de subsistencia, tempo de trabalho necessario) e sua capacidade produtiva (representando o dia total de trabalho). De modo que um aumento na produtividade do trabalho, visto capitalisticamente, nao faz sentido a menos que aumente a mais-valia, isto em diminua o valor da forca de trabalho ou o tempo necessario para sustentar e reproduzir os trabalhadores. Em outras palavras, a produtividade do trabalho e restringida pela necessidade de produzir valor e mais-valor, e limitada pela reproducao e auto-expansao do capital.

A luta de classe nao pode evitar a queda do valor da forca de trabalho (com o aumento da produtividade)[81], mas pode evitar que o valor caia na mesma relacao com o aumento da produtiividade. Ou seja, garantir que ocorra um aumento nos salarios reais (consumo de valor de uso) com aumento na produtividade ao mesmo tempo que um aumento na mais valia.

Embora, em casos excepcionais, a reproducao ampliada na mesma escala tecnologica seja possivel, em geral, a acumulacao "revoluciona completamente os processos tecnicos do trabalho"[82] Dado que a acumulacao continua sob condicoes de producao capitalista logo se depara com os limites da populacao trabalhadora existente, isto e, uma vez que a jornada normal de trabalho tem seus limites fisicos e sociais [83], uma transicao da producao de mais valia absoluta (extensao da jornada de trabalho) para o da mais-valia relativa (diminuindo a parte necessaria da jornada de trabalho por um aumento na produtividade social do trabalho) ocorre. Junto com essa mudanca, ocorre, geralmente, um aumento na intensidade do trabalho a medida que o capitalismo tenta obter mais valor por unidade de tempo (maior gasto de trabalho em um determinado tempo [84] do mesmo trabalhador. Tanto o aumento da produtividade quanto a maior intensidade do trabalho aumentam a massa de artigos produzidos em um determinado tempo e, portanto, encurtam a parte da jornada de trabalho necessaria para produzir os salarios dos trabalhadores. Na medida em que o aumento da intensidade do trabalho requer, como compensacao, um equivalente salario real crescente, nao tem efeito sobre a taxa de exploracao. Caso contrario, ela aumentara [85]. O aumento da intensidade do trabalho tambem tem limites fisicos e sociais, de modo qiue o principal disponivel para aumentar a mais-valia nas condicoes de producao capitalista desenvolvidas e aumentar a produtividade do trabalho, isto e, por meio da mudanca tecnica.

Aumentos  nas produtividade do trabalho do ponto de vista da producao material envolvem uma mudanca no que Marx chama de composicao tecnica do capital. Esta composicao e determinada pela relacao entre a massa dos meios de producao empregados, por um lado, e a massa de trabalho necessaria para o seu emprego, por outro"

Os aumentos de produtividade envolvendo aumentos na composicao tecnica do capital sao representados na producao capitalista por mudancas na composicao de valor do capital, isto e, a proporcao do capital constante, ou valor doas meios de producao, e capital variavel ou valor da forca de trabalho. Entre a composicao tecnica e de valor existe uma "correlacao estrita", Marx expressa essa relacao dizendo que:- "A composicao do valor, na medida em que e determinada pela sua composicao tecnica e espelha as mudancas desta (e chamnada) a composicao organica do capital"[87]

A importancia de compreender o processo de acumulacao tanto do lado material quanto do valor e crucial para a compreensao da teoria geral de Marx.

O aumento da massa dos meios de producao por trabalhador (aumento da composicao tecnica) nao e apenas uma premissa tecnica que entra na argumentacao de Marx em um estagio particular. E a expressao em termos gerais da unica maneira pela qual a produtividade do trabalho pode aumentar sob a producao capitalista, isto e, pela extensao da divisao social do trabalho. Este ultimo processo, acompanhado por um aumento da massa e do volume dos meios de producao, e tambem a base do argumento de Marx de que a composicao organica do capital na medida em que e determinada pela composicao tecnica aumentara, embora nao tao rapidamente, quanto a composicao tecnica, devido ao aumento da produtividade da mao de obra.

"Com o crescimento na proporcao do capital constante para o variavel, cresce tambem a produtividade do trabalho, as forcas produtivas criadas, com as quais opera o trabalho social. Como resultdo desta produtividade crescente do trabalho, no entanto, uma parte do capital constante existente e continuamente depreciado em valor, pois seu valor depende nao do tempo de trabslho que custa originalmente, mas do tempo de trabalho com o qual pode ser reproduzido e isso esta dominuindo continuamente a medida que a produtividade do trabalho aumenta. Embora, portanto, o valor do capital constante nao aumenta na proporcao do seu montante, ele aumenta porque seu montante aumenta ainda mais rapidamente do que seu valor cai"

Marx considerava um fato incontestavel, uma proposicao autoevidente ou tautologica[90], que a composicao organica do capital deveria aumentar. Mostrar que isdso nao foi uma mera afirmacao, mas decorre logicamente do proprio conceito de capital, sera a preocupacao do restante desta secao.

A compulsao de empregar maquinas, sob a producao capitalista, e de aumentar por estes meios a produtividade do trabalho e expressa na realidade pela competicao e a consequente necessidade de reduzir o custo da producao. Mas esta nao e a sua explicacao, que deve ser deduzida nos termos do metodo de Marx, do proprio conceito de capital e de sua relacao com o trabalho vivo, sem referencia a outros capitais [91]. O conceito de capital e contraditorio. De um lado, temos o capital como "valor em processo" como valor que tenta se expandir sem limites e, de outro lado, temos a populacao trabalhadora, a base limitada dessa expansao.

O capital, portanto, deve, por um lado, tentar tornar-se o mais independente possivel dessa base em seu processo de auto-expansao; ele tenta reduzir o tempo de trabalho necessario ao minimo, aumentando a produtividade do trabalho. Por outro lado, precisa aumentar a base de sua expansao, ou seja, a forca de trabalho disponivel para exploracao; isso significa aumentar simultaneamente a populacao ativa. Isso pode ser expresso de outra maneira. Dada a populacao ativa (em unidades de tempo de trabalho), ou seja, numero de dias de trabalho multiplicado pelo tempo por dia de trabalho) disponivel para a sociedade, entao a mais-valias so pode ser aumentada aumentando a produtividade do trabalho, ou seja, por uma reducao da populacao ativa (relativa). Da mmesma forma, suponha um determinado desenvolvimento das forcas produtivas, entao a mais-valia so pode ser aumentada aumentando a populacao trabalhadora disponivel, isto e, por um aumento na populacao trabalhadora (relativa). Marx entao argumenta que:-

"....a unidade dessas tendencias contraditorias, dai a contradicao viva, (vem) apenas com maquinario" [92].

A solucao dialetica para essa contradicao (sua remocao para um nivel superior) e aumentar a escala de producao por meio da substituicao do trabalho vivo pelo trabalho objetificado (morto) na forma de maquinaria.

"....a extensao quantitativa e a eficacia (intensidade) para o qual o capital e desenvolvido como capital fixo, indicam o grau geral em que o capital e desenvolvido como capital, como poder sobre o trabalho vivo, e para o qual conquistou o processo de producao como tal. Alem disso, no sentido de que expressa a acumulacao de forcas produtivas objetivadas e tambem de trabalho objetificados" [93].

O que tentamos mostrar a partir de um exame do conceito de capital e a necessidade de aumentar a divisao social do trabalho, por meio da aplicacao de maquinas, e, portanto, de substituir em escala crescente o trabalho vivo pelo trabalho objetificado (morto). Segue-se disso que a composicao tecnica do capital e, portanto, a composicao organica do capital deve aumentar no processo de producao capitalista, embora esta nao aumenta tao rapidamente quanto a primeira devido aos aumentos na produtividade do trabalho.

Isso e claramente expresso por Marx quando ele diz:

"Por mais que o uso de maquinas possa aumentar o sobretrabalho as custas do trabalho necessario, aumentando a produtividade do trabalho, e claro que ele atinge esse resultado apenas diminuindo o numero de trabalhadores empregados por uma determinada quantidade de capital. Ele converte o que era antes capital variavel, investindo na forca de trabalho, em maquinaria que, sendo capital constante nao produz, a mais valia..."[94]

A necessidade de estender continuamente e substituir o trabalho vivo objetivado pelo trabalho vivo e claramente expressa na condicao para a introducao de maquinario com o proposito de baratear um produto. Isto e, menos trabalho deve ser gasto na producao da maquina do que o trabalho (pago) (valor da forca de trabalho) que e substituido pelo emprego da maquina. O limite de uso da maquina e dado pela diferenca entre o valor da maquina e o valor da forca de trabalho por ela substituida. [95]

......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Se a populacao trabalhadora aumentasse, a acumulacao teria que ser muito mais rapida (maior do que o aumento da populacao trabalhadora) para satisfazer a condicao para a introducao de maquinas e as necessidades de expansao do capital. Portanto, uma condicao necessaria para a acumulacao de capital, dada uma produtividade crescente do trabalho e a producao de mais valia relativa, e uma composicao organica crescente do capital.

(II) - A TENDENCIA DA QUEDA DA TAXA DE LUCRO E A TEORIA DA CRISE

O que e inerente a producao capitalista para o capital, no seu processo de sua auto expansao, criar uma base cada vez maior para essa expansao, isto e, o proletariado [96], e ao mesmo tempo buscar aumentar a produtividade do trabalho social, que esta definido em movimento, uma quantidade constantemente crescente de meios de producao com menos gastos de forca de trabalho, leva a formacao do exercito industrial de reserva.

"As mesmas causas que desenvolvem o poder expansivo do capital, desenvolvem tambem a forca de trabalho a sua disposicao. A massa relativa do exercito industrial de reserva aumenta, portanto, com a energia potencial da riqueza"[97].

Marx chama isso de lei geral absoluta de acumulacao capitalista que, como todas as outras leis, diz ele, e modificada em seu funcionamento por muitas circunstancias. Essa lei e a expressao geral da natureza contraditoria da producao capitalistam do aumento da produtividade  social do trabalho sob o "poder do capital", O tamanho do exercito de reserva e relativo a taxa de acumulacao de capital. Durante os periodos de estagnacao e prosperidade media, ele pesa sobre a populacao trabalhadora e durante os periodos de rapida expansao, sendo um reservatorio de forca de trabalho, prejudica as "pretensoes" da forca de trabalho [98].

O processo de producao capitalista, de acumulacao e aumento da produtividade social do trabalho foi ate agora examinado por meio de uma analise de sua "essencia invisivel e desconhecida", O Aparecimento da mais valia e da taxa da mais valia na forma de lucro e da taxa de lucro e o proximo passo na analise.

Embora a taxa de lucro, portanto, difira numericamente da taxa de mais-valorm enquanto a mais valia e o lucro sao na verdade a mesma coisa e numericamente iguais, o lucro e, no entantom uma forma convertida de mais-valor, uma forma em que sua origem e o segredo de sus existencia e obscurecido e extinto. Com efeito, o lucro e a forma pela qual a mais-valia se apresenta a vista, e deve ser inicialmente despojada pela analise para revelar esta ultima.

A lei geral de acumulacao cspitalista do ponto de vista do capital (e do capitalista) se apresenta como uma tendencia de queda da taxa de lucro. Esta nao e uma relacao mecanica ou algebrica, mas a expressao da natureza contraditoria do processo de acumulacao do ponto de vista do capital.

O desenvolvimento da produtividade social do trabalho sob o capitalismo leva a uma diminuicao do valor das mercadorias em relacao ao seu valor de uso (elas sao produzidas com menos gastos de tempo de trabalho) junto com um aumento da massa de valores de uso. Uma vez que o valor contido em cada mercadoria diminui, o mesmo deve acontecer com seu preco. O aumento concominsante na composicao organica do capital significa que a massa dos meios de producao cresce mais rapido do que a massa de trabalho empregada do lado material, e do lado do valor, o capital constante cresce mais rapido do que o capital variavel. No entanto, devido ao aumento da produtividade do trabalho, a composicao do valor aumenta mais lentamente do que a composicao tecnica. Se a taxa de exploracao, a proporcao entre o excedente e o tempo de trabalho necessario permanecesse a mesma, o aumento na composicao organica do capital levaria a uma queda da taxa de lucro, uma vez que e apenas a parte variavel do capital que produz a mais-valia, enquanto a taxa de lucro e medida sobre os investimentos totais, ou seja, capital constante e variavel. Esta tendencia inerente a queda de lucro e chamada por Marx:

"a lei mais importante da economisa politica moderna e a mais essencial para compreender as relacoes mais dificeis. E a lei mais importante do ponto de vista historico.[100]

A lei, porem, nao se expressa de forma absoluta. Visto que o aumento na composicao organica do capital representa aumento na produtividade, a taxa de mais valia nao permanecera constante, mas sera aumentada porque o valor da massa de produtos que constitui o equivalente para o tempo de trabalho necessario e barateado. Isso e o resultado de um aumento na mais valia relativa.

"A tendencia de queda da taxa de lucro esta ligada a tendencia de aumento da taxa de mais valia e, portanto, a tendencia de aumento da taxa de exploracao do trabalho...Tanto o aumento da taxa de mais valia quanto a queda da taxa de lucro sao apenas formas especificas atraves das quais a produtividade crescente do trabalho e expressa sob o capitalismo.

No entanto, a tendencia, immanente ao processo de acumulacao, de aumento da taxa de mais valia, nao pode impedir a queda da taxa de lucro,

"a compensacao da reducao do numero de trabalhadores por meio de um aumento da exploracao tem certos limites intransponiveis. Pode, por este motivo, conter a queda da taxa de lucro, mas nao pode evita-la totalmente."[102]

A maid-valia e produzida pelo trabalho vivo e as limitacoes fisicas e sociais e as possibilidades que envolvem esse trabalho afetam a producao da mais-valia.

"Na medida em que o desenvolvimento das forcas produtivas reduz as proporcao paga do trabalho empregado, ele aumenta a mais-valia, porque aumentga sua taxa; mas, na medida em que reduz a massa total do trabalho empregado por um dado capital, reduz o fator do numero pelo qual a taxa de mais valia e multiplicada para obter sua massa. Dois trabalhadores, cada um trabalhando 12 horas por dia, nao podem produzir a mesma massa de mais-valor que 24 que trabalham apenas 2 horas, mesmo que pudessem viver do ar e, portanto, nao precisassem trabalhar para si proprios.:[103]

Embora o argumento nao seja claro sobre qual e o tempo de trabalho excedente dos vinte e quatro trabalhadores, o ponto e claro. Enquanto os meios de producao por homem empregado nao tem limite "finito", teoricamente, a massa da mais-valias produzida por um trabalhador tem um limite intransponivel, a saber, a duracao da jornada de trabalho. Alem disso, a medida que o capitalismo se desenvolve, torna-se cada vez mais divicil encurtar o tempo de trabalho necessario por meio de um aumento na produtividade.

"Quanto maior a mais-valia do capital antes do aumento da forca produtiva ...ou, quanto menor a parte fracionaria da jornada de trabalho que forma o equivalente do trabalhador, que expressa o trabalho necessario, menor e o aumento do excedente-valor que o capital obtem com o aumento da forca produtiva. Assim, quanto mais desenvolvido o capital ja e, mais drasticamente ele deve desenvolver a forca produtiva para se expandir apenas em menor proporcao, ou seja, para adicionar mais-valor - porque sua barreira sempre permanece a relacao entre a parte fracionaria do dia que expressa o trabalho necessario, e toda a jornada de trabalho. Ele so pode se mover dentro desse limites"[104]

Quanto menor a parte fracionaria da jornada de trabalho destinada ao trabalho necessario, ou quanto maior o sobretrabalho, menos pode qualquer aumento na produtividade aumentar o mais-valor. De fora, que quanto maior a taxa de exploracao (menos tempo requer para reproduzir o valor da forca de trabalho), maior deve ser o aumento da taxa de exploracao para aumentar a massa de lucros o suficiente para conter a queda da taxa de lucro.[105]

A tendencia de queda da taxa de lucro e uma expressao da dificuldade crescente em aumentar a taxa de exploracao o suficiente para satisfazer as necessidsades de auto expansao do capital a medida que o capotalismo progride.

O processo de acumulacao envolve aumento na composicao organica do capital, aumento na produtividade de trabalho e uma diminuicao relativa (aumento absoluto) na mao de obra empregada. Estes se expressam em uma tendencia de queda da taxa de lucro, embora a massa de lucros ou mais vslor aumente absolutamente e a taxa de exploracao aumente. Isso significa,

"O progresso do processo de producao e acumulacao deve, portanto, ser acompanhado por um crescimento da massa de sobre-trabalho disponivel e apropriado e, consequentemente por um crescimento da massa absoluta de lucro apropriada pelo capital social...As mesmas leis, entao produzira para o capital social um aumento na massa absoluta de lucro e uma taxa de lucro decrescente."[106]

Enquanto a acumulacao aumentar a massa de lucros o suficiente pars compensar a quedas da taxa de lucro, tudo esta bem. Esse e o caso se o capital cresce a uma taxa mais rapida do que a taxa de lucro cai. Isso apenas expressa o fato de que o capital de uma composicao organica superior deve crescer a uma taxa mais rapida do que a de uma composicao inferior para emprega-lo, quanto mais uma quantidade maior de forca de trabalho.[107]

Alem da tendencia iminente dentro do processo de acumulacao, para conter a tendencia da taxa de lucro cair por um aumento na massa de lucros, existem outras tendencias contrarias que podem ser aplicadas temporariamente. Sao eles o aumento da taxa de mais-valia pelo alongamento da jornada de trabalho ou intensificacao do trabalho, a reducao dos salarios abaixo de seu valor, o baratgeamento dos elementos do capital constante e o comercio exterior.[108]. A queda da taxa de lucro, portanto, nao e linear, mas em alguns periodos e apenas latente surgindo com mais ou menos forca em outros periodos e surgindo na forma de um ciclo de crise.

(III) - PRODUCAO DE LUXO E  A TAXA DE LUCRO

Os bens de luxo nao fazem parte das necessidades de consumo, ou seja, meios de subsistencia da classe trabahadora, nem contribuem direta ou indiretamente para a producao de bens de consumo. Os aumentos de produtividade nas industrias de luxo, portasnto, nao podem reduzir o valor das necessidades do consumidor, portanto nao podem produzir aquela forma de mais valia que resulta da produtividade crescente da industria como ta. O aumento da produtividade na industria de luxo nao pode, portanto, afetar a taxa de lucro na medida em que e determinada pela taxa de mais-valia[109]. A producao de luxo so pode influenciar a taxa de lucro na medida em que afeta a quantidade de mais valia ou a razao entre o capital variavel e o capital constante e o capital total.

Um aumento na composicao organica do capital no setor de luxo simplesmente acelerara a tendencia de queda da taxa de lucro, uma vez que nao pode aumentar a taxa de exploracao e, assim, aumentar a mais-valia relativa para conter parcialmente essa queda. A acumulacao de capital na industria de luxo aumenta a massa da mais valia, mas impede que a massa crescente da mais valia aumente o suficiente para compensar parcialmente a tendencia de queda da taxa de lucro. Uma proporcao crescente de capital na industria de luxo restringe aquela forma de cspital que pode aumentar a mais-valia relativa e, assim, compensar parcialmente a tendencia de queda da taxa de lucro [110].

Os lucros da producao de luxo entrasm na equalizacao da taxa geral de lucro tanto quanto em qualquer outra esfera [111]. Mas a natureza do valor de uso produzido tem um efeito particular no processo de reproducao do capital.

(IV) - CAPITAL NA ESFERA DE CIRCULACAO E A TAXA DE LUCRO

Meros custos de circulacao do ponto de vista da producao capitalista sao improdutivos. Embora o trabalho assalariado seja realizado e o capitalista que investe nessa esfera receba um lucro, nenhuma adicao a mais-valia, ao capital social total, e feita. Esses custos, necessarios para a realizacao dos lucros, reduzem a taxa geral de lucro do capital industrial. O emprego de trabalhadores comerciais, funcionarios de escritorios, etc aumenta as despesas do capitalista industrial e, portanto, a massa de capital a ser promovida sem aumentar diretamente a mais-valia. . Se os custos extra forem ?C, a taxa de lucro sera reduzida de s/c para s/c+?C. O trabalhador que trabalha na esfera comercial ainda executa trabalho nao remunerado e seu custo para o capitalistae o valor de sua forca de trabalho.

(V) - A CRISE CAPITALISTA

Segundo essa teoria, o capitalismo e sempre levado a uma produtividade cada vez mais alta do trabalho social, a fim de produzir mais-valia suficiente para a reproducao e expansao continuas do capital em crescimento. Mas esse processo e contraditorio.

A contradicao ... consiste em que o modo de producao capitalista tende a desenvolver as forcas produtivas absolutamente independente do valor e da mais valia contida nele e independentemente das condicoes sociais sob as quais a producao capitalista ocorre; ao passo que, por outro lado, tem como objetivo a preservacao do valor do capital existente e sua auto-expansao ate o limite maximo (isto e um cresciumento sempre acelerado desse valor)"

Quando a expansao da producao ultrapassa sua lucratividade, quando as condicoes existentes de exploracao impedem uma expandsao de caspital lucrativa adicional ou o que da no mesmo, um aumento da acumulacao nao aumenta a mais-valia ou lucros suficientemente, havera uma interrupcao ou estagnacao do processo de acumulacao. Essa interrupcao da acumulacao ou sua estagnacao constituem a crise capitalista. Representa uma superproducao de capital em relacao ao grau de exploracao. Do ponto de vista da lucratividade nesta fase, o capital e ao mmesmo tempo muiti pequeno e muito grande. E muito grande em relacao a mais-valia existente e nao e grande suficientge para superar a falta de mais-valia. O capital so foi superproduzido em relacao a lucratividade. Isso nao e uma superproducao material, pois o mundo a esse respeito esta subcapitalizado. Isso enfatiza mais uma vez a contradicao central entre a mercadoria como valor de uso e como valor de troca, entre a producao para o uso e para lucro. Alem da teoria marxiana do valor e da acumulacao (da qual a segunda e apenas um desenvolvimento mais concreto da primeira). nao existe nenhuma teoria separada da crise. Como disse Mattick:

A teoria do valor de Marx para o desenvolvimento do capital e ao mesmo tempo uma teoria geral da acumulacao e uma teoria especial ds crise; ou seja, nem um nem outro podem ser tratados separadamente"[113]

Embora a crise real deva ser explicada a partir do movimento real da producao capitalista, do credito e da competicao [114], sao as tendencias gerais do proprio processo de acumulacao e a tendencia de longo prazo da quedas da taxa de lucro que constituem a base dessa explicacao. Essas tendencias foram analizadas por meio de uma compreensao da "natureza interna do capital" A superproducao de capital surge do conflito entre o aumento e o desenvolvimento da produtividade do trabalho de um ponto de vista material e a estreita base e objetivo desse desenvolvimento nas condicoes capitalista de producao, isto e, a auto-expansao do capital

"A verdadeira barreira da producao capitalista e o proprio capital. E o fato de que o capital e sua auto-expansao aparecem como o ponto de partida e de encerramento, como o motivo e o objetivo da producao; que a producao e meramente producao para o capital, e nao vice-versa, os meios de producao meros meios para um sistema sempre em expansao do processo de vida para o beneficio da sociedade de produtores. Os meios - desenvolvimento  incondicional das forcas produtivas da sociedasde - entram continuamente em conflito com o fim limitado, a auto-expansao do capital existente"[115].

Mostramos a tendencia do capitalismo a superproducao e a crise, sem levar em consideracao a competicao. Na discussao ate agora, tambem foi assumido que todos os bens sao realmente vendidos pelo seu valor e nao ha dificuldades de realizacao; ou seja, a tendencia a crise e a superproducao pode ser deduzida independentmente dessas consideracoes. Para indicar por que as crises assumem a forma de explosoes periodicas recorrentes, com cada ciclo tendendo a ser mais severo que o anterior, precisamos discutir o ppapel da crise na restauracao das condicoes para uma nova expansao lucrativa. E aqui que a competicao se torna um fator decisivo em toda a discussao.

Com uma massa de mais-valia relativamente decrescente em relacao a massa crescente de capital constante, a competicao por essa massa decrescente torna-se um elemento vital no processo de acumulacao. A competicao e o resultado da luta por lucros e lucros extras que acompanham o aumento da produtividade do trabalho. Pois aqueles que estao introduzindo novos metodos de producao podem vender suas mercadorias produzidas mais baratas acima de seu preco de producao e abaixo de seu valor social (acima de seu valor individual) A competicao e a forca que equilibra os diferentes precos de producao a um novo valor medio social.

A competicao nao cria nemestabelece as leis da economia burguesa, mas apenas permite que elas se realizem ("a natureza interna como necessidade externa"), A competicao forca as leis do capital sobre os capitais individuais, para que a competicao possa generalizar uma queda na taxa de lucro para todos os capitais, mas essa queda tem que ser concebida antes da competicao e independentemente dela.

"...uma queda na taxa de lucro associada a acumulacao necessariamente leva a uma luta competitiva. A compensacao de uma queda na taxa de lucro por um aumento na massa de lucro aplica-se apenas ao capital social total e aos grandes capitalistas firmementes colocados. O novo capital adicional operando de forma independente nao goza de nenhuma dessas condicoes compensatorias. Ela aindsa deve vence-los e, portanto, uma queda na taxa de lucro provoca uma luta competitiva entre os capitalistas, e nao vice-versa"[116].

A competicao se destaca na situacao de crise. A crise, embora represente o fim do processo de acumulacao, e, no entanto, a pre-condicao para a sua continuacao a um nivel superior. Na crise, a lucratividade da producao capitalista e restaurada, em principio, de varias maneiras. Assumindo que nenhuma destruicao fisica do capital ocorra (seja por falta de uso ou abandono ou destruicao pela guerra), a mesma quantidade de valor de uso, de meios de producao, antes da crise representa um menor valor de troca de meios de producao apos a crise pela desvalorizacao do capital constante. No entanto, nem a taxa de mais valia nem a massa de mais valor sao afetadas no que se refere ao valor de uso inalterado co capital e, portanto, a sua capacidade produtiva inalterada. Consequentemente, a taxa de lucro aumentara porque a mesma quantidade de mais-valia se relaciona a um capital total inferior. Claramentge, isso so se mantem quando o processo expansionista comeca novamente e representa uma redistribuicao dos lucros (ou lucros potenciais) em favor dos capitalistas que conseguiram comprar capital "barato". Em segundo lugar, com a centralizacao e restruturacao do capital que ocorre na crise por meio da competicao, apenas os capitais mais produtivos sobrevivem e permitem uma maior produtividade social do trabalho com mercados aumentados. E esse mecanismo que diminui o valor da forca de trabalho e, assim, aumenta a taxa de exploracao e a massa de mais valia. Os grandes mercados permitem crescentes "economias de escala. Em terceiro lugar, essa restruturacao geralmente inclui o abandono de parte do capital constante menos lucrativo, e assim, libera o capital sobrevivente (em dinheiro ou na forma de mercadoria) para novosinvestimentos mais produtivos. Em quarto lugar, devido ao excesso de populacao relativo (aumento do desemprego, os salarios. que tendiam a ultrapassar o seu valor no periodo de prosperidade anterior a crise, estao agora temporariamwnte abaixo do seu valor. Alem disso, atraves de "racionalizacoes" na forca de trabalho, novos metodos e tecnicas de trabalho, novos metodoa de producao podem ser introduzidos sem "atritos" que teriam ocorridos antes do efeito "disciplinador" da crise sobre a forca de trabalho. Todos esses fatores juntos desempenham um papel na restauracao da lucratividade do capital e isso permite que o processo de acumulacao continue em um novo pantamar superior. A crise, portanto, remove a barreira temporaria para uma maior acumulacao, mas apenas para estabelecer novos limites em um nivel ainda mais alto. Explicamos porque e que a concorrencia so foi introduzida nessa fase. Com efeito, a concorrencia ocorre ao longo de todo o processo de producao, refletindo a busca de mais-valia e tendendo a equalizaras taxas de lucro, estabelecendo os precos de producao e expulsando os capitais menos eficientes do negocio. Mas e somente na crise que a competicao realmentye se torna "uma luta de vida e morte".

Saturday 3 April 2021

O CAPITALISMO DOS AIATOLAS IRANIANOS: OS IMPERIALISTAS SE APROXIMAM - REVOLUTIONARY COMMUNIST PAPER

 IRAN tem sido o focus atencao mundial por decadas. Desde 1980 tem o pressionado incessantemente chegando muitas vezes chegando ao brink da guerra. A guerra economica contra o Iran demonstra a determinacao dos imperialistas em esmagar o povo iraniano. Os imperialistas pavimentaram o caminho para intervencao no Oriente Medio com uma campanha sistematica de propaganda. Eles apresentam o povo da regiao como fanaticos, agressivos, terroristas visando preparar a classe operaria ocidental parsa guerras colonial.. Pode-se dizer que essa campanha de propaganda nao tem sido inteiramente em vao. O movimento trabalhista ocidentl aceita o que a midia propaga sobre o Iran e de demonsdtra pouca simatia ou solidariedade com as lutas do povo iraniano.
Trabalhadores consciente deve resistir a histeria burguesa sobre o Iran, E do interesse da propria classe operaria como um todo defender o povo iraniano e frustrar os planos imperialistas para  o Oriente Medio.  O objetivo desse artigo era contribuir para a luta contra a subjugacao imperialista daquela regiao. Publicado em Junho de 1980 foi parte dos documentos usados para treinamento teorico do quadro de militantes do Reolutionary Communist Party/Partido Comunista Revolucionario britanico. Eu o considero um dos mais uteis  documento teorico sobre a revolucao iraniana e que tem relevancia para o momento atual na America Latina e em particular o Brasil.

John Amaral, 10 de Abril  2021

OS "MARXISTAS E OS MULAS/MULLAHS

Nossa primeira tarefa e destruir o preconceito popular que  as convulsoes sociais no Iran sao resultados do fanatismo mulsumano e irracionalidade Arabe. Isto significa que devemos estar alerta contra as  analises vulgares  produzidas pela esquerda Ocidental. A "esquerda"  tende apresentar os eventos no Iran de uma maneira complemente empirica. Ela nao consegue fazer uma avaliacao materialista dos processos contraditorios que levaram a deposucao do Shah Rezai. Em vez de analisar as relacoes de classes no Iran a esquerda tende a escrever contra ou a favor do novo regime..
Assim, a Tendencia Spartacista internacional (iSt) diz que  a insurreicao popular que precedeu a queda do Shah foi trabalho de forcas das trevas. Ela falhou em distinguir entre o programa reacionario de Khomeini e as aspiracoes anti imperialistas das massas. Isto explica porque no final do dia o jornal spartacista Workers Vanguard acabou apoiando o Sha contra os trabalhadores:-
"O que precisamos e um partido que transcenda esse tipo de chauvinismo nacional e contrapoe um eixo de classe a instabilidade presente.. Na ausencia disso nos poderiamos mais facilmente justificar nosso apoio ao Shah, como a Uniao Sovietica esta fazendo, do que apoiar esses clericos reacionarios mulsumanos, porque se eles forem capaz de consolidar o poder, todas as evidencias  indicam que ele sera pior do que foi Indonesia para a classe operaria, os camponeses, para as ninorias nacionais e para as mulheres. [3]
O Workers Revolucionary Party tambem identificou Khomeini com as massas; mas para ele a vitoria de Khoumeini foi tao salutar como a Revolucao Bolshevique de 1917. Polemisando com o iSt, ele observou:- 
"As dimensoes da revolucao involvida sao indicadas pela nacionalizacao dos bancos e dos maiores baluartes do poder imperialista, as companias de petroleo. Se estes nao sao o que Lenin queria dizer por "setores chaves" da economia, o que que e?. Baseando em qualquer avaliacao   Marxista , poderiamos dizer que a reconstituicao dos relacionamentos imperialista requeriria uma contra revolucao em grande escala"[4]
Quanto ao International Marxist Gropup/IMG, a secao britasnica do Secretariado da Quarta Internacional de Ernest Mandel, seu jornal, publicou trechos de entrevistas com Khomeini para demonstrar o credencial anti imperialista dele e o comparou com o Padre Gapon das historias da revolucao russa de 1905'[5] Ele nos informou entusiaticamente que mulheres  sem usar veus participavam de discussoes politicas em sua residencia'6] Eventualmente o Secretario Geral do IMG se encontrou marchando com as massas gritando Deus e Grande nas ruas de Tehran[7]

O "MISTERIO" DE KHOMEINI

O Marxismo nao tem nada em comum com o impressionismo da esquerda radical. A importancia objetiva de Khomeini nao reside na esfera da religiao mas no fato de  que ele e o homem para restabelecer o poder burgues no Iran.. Sua denunciacao dos operarios grevistas, protestos de mmanifestantes e o Marxismo demonstra que sua preocupacoes sao priariamente secular. Sei programa politico economico e capitalista e a burguesia internacional o reconhececomo tal. Comentando sobre as nacionalizacoes que Khomeini fez no verao de 1979 - nacionalizacoes que a esquerda radical interpretou como sendo revolucionarias - O Financial Times observou varios banqueiros em Londres sentiram que as nacionalizacoes eram "sinal encorajador", ja que elas indicavam que o governo estava "assumindo visivelmente responsabilidade" do sistema bancario que se encontrava "em completo caos"[8]
Os imperialistas compreendem que o regime de Khomeini nao e anti capitalista. O que os preocupam e o fato que a deposicao do Shah liberou forcas que eles podem nao controlar. O regime de Khomeini so pode sobreviver com apoio popular. No entanto as massas apoiam Khomeini na medida que ele reflete suas aspiracoes, nao de uma vontade de reinforcar o dominio do capital. Esta e a fonte da tensao eentre o regime e as massas, Khomeini deve continuar fazer barrulhos anti imperialista se ele nao querer perder o controle do movimento popular que ele domina.
A instabilidade cada vez maior no Oriente Medio oferece aos imperialistas nenhum tempo para perder. Eles nao pode esperar por Khomeini consilidar o poder burgues. Enquanto o resultado das lutas de classes no Iran nao for decidido, os imperialistas estarao sempre a espera para assumir eles mesmos o controle. O conflito entre o capitalismo iraniano e as massas e os imperialistas estao muldando os eventos no Iran, E esse conflito que analisaremos a seguir.

NOTAS

1.  Business Week, 17 Dezembro 1979, p116.
2.  Citado no The Guardian, 23 Novembro 1979.
3.   Workers Vanguard, 5 Janeiro 1979, enfase nossa
4.  A Dragstedt, Os Espartacistas e a Revolucao Iraniana(em ingles) Labour Review,  N. 6,                  Novembro 1979 p331
5.  Socialist Challenge, 9 Novembro 1978
6.  Socialist Challenge, 18 Novembro 1978
7.  Ver sua versao do Fevereiro de 1979, a queda do governo de Bakhtiar na Insurreicao em 
      em Thehran, (em ingles), International Marxist Group, London 1979
8.  Financial Times, 9 Junho 1979.

OITENTA ANOS DE SERVIDAO  -  IMPERIALISMO  E REVISIONISMO

Durante o seculo XX o desenvolvimento do capitalismo no Iran foi limitado pela posicao dominantes das nacoes imperialistas na economia mundial. A posicao subordinada do Iran na divisao internacional do trabalho nao previniu o desenvolvimento de relacoes capitalistas e acumulacao de capital. Contudo, ela tem reduzido a base para acumulacao de capital o fez extremamente vulneravel as flutuascoes ciclicas da economia mundial. Tentativas de superar o carater atrasado das relacoes capitalistas foram incessantemente bloqueadas pelo relacionamento do Iran com os principais poderes imperialistas.
Da politica protecionista de Reza Shah ao nacionalismo economico de Mossadeg e deste  ao regime estabelecido por Khomeini a burguesia Iraniana tentou estabelecer uma condicao viavel para acumulacao capitalista. As antigas estrategias nacionalistas foram  abandonadas em favor de acomodacao com o Imperialismo apos a derrubada do governo de Mossadeg. De fato o periodo de maior sucesso de desenvolvimento capitalista - a decada de 1960 - foi baseado no  relacionamento estreito que a familia real Pahlavi desenvolveu com os EUA. Esse relacionamento resultou na integracao do Iran na economia mundial e na sua completa subordinacao ao Imperialismo subordinacao. Junto com varios outros paises economicamente atrasados - Brasil, Coreia do Sul, Taiwan - o capitalismo Iraniano foi capaz de aproveitar da longa expansao  da economia mundial apos a Segunda Guerra Mundial.
As forcas de producao no Iran e outros paises economicamente atrasados expandiu tao rapido durante esse periodo que various economistas esquerdistas radicais podiam ignorar a influencia dominante do Imperialismo. Michael Kidron, um dos principais teoricos do Socialismo Internacional (os antencesores do Socialist Workers Party/Partido Socialistas dos Trabalhadores/SWP,  anunciava que "nos nao temos mais imperialismo mas ainda temos capitalismo"[9] E em um artigo que ainda continua com tendo grande influencias nos circulos reformistas, Bill Warren sustentava que obstaculos para desenvolvimento capitalista no "Terceiro Mundo" nao se originou no que ele denominou "relacionamento imperialista-Terceiro Mundo cirrente" mas "quase inteiramente por causa de contradicoes internas"[10]. De fato para Warren no seu todo o impacto do imperialismo nos paises capitalistas atrasados tem se constituido uma forca progressiva que favoreceu a industrializacao deles.  O MESMO ENFOQUE IMPRESSIONISTA CARACTERIZA OS ESCRITOS DE ERNEST MANDEL(minha enfase J. Amaral) Apos o aumento nos precos do petroleo de 1973 e o surgimento das receitas petrodollares para os paises da OPEP, Mandel anunciou o surgimento do "Capital Funanceiro  Iraniano"[11]. Em outras palavras Iran agora havia tornado um pais imperialista.
Hoje, o colapso do regime do Shah e a guerra economica de Carter demonstra que o Iran nem havia se tornado um pais imperialista nem havia escapado dos efeitos da dominacao imperialista. Apesar de um rapido crescimento nas forcas de producao, Iran nao poderia transcender seu atraso economico ou sua condicao de pais subordinado na economia mundial. 
Enquanto alguns escritores ignoraram o impacto do Imperialismo sobre o Iran, outros atribuiram ao capitalismo nativo iraniano uma missao progressista. Na decada de 1970 a percepcao dominante na esquerda Iraniana era que o pais deles nao era propriamente um pais capitalista, mas uma mistura de "modos de producao" diferentes ou capitalismo "dependente". Esse enfoque confundia a natureza atrasada do capitalismo iraniano com outra coisa. Suas analises eram parciais e falharam em avaliar o movimento contraditorio do proprio capital Iraniano. Essa analise populistas e na realidade uma imagem espelho confundida das teses de Warren e outros semelhantes. Enquanto Warren apresentava uma imagem positiva do imperialismo, secoes da esquerda Iraniana apresentavam uma imagem igualmente positiva  do capitalismo deles.  Assim o problema passou ser nao DOMINACAO CAPITALISTA mas DOMINACAO ESTRANGEIRA. Bizhan Jazani, um dos principais teoricos do grupo guerrilheiro Fedain, sustentava:- 
"Dominacao estrangeira forma uma parte importante no  sistema de exploracao prevalecente no Iran, e desde que nem todo os exploradores e proprietarios de capital interno dependem dsa dominacao estrangeira .... a burguesia nacional ainda que fraca, e contra a continuacao e o fortalecimento da dominacao estrangeira e a burguesia compradora....Consequentemente segue-se que as contradicoes entre proletariado e a burguesia, nao pode ser a contradicao principal no sistema prevalecente no Iran"[12]

Essa analise vulgar, com sua hierarquia de contradicoes, falhou em  em reconhecer a FORMA e o CONTEUDO da contradicao entre trabalho e capital em um pais capitalista atrasado. Essa contradicao nao pode ser contraposta a  luta anti imperialista porque nao existe uma ditincao logica entre as duas. Em qualquer passo a frentre positivo as massas Iranianas enfrenta nao somente as propria burguesia Iraniana mas tambem o poder do imperialismo. A luta do proletariado assume a forma de um movimento anti imperialista porque a conservacao das relacoes capitalista no Iran necessita uma intervencao ativa do imperialismo. O problema nao e "dominacao estrangeira" em si, mas a forca social do capital. A analise cientifica do capitalismo no Iran e indispenssvel para o avanco das lutas de classes no Oriente Medio. As teorias vulgares de "dependencia"  tem justificado a politica de colaboracao de classes com todas suas consequencias desastrosas[13] A seguir nos analisaremos os estagios diferentes da acumulacao de capital no Iran e ao discutir o estado Iraniano vamos trazer a tona o carater contraditorio desse processo.

A EXPERIENCIA PROTECIONISTA

Japao era o ultimo pais capitalista superar seu atraso economico atrsves de uma politica  rigorosa de auto suficiencia e protecionismo. Na epoca que o Iran tentou  reduzir o dominio que os capitalistas estrangeiros exerciam sobre sua economia e especial seus recursos petroliferos[14, essa estrategia ja nao bastava para estimular a expansao do capital.

REZA SHAH  ASSENTA OS FUNDAMENTOS
NA decada de 1920, Reza Shah, o pai do recentemente deposto monarca, tentou usar o poder do estado para estimular desenvolvimento capitalista. Ele enfrentava obstaculos formidaveis: inexistencia de infra estrutura, estagnacao na agricultura e uma classe atrasada de latifundiarios e comerciantes.
Reza Shah acao contra os latifundiacrios e outras camadas sociais atrasadas era arriscada devido a fragilidade de sua propria base de poder. Como resultado sua politica falhou em transformar as camadas dominantes da sociedade em um gripo de camponeses e industrialistas capitalistas. Reza Shah sentia-se com maior confianca em extender as atividades economicas do estado. Ele criou monopolios estatais altamente subsidiados para encourajar a producao de produtos de consumo, como acucar, cha e algidao. Depois juta, arroz e tapetes tambem foram colocados sob o controle do estado.[15]
O governo tentou criar as condicoes que permitiria a industria florecer. Importacao foi altamente controlada e impos rigido restricao no consumo das classes trabalhadora[16]. Em 1933 Reza Shah negociou um aumento  na receita  do petroleo com a Anglo Iranian Oil Company (AIOC0. Essas receitas fornecerasm financas para os projetos infraestrutural e de manufacturacao.
A politica de Reza Shah leveou ao estabelecimento de varias fabricas de testeis, processamento de alimentos e para exploracao e uso de madeiras e minerios [17]. Contudo, os investimentos estatais e a protecao contra competicao estrangeira provaram incapaz de superar a estagnacao industrial: pouquissimas dessas novas fsabricas eram lucrativas.[18] Baixa qualidade, alto custo e irregularidades no fornecimento domestico de produtos  garantiu que a demanda para produtos importados permaneceu alta como sempre tinha sido. Quotas somente encourajavam contrabandistas e as tentativas do governo controlar o mercado negro usando variacoes nas quotas cusaram confusao e nao ajudou em nada superar o problema.
Na ausencia de uma burguesia forte Reza Shah estava dependente de assistencia estraangeira para a conservacao de relacoes caspitalistas. Quando seu apelo para apoio economico foi ignorado pelo Governo Nacional Britanico enterrado em crise na metade da decada de 1930 ele foi atras de outros imperialistas para ajuda. Hitler ofereceu termos comerciais atrativo e logo Alemanha se tornou o principal parceiro economico do Iran.[19] Entretanto foi a alianca de Reza Shah com Hitler que levou a sua queda no comeco da Segunda Guerra Mundial. Os aliados necessitavam salvaguardar as linhas de suprimento de petroleo para a Uniao Sovietica e tambem controlar os campos petroliferos do Iran. Uma operacao combinada Anglo-Russa invadiu Iran e forcou reza Shah ao exilio, deixando seu filho Mohammed Reza Shah assumir como o novo Shah do Iran
A Segunda Guerra Mundial pos  no fim nas tentativas experimentais capitalistas do Iran. As industrias estatais foram paralizadas. Pecas nao podiam ser encontradas no estrangeiro e substituicoes para as maquinas nao estavam disponiveis. Qualquer que tenha sido  as limitacoes do desenvolvimento industrial sob Reza Shah, a expansao do aparelho do estado sob seu governo teve importantes consequencias de longo termo. A reorganizacao da administracao do estsdo, o estabelecimento de um exercito permanente, a introducso de novas leis regulando as atividsades economicas, o estabelecimento da Camara de Comercio e a expansao da educacao criou as condicoes para a subsequente intervencao em larga escala do estado na economia Iranian[20]

A SOLUCAO NACIONAL DE MOSSADEGH

Como Reza Shah, o Primeiro Ministro radical Mohammed Mossadeg que chegou ao poder em 1951 queria resolver os problemas economicos Iranianos com um nacionalismo economico.. Mas, contrario a Reza, Mossadegh percebeu quwe era necessario mobilizar apoio popular para sua estrategia. Somente dessa maneira poderia o capitalismo Iraniano ser fortalecido nos seus negocios com o Imperialismo.
No periodo entre a retirada dos Aliados no fim da guerra e o estabelecimento do regime de Mossadegh uma tensao  intensa desenvolveu entre os emprendedores Iranianos e o capital estrangeiro. Os anos apos a invasao doa Aliados havia experimentado um crescimento sem prescedente entre os bazaaris e a pequena industria.. As condicoes peculiares durante a guerra permitiu um grande crescimento entre aqueles setores servindo e suprindo as forcas armadas no pais.[21]. Esse fato, junto com a promessa  ajuda economica sob os termos do Acordo de Tearan de 1943 para depois que a guerra terminar, criou um sentimento forte de otimismo entre a pequena burguesia Iraniana.
Contudo, as aspiracoes da pequena burguesia chocavam com os interesses dos Imperialistas. Quando a guerra terminou um projeto de desenvolvimento foi comissionado da firms Morrinson Knudsen International. Um Comite de Planejamento e mais tarde a Organizacao de Planejamento forasm estbelecidos para implementar o projeto.[22] Isso requeria pelo menos $150 milhoes de dolares. Mas os emprestimos tao esperados nunca se materializou porque os imperialismo Norte Americano considerava Iran um mais muito instavel para arriscar investimento.[23] Como uma recusa final, o Shah retornou de maos vazias quando fez uma visita aos EUA em 1949, com o conselho para implementar reformas agraria.[24]
Foi a ausencia de qualquer apoio serio estrangeiro que forcou a pequena burguesia Iraniana e profissionais classes medias embarcar no caminho do nacionalismo economico. Foi nesse contexto que Mohammed Mossadegh estabeleceu a FRENTE NACIONAL [25] em 1949 e comecou a campanha para nacionalizacao do petroleo, e num senso mais amplo, para independencia economica.[26] Ele logo conseguiu apoio popular para sua estrategia em todas camadas sociais . Sua denunciacao da interferencia Britanica em particular encontrou forte ressonancia entre as massas.
Em promovendo a nacionalizacao Mossadegh acreditava que ele teria pouco problemas. Ele acreditava que o Ocidente precisava petroleo Iraniano e portanto qualquer acao retaliatoria seria de curta duracao[27] Quando o Primeiro Ministro pro Shah Razmara foi assassinado por religiosos fanaticos em Marco de 1951 por ter negociado com a Gran Bretanha, o parlamento do Iran, o Majlis, rapidamente aceitou as propostas  de nacionalizacao e Mossadegh foi eleito Primeiro Ministro no mmes seguinte. O Majlis votou a desapropriacao de todas as propriedades
do AIOC no Iran. Em retorno AIOC fechou a gigantesca refinaria de Abadan. Sob enorme pressao popular o Majlis votou a nacionalizacao em Junho de 1951.[29]
Mossadegh tinha muitas razoes para acreditar que sua posicao era forte. Ele recebeu encourajamento tacito dos EUA que queria suplantar o papel da Gran Bretanha no Iran. Quando o Governo Trabalhista Britanico respondeu as nacionalizacoes despachando tropas para Ciprus e instituindo bloqueio economico, ele ainda pensava que isso iria durar pouco tempo. Ele estasvs completamente enganado. Arabia Saudista ja havia ultrapassado o pico da producao Iraniana de petroleo em 1951. e Kuwait fez o mesmo em Janeiro de 1952.[30]AIOC transferiu sua operacao de extracao de oleo para o Iraq e Kuwait com pouqquissima perda de producso [31]. Iran, de outro lado,nao possuia nem mesmo um navio tanque petroleiro. Sua producao de petroleo despencou para quase zero conforme o boicote Britanico, aderido pelas companias Norte Americanas, comecaram a surtir efeito[32]
No entanto Mossadegh nao se sentia afetado por isso. O bloqueio economico significava que muitas industrias menores indigenas desfrutaram um resurgimento temporario.[33] Ao mesmo tempo a crescente burguesia nacional e uma classe operaria mais militante forcsva Mossadegh intensificar seus ataques ao Shah, a Justica e a aristocracia latifundiaria. Em resposta a essa pressao Mossadegh, um liberal. foi forcado se tornar cada vez mais ditatorial, exigindo poderes extraordinarios por seis meses em Julho de 1952 e, depois de algumas dificuldades conseguindo-os totalmente [34]

O FRACASSO DO NACIONALISMO ECONOMICO

Usando os novos poderes que lhe foi dsdo Mosadegh introduziu e implementou um programa de reforma radical, principalmente para acalmar a classe operaria[35] que era, nesse momento,, seu principal apoiador e para cimentar esse apoio entre as massas.[36] Contudo, esses passos fe-lo perder apoio entre as pequena burguesia e as classes medias. Essas classes haviam unidos com Mossadegh em oposicao ao papel da Gran Bretanha no Iran e contra o estado autoritario do Shah. Quando essas questoes foram resolvidas, a base de apoio de Mossadegh comecou se fragmentar.[37]
Mais importante de toda essaa desercoes foi a do Ayatola Kashani e seus apoiadores no Mujaheddin-i-Islam em Janeiro de 1953. Kashani, que havia declarado que se o petroleo fosse nacionalizado nao haveria necessidade para a reforma agraria,[38] rompeu com Mossadegh por causa do programa de reformas juridicas e propostas para um sistema moderno de educacao . Embora Kashani nao levou a maioria dos lideres religiosos das guilda no bazaar com ele, seu popularidade entre os bazzares menores tradicionais fez sua desercao ao Shah fator decisivo.[39]
Numa escala mais ampla, quase tudo da estrstegia imperialista dos EUA estsvs produzindo frutos. Depois da Segunds Guerra Mundial os EUA assumiram quaswe todo o papel do imperialismo Britanico no Oriente Medio e agora era o poder dominante na regiao. Iran era um dos poucos pais onde esse nao era o caso. Ate 1951 Gra Bretanha tinha  tido direitos exclusivos sobre o petroleo Iraniano. O apoio inicial por Mossadegh foi designado para enfraquecer a influencia Britanica no Iran e adquirir uma fatia na concecao de direitos de explorar o petroleo. A segunda parte dessa estrategia, isolar Mossadegh,, foi conseguida sem muita dificuldade. Mas a terceira parte, suplantar Gran Bretanha como o principal poder economico na regiao, necessitava remover Mossadegh. Foi para esse fim que os EUA, depois dos levantes de Julho de 1952, se  dedicou.
Mossadegh  inicialmente nao se preocupou muito com as desercoes doa FN. Ele reconhecia que a principal ameaca ao seu regime era do Exercito.[40].  Sua proposta para transferir o controle do Exercito do Shah para o Primeiro Ministro provocou a crise que o derrubou. Nao conseguindo o apoio do dos deputados do Majlis ele se encontrava com dificuldades cada vez maior. Em Junho ele apelou a Eisenhower por ajuda mais foi rejeitado. Por esse momento a oposicao tinha se formado. Ela consistia do Judiciario, generais do Exercito, latifundiarios, grandes homens de negocios e uma secao do clero. Seu unico apoio realmente consistente vinha da classe operaria e, tardiamente do partido comunista pro-Soviet Tudeh.
Frente a essa oposicao generalizada Mossadegh se encontrava cada vez mais isolado. O golpe de Agosto de 1953 que retornou o poder pos  fim a tentativa pequeno burguesa  nacionalista de desenvolver a economia  frente a oposicao imperialista. O imperialismo Norte Americano alcancou seu objetivo de obter uma fatia da produao do petroleo iraniano. Um novo acordo assinado em 1954  lhe concedeu 40% ds concecao. AIOC (agora British Petroleum) agora tinha 40% e os outros 10% foi dividido entre companias menores.[41] 
A estrategia de Mossadegh estavsa destinado ao fracasso porque ele nao conseguia mediar os interesses de diferentes classes no Iran. A burguesia era muito fraca para enfrentar o Imperialismo e por isso Mossadegh teve que depender do apoio da classe trabalhadora. para implementar seu programa politico. Mas as concessoes que Mossadegh fez a sua base na classe operaria apena enfureceu outras secoes da sociedade. Dai a razao ele nao ousar ofender os latifundiarios implementando reformas agrarias.[42] A maioria das classes medias e pequena burguesia logo se deram conta que mobilizacao das massas contra o imperialismo eventualmente ameacaria seus interesses. Eles preferiram optar para um acordo com o o imperialismo em vez de apoiar qualquer ameaca radical a sua suas posicoes de classe.. Imperialismo nao perdeu tempo em agradecer. Assim que a producao de oleo foi restsabelecidsa emprestimos massivos Norte Americanos fluiram para o Iran.[43] Politica Economica outra vez entrou em linha com as necessidsdes do Imperialismo.

NOTA

9.  M Kidron, International capitalism", International Socialism n 61,  June 1973, p. 16
10.  B. Warren, "Imperialism and capitalism industrialization", New Left Review, n 81, September 1973, p4
11.  E. Mandel. "An Arabe and Iranian Finance Capital emerges", Intercontinental Press, 4 November 1974.
12.  B Jazani, The socio-economic analysis of a dependent capitalist state, The /Committee, London, 1973, p90.
13.  Sob as golpes sofridos apos o regime de Khomeini se firmou no poder a esquerda Iraniana comecou reavaliar suas avaliacoes positivas da assim chamada "burguesia nacional". Os Fedains observou: "na epoca atual a luta contra o Imperialismo nao pode ser separada da luta contra o sistema capitalista" Ver KAR (Labour), London, Janeiro 1980. Infelizmente esse reconhecimento nao estimulou o desenvolvimento de teoria revolucionaria adequada para a defesa da classe trabalhadora Iraniana.
14.Um sumario dos primeiros anos da dominacao imperialista do Iran ests contido em J. Stork, Middle East Oil and the energy crisis, Monthly Review Press, New York & London, 1975, pp8
15.  J. Bharrier, Economic development in Iran 1900070, Oxford University Press (OUP), 1971, p86.
16.  O 1931 Monopoly Trade Act colocou colotas de 37% em todos os produtos importados e estabeleceu um monopolio estatal na exportacao de trigo e opio. . H. Motamen, "Iran's experience with import quotas" Middle East Economic Papers, 1955, p76.
17.  Como consequencia o numero de trabalhadores na industria nacional cresceu em 250% entre 1934e 1938. Bharrier, op cit, p 172.
18.  Ibid.
19.  H Lenozowsky, Russia ansd the West in Iran 1918-14, Ithaca, New York, 1949.
20.  See A Banani, The modernization of Iran 1921-41, Stanford University Press, New York, 1961 and B Jazani, An Introduction to the contemporary history of Iran, The Iranian Committee, London, 1977, p30.
21.  "Emprendedores e empreiteiros fornecendo os Aliados ficaram ricos, os precos da terras e dos alugueis de casas aumentarasm e no geral o contraste entre rico e pobre aumentou" Y Armajani, Middle East, pas and present, Prentice Hall, New Jersey, 1970, p345.
22.  Bharrier, op cit, p88.
23  Essa resposta deve ter sido causada pela rebeliao camponesa na provincia de Mazandaran em 1946. Ver J.A. Bill. The Politics of Iran, Merrill, Ohio, 1972, p136.
24. Isso explica porque no mesmo ano, o Shah redistribuiu grande quantia de terras que seu pai havia desapropriado e iniciou uma campanha contra a corrupcao. Mesmo assim, os EUA respondeu com uma doacao de somente $25 milhoes, uma quantia tao irrisoria que ela foi considerada um insulto e resultou num levante popular na capital.
25.  A FN consistia de quatro grupos principais: O Partido Iran, Partido Pan-Iraniano, Os Fedayeen e Islam e o Partido dos Trabalhadores do Iran