Wednesday 24 February 2021

A CRITICA DA ECONOMIA POLITICA KEYNESIANA DE GEOFF PILLING CAPITULO 3 OS FUNDAMENTO DO ECONOMICS DE KEYNES

CAPITULO 3 - OS FUNDAMENTOS DA ECONOMIA POLITICA  DE KEYNES


Para os historiadores da teoria economica, o triunfo da sintese neoclassica deveria parecer muito inapropriado, pois a base do tratamento formal de Keynes na economia de Ricardo e Marshall deixou uma marca forte em suas proprias contribuicoes para a teoria economica. Pareceria mais apropriado vincular a propria teoria de Keynes a teoria de longo periodo dos economistas politicos classicos. A possibilidade dessa relacao tornou-se obvia com a contribuicao poskeynesiana de uma teoria do longo periodo baseada na teoria do curto periodo de Keynes que se assemelhava muito, tanto no conteudo quanto na preocupacao, a teoria classica de Ricardo e Marx. (Kregel 1975: XV) [1]

Este capitulo explora certos aspectos da relacao entre as teorias economicas de Karl Marx e JM Keynes de um angulo particular, o das metodologias subjacentes e das concepcoes gerais desses dois economistas teoricos. E por sua importancias nas analises atuais da crise keynesiana, pretendemos explorar essas questoes sob um angulo especifico: do ponto de vista daqueles que desejam criar uma nova economia  a partir da fusao de certas vertentes da economia keynesiana de um lado , e alguns elementos da tradicao marxista-classica do outro Esses esforcos envolvem duas questoes distintas, embora relacionadas:
 
1. Aquilo que diz  respeito a relacao entre a economia politica da escola classica e a de Marx. O proprio Keynes certamente acreditava  que a sua nova economia saloparia o que ele chamava de fundamentos ricardianos do marxismo. Em outras palavras, ele identificou a economia classica de Ricardo com a critica de Marx a ela. Ja comentamos sobre esse assunto e, portanto, podemos ser breve. A obra de Marx envolvia uma critica da economia politica, que entendia que havia uma serie de falhas, fatais em ultima analise, associadas ao trabalho ate dos melhores representantes dessa escola; foram essas falhas que o tornaram  vulneravel aos ataques dos escritores vulgares e corriqueiros que surgiram no periodo que se seguiu a morte de Ricardo. (o melhor tratamento da transicao da economia classica  para a vulgar e fornecido por Rubin (1979).
O colapso da economia politica ricardiana nao foi um evento explicavel apenas em termos ideologicos. Ou seja, enquanto as doutrinas de Ricardo foram de fato atacadas por causa dos usos subversivos a que estavam sendo feitas, nao so por  varios escritores  radicais nas decadas de 1820 e 1830, o fato e que os oponentes da escola classica  tinham realmente fraquezas definidas na economia politica de Ricardo, na qual concentrar seu ataque, e nao havia arranjo formas de suas categorias que pudesse protege-la de seus detratores vulgares. Somente uma reformulacao fundamental da economia classica que realmente a trancedesse (isto e, preservasse suas caracteristicas positivas enquanto descartava seus aspectos negativos) poderia produzir um desenvolvimento real dessa tradicao. Coube a Marx fa\er exatamente esse avanco.

2. A segunda questao implicita nos esforcos para reconstituir a economia politica ao longo  das linhas propostas por  Kregel e outros envolve uma certa maneira de ver a relacao da obra de Keynes  com a tradicao classica, Ao explorar os fundamentos  da economia politica de Keynes, devemos nos preocupar com esta ultima questao. Em resumo, para antecipar a linha de argumentacao vamos sugerir que em um nivel fundamental essas duas tradicoes tem muito pouco em comum e que a economia politica keynesiana e, em ultima instancia, uma continuacao, sob as condicoes do seculo XX, com certeza, da tradicao vulgar da economia politica.  Pretendemos defender essa proposicao por meio de uma analise  das categorias da Teoria Geral, sugerindo que seu carater subjetivo e psicologico expressa claramente que elas realmente derivam da escola vulgar e nao daquela representada por Petty, Smith, Ricardo e outros.

Como ja vimos,  todo o periodo do pos guerra testemunhou uma especie de luta pela alma de Keynes. Por um lado, no caso da "sintese neoclassica", esforcos foram feitos para incorporar os ensinamentos de Keynes ao corpo da ortodoxia neoclassica, produzindo o que Robinson criticou de varias maneiras como um keynesianismo "bastardo" ou (um keynesianismo expurgado de elementos considerados inaceitaveis). De um ponto de vista bem diferente, tentativas igualmente persistentes foram  feitas para reunir certos elementos da obra de Keynes com aspectos da tradicao classica-marxista. Nao  vamos nos preocupar com aqueles  que procuram  integrar a obra de Keynes com a ortodoxia neoclassica dominante, mas sim  com os esforcos desses que querem casar Marx com Keynes, para examinar se em principio, eles tem uma base solida. 

Nao resta duvida de que o o surgimento do keynesianismo na decada de 1930 e sua posterior ascensao a uma posicao de dominio quase incontestavel no periodo pos-guerra exerceram uma influencia decisiva sobre muitos marxistas que operavam no campo da economia. Como essa nao e nossa principal preocupacao, as  referencias historicas nao serao exploradas; mas, em resumo, o seguinte pode ser afirmado:-
sob o impacto da ortodoxia keynesiana predominante muito marxistas estavam inclinados a ler O Capital e outras obras economicas de Marx do ponto de vista de alguma versao ou outra de uma teoria subconsumista  do colapso capitalista. Isso quer dizer que eles estavam inclinados, como estavam certos seguidores de Keynes, a ver o principal problema para o capitalismo residindo em uma tendencia para o consumo cair abaixo do nivel necessario para sustentar o investimento e o pleno emprego, particularmente o pleno emprego de trabalho. O corolario dessa posicao era que uma acao estatal adequada, em particular uma acao associada ao orcamento do Estado, poderia, ao elevar o nivel de consumo, superar essa deficiencia.

Um livro como Capital Monopolista de Baran e Sweezy (1966) e um caso tipico. Em sua abordagem geral, esse trabalho e keynesiano, concentrando-se como o faz no que os autores consideram ser o problema critico para o capitalismo no periodo pos-guerra: a eliminacao de um excedente economico crescente. Segundo Baran e Sweezy, as grandes empresas de monopolio e quase monopolio sao capazes de fixar os precos de sua producao de forma a garantir para si mesmas superavits cada vez maiores. Assim sendo, o problema do capitalismo resume-se em encontrar formas de absorver esses excedentes. Eles veem coisas como o aumento dos gastos com publicidade, as atividades economicas do Estado e os crescentes gastos em armamentos como os principais meios pelos quais o capitalismo dispoe de seus excedentes economicos. Para eles, as contradicoes do capitalismo, especialmente entre a classe capitalista e a classe trabalhadora, nao existem mais como existiam na epoca de Marx. O capitalismo e condenado nao como um sistema historicamente limitado e inerentemente contraditorio, mas como sujeito a irracionalidade crescente. Desse modo, Baran e Sweezy consideram redundantes as categorias basicas da economia politica de Marx. Dai a tendencia do capitalismo de gerar um superavit economico crescente. Eles afirmam;
"Essa lei imediatamente sigere a comparacao, como deveria ser, com a lei marxista classica da tendencia decrescente da taxa de lucro. Sem entrar na analise das diferentes versoes desta ultima, podemos dizer que todas pressipoem um sistema competitivo. Ao substituir a lei do excedente crescente pela lei do lucreo decrescente, nao rejeitamos ou revisamos um teorema sagrado da economia politica: estamos simplesmente levando em consideracao o fato indubitavel de que a estrutura da economia capitalista sofreu uma mudanca fundamental desde que esse tgeorema foi formulado. O que ha de mais essencial na mudanca do capitalismo competitivo para o monopolio encontra sua expressao teorica nessa substituicao.[2]

O livro deles, publicado em meio ao boom inflacionario, foi a indicacao do impacto que a ortodoxia keynesiana dominante teve sobre o marxismo.

Mas as sementes desse movimento em direcao ao keynesianismo ja haviam sido plantadas muito antes - na verdade, na decada de 1930 - a decada em que a principal obra de Keynes apareceu pela primeira vez. E digno de nota que Maurice Dobb, por muito tempo sem duvida o principal comentarista da economia marxista na Inglaterra, ao apresentar a exposicao anterior e influente de Sweezy dos principios da economia marxista, A Teoria do Desenvolvimento Capitalista, aos leitores ingleses, admite que ele mesmo passou aceitar a enfase que Sweezy dava ao subconsumo como o principal fatort que explica a crise capitalista, um movimento que se reflete em muito dos escritos posteriores de Dobb.

No que provavelmente ainda e o tratamento popular mais satisfatorio da economia politica marxista, Sweezy, em seu trabalho anterior, ao falar de Keynes como o principal representante daqueles que defendem a reforma capitalista liberal, propos que a critica dessas ideias deveria comecar, nao pela sua logica economica, mas sim de suas suposicoes defeituosas (geralmente implicitas) sobre a relacao, ou talvez deverismos dizer falta de relacao, entre economia e acao politica (Sweezy 1946:346). Sweezy esta fazendo um ponto importante aqui, a saber, que o ponto em questao nao e tanto a teoria economica de Keynes, mas sim a falsa concepcao que, como liberal, ele sustentou sobre a relacao da esfera economica com a politica dentro do sistema capitalista. A implicacao e que a economia do tipo keynesiana era solida nao abstrata: o problema surgiu quando tentou implementar essa economia no "mundo real" diante de um estado que nao era imparcial entre as forcas sociais e, portanto, nao era neutro quanto as prescricoes de politicas. Keynes deve ser rejeitado nao em bases teoricas, mas do ponto de vista do pragmatismo, a saber, que suas "solucoes" para os males do capitalismo nao funciona de fato na pratica.[3]

Deve se notar de passagem que essa atitude de Sweezy em relacao a Keynes e curiosamente semelhante aquela que o proprio Keynes se manifestou em relacao ao trabalho de seus predecessores: que foram as suposicoes erroneasm e nao a logica interna da Escola de Manchester, que fatalmente corromperam o trabalho dela. Assim, " ...Nossa critica a teorias aceitas das economias politicas consistiu nem tanto em encontrar falhas logicas em suas analises, mas em apontar que suposicoes taticas raramente ou nunca sao satisfeita, com o resultado de que ela nao pode resolver os problemas economicos da realidade do mundo"(GT:378) 

Em nossa opiniao, a posicao adotada por Sweezy indica uma concessao fundamental e totalmente injustificada a Keynes. Neste capitulo, vamos sugerir que, ao contrario da opiniao de Sweezy, a "logica economica" de Keynes era de fato falha e fatal; consequentemente, uma avaliacao dessa "logica economica" deve formar o ponto de partida de qualquer critica marxista  coerente do keynesianismo E isso, por sua vez, implica que os esforcos por parte dos "keynesianos esquerdistas" como Joan Robinson, visando efetuar uma forma de reconciliacao teorica entre Marx e Keynes sao, em principio, mal concebidos. A distincao critica feita por Marx entre as escolas classicas e vulgares de economia politica fornece um prisma conceitual decisivo por meio do qual examinar certos aspectos da economia politica de Keynes. Para Marx, (Pilling 1981), o que ele chamou de escola vulgar preocupava-se apenas com os aspectos mais superficiais da economia capitalista;  a certa altura, foi uma escola que degenerou na apologetica, tentando racionalizar as  contradicoes do sistema capitalista.[4]. Em particular, Marx castigou o fetichismo inerente a economia politica vulgar: a tendencia de atribuir poderes e funcoes sociais as coisas: por exemplo, atribuir a capacidade do empresario de obter lucro aos objetos naturais que constituem os meios de producao.[5] Portanto, propomos revisar os principais aspectos do sistema teorico de Keynes do ponto de vista da distincao que Marx fez entre economia politica classica e a vulgar.

Podemos comercar indicando certas caracteristica-chaves da obra de Keynes que tem uma relacao direta com as bases filosoficas e metodologicas  dessa obras. Por onde, em geral, Keynes comeca a sua analise? Ele aceitou o fato de que o capitalismo de forma alguma garante automaticamente o pleno emprego; nao existe um mecanismo autoajustavel que gere um nivel de demanda efetiva suficiente para garantir a plena utilizacao dos recursos. O argumento de Keynes segue as seguintes linhas bem conhecidas. A curto prazo - para ele o periodo de maior preocupacao, embora  nao necessariamente para muitos de seus seus seguidores do pos-guerra - o nivel do emprego e uma funcao do nivel de producao que por sua vez e uma funcao do nivel de demanda efetiva. E este conceito, o de demanda efetiva, que e na realidade  o conceito-chave de Keynes, um ponto amplamente aceito, (por exemplo Patikin e outros). Demanda efetiva e aquela demanda sustentada por despesas.Despesa total e vendas totais (supondo que nao haja estoque) sao a mesma coisa que producao. Portanto, a producao e determinada pela demanda efetiva. Keynes comecou decompor a demanda efetiva em dois componentes - consumo e investimento - e analisou cada um por sua vez.A base da distincao e que o dinheiro gasto em bens e servicos por individuos para satisfazer suas proprias necessidades e consumo; o dinheiro gasto pelas empresas em edificios e maquinas para produzir bens e servico no futuro e um respeito. Ou, no que diz respeito a questao do ponto de vista da producao, a divisao e aquela entre bens de investimentos (edificios, maquinas, etc) e bens de consumo. Para saber o que determina o nivel de producao - e portanto o nivel de emprego - e preciso saber o que determina o nivel de consumo e o nivel de investimento. Para analisar as flutuacoes do nivel de demanda efetiva, Keynes fez uso de suas tres categorias operacionais fundamentais - a propensao a consumir, a eficiencia marginal do capital e a taxa de juros. Em combinacao, esses tres fatores estabelecem os limites dentro dos quais a economia capitalista oscila, e falaremos mais dela agora.

Nenhuma tentativa e feita no que segue para fornecer uma critica completa e sistematica  do trabalho de Keynes. Apenas alguns aspectos serao abordados. Pretendemos  analisar brevemente alguns dos conceitos-chaves de Keynes, para explorar  seus pressupostos subjacentes, concentrando-se particularmente na nocao de Keynes de capital e sua "produtividade".Tendo em vista o seu papel central na interpretacao de Marx e Keynes, um breve comentario e feito no final do capitulo sobre a obra de Joan Robinson. Mas, primeiro uma abordagem geral de Marx para a analise do capitalismo pode ser esbocada a fim de destacar as premissas metodologicas bastantes diferentes com as  seu trabalho comeca.

Para Marx, a dinamica do capitalismo, a busca pela "lei do movimento da sociedade moderna" (o objetivo final deste trabalho e desnudar a lei do movimento da sociedade moderna"- Prefacio:1) envolve como uma de suas tarefas a investigacao do conceito de capital. Apesar das afirmacoes do empirismo em contrario, toda ciencia tem sua propria hierarquia de conceitos; a pesquisa empirica e as terias individuais sempre se apoiam em certas ideias fundamentais, formando a pedra angular do departamento particular de conhecimento em questao. Isto o empirismo nega; ele afirma comecar a partir dos "fatos" nao mediados por quaisquer preconceitos. No entanto, isso e pura ilusao: todo pensamento parte de conceitos definidos quanto a natureza de seu objeto; neste caso a economia politica. Mas se esse ponto de partida e consciente ou nao, e uma  questao que tem sua importancia. Para aqueles que comecam com categorias teoricas inconsciente - isto e, de categorias que nao foram alcancadas com base em uma assimilacao critica real de todos os desenvolvimentos anteriores na ciencia em questao - inevitavelmente comecam suas operacoes a partir das definicoes mais vulgares e corriqueiras. Keynes nao foi excecao a essa lei do pensamento. Como veremos, ele de fato empregou uma definicao implicita de capital e de capitalismo, a saber, como um sistema de  producao que visava a satisfacao das necessidsades humanas. Sua objecao a esse sistema residia no facto de que em sua forma no seculo XX (onde o monopolio era a forma dominante) ele nao estava fazendo isso da maneira mas eficaz que poderia. 

Nao ha duvida de que, no caso da teoria economica, o conceito mais basico e o de capital. Uma das criticas mais persistente de Marx a escola classica era que ela nao tinha um conceito de capital real, elaborado e verdadeiramente consistente. Mesmo para Ricardo, o melhor dos economistas classicos, o capitasl era apenas "trabalho armazenado", uma nocao que teve o efeito de tornar o capital coexistente com  a existencia humana no sentido de que mesmo a ferramenta mais primitiva do selvagem representa "trabalho armazenado", resultado de um trabalho da sua parte e, portanto, segundo Ricardo e capital. A aparente universalidade  e aplicabilidade geral dessa ideia foi conquistada,  sustentava Marx, as custas  de qualquer conteudo historico concreto real. Isso fica claro nos comentarios de Marx sobre a concepcao de capital dos economistas:-
"O capital consiste em materia primas, instrumentos de trabalho e meios de subsistencia de todos os tipos, que sao utilizados para produzir novas materias primas, instrumentos de trabalho e novos meios de subsistencia. Toda essas sao partes componentes, sao criacao do trabalho, produto do trabalho, trabalho acumulado. O trabalho acumulado que serve como um novo meio de producao e o capital.
E o que dizem os economistas. O que e um escravo negro? Um homem da raca negra. Uma explicacao e tao boa quanto a outra.
Um negro e um negro. Ele so se torna escravo em certos relacionamentos. Uma maquina de fiar algodao e uma maquina de fiar algodao. Somente em certo relacionamentos ela se torna capital. Retirado dessas relacoes, nao e mais capital do que o proprio ouro e dinheiro ou o acucar  e o preco do acucar. (Trabalho assalariado e capital)"

Segundo Marx, os economistas vulgares tinham uma teorizacao aind mais superficial e fetichista do capital. Agora, a conexao entre capital e trabalho na economia politica que emergiu apos a desintegracao da escola ricardiana (c.1830) foi totalmente perdida de vista: a recompensa para os detentores do capital foi doravante considerada uma recompensa por sua abstinencia ou espera. A suposicao nao escrita dessa teoria era que o capitalismo era um sistema projetado para produzir riqueza para o consumo e que aqueles que adiavam esse consumo deveriam ser devidamente recompensados. Qualquer analise historica do capital, qualquer indicio de que ele pudesse expressar relacoes economicas especificas apenas para certos periodos e condicoes estava totalmente fora da concepcao teorica da economia politica neoclassica.

O CONCEITO VULGAR DE CAPITAL

resultado dessa tendencia pode ser visto quando examinamos o conceito de capital presente na economia ortodoxa. Como por exemplo, tomamos a definicao de capital oferecida pela edicao de 1984 do Penguim Dictionary of Economics, um resumo de nocoes semelhantes que podem ser encontrados em uma centena de livros didaticos:
"O estoque de bens que sao usados nas producao e que foram produzidos ....A palavra capital em economia geralmente significa capital real - ou seja, bens fisicos... Duas caracteristicas importantes do capital sao (a) que sua criacao envolve um sacrificio, uma vez que os recursos sao dedicados a fazer bens de capital nao consumiveis em vez de bens de consumi imediato, e (b) que aumenta a PRODUTIVIDADE dos FATORES DE PRODUCAO, TERRA e TRABALHO; e a produtividade aumentada que representa  uma recompensa pelo sacrificio envolvido na criacao de capital.(Bannock et al. 1984:61)

Dois pontos surgem dessa definicao. (a) O capital e apenas uma "coisa" e nao uma relacao social de  producao. Como tal, e presumivelmente contemporaneo ao homem, talves ate mesmo ao reino animal. Esse foi um conceito que levou a uma serie de  conclusoes estranhas e que deram muito prazer a Marx;[6](b) apesar de sua aparente falha de conteudo social, essa definicao de  fato carrega uma concepcao muito especifica do modo de producao capitalista. Para a recompensa ao capital, o sacrificio de posssui-lo, decorre do fato de que o consumo imediato deve ser adiado. Aqui, implicitamente, esta a nocao de que o capitalismo e um sistema baseado na satisfacao das necessidades humanas, um sistema dedicado a prover as necessidades do "consumido". Marx rejeitou essa nocao pequeno-burguesa porque obscureceu o fato de que sob o capitalismo o objetivo da  producao e, e so pode ser. a expansao do capital, isto e, sua acumulacao continua.

Ora, e claro que e um truismo dizer que Keynes criticou certos aspectos do trabalho da escola neoclassica de sua epoca, assim como outros haviam feito antes dele. Mas e igualmente verdade que tais criticas nunca alcancaram o nivel de algo fundamental, nunca investigaram os fundamentos epistemologicos desta escola, nunca investigaram as concepcoes historicas e sociais que a sustentam. Ao contrario, e evidente que a propria obra de Keynes estava imbuida precisamente das mesmas concepcoes anti-historicas que predominaram na economia neoclassica.

Pois, como e reconhecido, Keynes recusa  de forma deliberada fazer qualquer analise critica da  estrutura social da sociedade e de suas leis de desenvolvimento. Em outras palavras, ele toma o sistema capitalista como um dado natural, aceitas suas formas de aparencias como constituintes de sua essencia. Sua preocupacao e exclusivamente com o funcionamento e nao com a dinamica do capitalismo. Em seu sistema teorico, ele considera as forcas produtivas e as relacoes de producao como elementos imutaveis dados de uma vez por todas:- "Consideramos como dado a habilidade existente  e a quantidade de trabalho disponivel e a qualidsde dos equipamentos, a tecnica existente, o grau de competicao... assim como a estrutura social incluindo as forcas, outras que as nossas variaveis...que determinam a distribuicao da renda nacional"(GT:245) Alhures ele diz, que ele toma como um dado, isto e, como imutavel) toda estrutura economica do capitalismo.

Agora, e claro, o fato de Keynes ter considerados esses fatores como "dados" nao significa que ele nao tinha consciencia que de fato, no sentido empirico, esse naso era o caso. Uma questao mais seria esta envolvida aqui. Revela o fato de que o trabalho de Keynes envolveu o processo convencional e essencialmente positivista de construcao de modelos, pelo qual, com bases em uma serie de suposicoes arbitraria, um modelo de economia politica e construido. Ou seja, Keynes faz uma serie de suposicoes a fim de simplificar a analise da economia - de tal forma que nao haja nenhuma mudanca tecnica ocorrendo, que a "estrutura economica" do capitalismo seja imutavel - e com base nessas abstracoes um quadro coerente do mundo e derivado. Mas, como no caso da suposicao tradicional de competicao perfeita, esas abstracoes sao dispositivos puramente mentais sem base na realidade dos fenomenos que estao sendo investigados. E exatamente por isso eles devem ser arbitrario e subjetivos. A  analise de Marx em obviamente, baseada em abstracoes ("alem disso, na analise de formas economicas,  nem microscopio nem reagentes quimicos sao uteis. A forca da abstracao deve substitui ambos", refletindo comos fazem o movimento real do capital. ( "Prefacio:1) mas sao abstracoes de uma ordem bem diferente, refletindo como o fazem o movimento real do capital. (Para uma excelente exposicao do metodo de exposicao de Marx em o Capital e a diferenca entre seu procedimento e aquele empregado pelo positivismo, ver (Ilyenkov 1979).

Para Marx, toda as categorias economicas reais - capital, valor, rends, juros, lucro etc - refletem nao uma serie de suposicoes mentais arbitrarias, mas relacoes sociais de producao definidas. Consewquentemente, nao sao categorias validas para todas as epocas e todas as sociedades. Tomemos o exemplo do capital. Segundo Marx, o capital nao e uma mera  coisa - materia-primas, edificios, fabricas, eyc - mas uma relacao social que se expressa ou se liga a muitas coisas diferentes, como dinheiro ou mercadorias. A caracteristica central do capitalismo, sua specifica differentia, a qualidade que o distingue dos sistemas economicos anteriores e que os meios de producao sao monopolizados por uma classe e enfrentam outra classe, a classe trabalhadora, que e obrigada,  por necessidade, vender a sua capacidade de trabalhar (na terminologia de Marx, sua forca de trabalho) para um ou outro proprietario de capital. Por isso, para Marx, a essencia do capital reside no fato de ser uma relacao social e nao apenas uma relacao material. Assim como a exsminacao de um saco de trigo nao pode revelar as relacoes sociais sob as quais ele foi produzido (em uma propriedade feudal, pelo trabalho do servo, pelo trabalho escravo, em uma fazenda coletiva, etc), as propriedades naturais dos meios de producao nunca podem nos dizer se eles funcionam como capital. Uma certa classe de pessoas podem possuir coisas como fabricas, ativos financeiros e assim por diante, mas apenas um processo social definido transforma essas coisas em instrumentos de exploracao, os converte em portadores daquela relacao social que Marx designa pelo termo "capital". O capital e uma relacao social de producao especifica, historicamente definida. Por uma nocao fetichista de capital, Marx entendeu precisamente aquele concepcao que tendia a atribuir aos objetos qualidades que se imaginavam fluir das propriedades materiais desses objetos, mas que na verdade surgiam inteira e exclusivamente do papel social ocupado por essas coisas no processo de producao de materiais. A nocao de que as coisas sao produtivas por sua natureza, e nao em virtude do lugar especificos que ocupam em uma rede definida de relacoes sociais era precisamente a concepcao fetichista do capital a qual Marx se opos.

Em sua forma mais geral (deixando de lado seus varios tipos), o capital e representado por Marx no esquema MC-C 'M' (M representando a soma inicial de dinheiro possuida pelo capitalista). Ignorando aqui sua origem real, essa soma de dinheiro e colocada na producao, sendo usada inicialmente para comprar mercadorias, C, incluindo a mercadoria forca de trabalho. No processo de producao, essas mercadorias sao, por sua vez, transformadas em mercadorias que envolvem uma quantidade maior de valor (potencial), C', que sao entao vendidas por uma quantia equivalente em dinheiro, M'. E a partir dessa ultima soma de dinheiro, M', que o capitalista atende as suas necessidades de consumo individual, mas, de maneira muito mais crucial, ele fornece os meios para a acumulacao posterior de capital - a reconversao da mais-valia incorporada em M' de volta ao capital.

Esse esquema MC-CL-M', representa em forma conceitual o unico eixo sobre o qual ocorre a producao dentro do capitalismo. Para Marx, o capitalismo nunca pode ser compreendido se for visto apenas como a producao de objetos que satisfazem as necessidades humanas. Se fosse o caso, os limites da producao seria puramente tecnicos, preocupados com a alocucao melhor, mais racional e mais "economica" de certos materiais para a satisfacao de uma serie de necessidades. Mas conceber o processo de producao dessa maneira e ignorar a questao crucial da estrutura social em que a producao ocorre. Para o capital, sua necessidsade mais vital e expandir M em M'. Como diz Marx, isso e como a lei de Moises; se as necessidades  humanas serao atendidas no processo de autoexpansao do capital (como e obvio, dentro de certos limites),  e uma questao incidental.

Esse esboco do conceito de capital de Marx revela, acredito, que ele e Keynes abordam a analise do capitalismo de angulos bem distintos e com logicas fundamentalmente opostas. Pois, embora Keynes e Marx lidam com agregados (a esse respeito, ambos se opoem a antiga abordagem neoclassica, com seu principal foco de interesse sendo o individuo) a natureza desses agregados e de uma ordem diferente. A principal preocupacao de Marx e o capital social total (MC-M') e suas subdivisoes; O principal interesse de Keyne reside na demanda efetiva e seus principais componentes, investimento e consumo.

Se o exame do processo de producao capitalista prosseguir do ponto de vista de Marx, sera imediatamente evidente que o tamanho das varias receitas que, em suma, constituem a renda nacional depende essencialmente do tamanho do capital social total e de sua taxa de giro, no processo de producao. Se, por exemplo, mais capital e empregado, se mais dinheiro e transformado de dinheiro em mercadorias necessarias para a producao, mais sera, (se as coisas permanecem iguais) o dinheiro avancado como capital variavel, isto e como salarios. Em outras palavras, e  a expansao do capital que aumenta a massa da forca de trabalho empregada. O empirista, por se limitar registrar os "fatos", nao tem como compreender teoricamente esse processo. O reverso do relacionamento real pode pasrecer se manter: tambem pode ser que, se mais dinheiro for gasto em capital variavel (salarios), mais capital resultara. Na verdade, e exatamente assim que a questao parece a primeira vista. "Sao os movimentos absolutos de acumulacao de capital que se refletem como movimentos relativos da massa da forca de trabalho exploravel e, por tanto, parecem produzidos pelo proprio movimento independente dessa ultima" (Marx Capital I:620) E o que e verdade para os salarios tambem e verdsde para todas as formas de renda - lucros, aluguel, juros etc. O tamanho dessas receitas e limitado (determinasdo) pela acumulacao de capital, e nao o contrario. Nao e o tamanho das receitas que fixa o tamanho do capital social total, mas o ultimo que determina o primeiro. Comecar a analise com as condicoes que determinam a rotacao do capital e partir da fonte interna determinante do movimento de toda a economia capitalista. Esse movimento do capital social evidentemente se revela no tamanho e no movimento das varias formas de receita. Mas comecar com essas receitas e comecar a partir de uma serie de  fenomenos imediatos e cotidianos, a medida que se apresentam na superficie da sociedade. E esse foi apenas o ponto central dsas criticas de Marx contra a escola de economia politica vulgar, ou seja. que ela comecou sem critica nas relacoes economicas imediatas, conforme apareciam na superficie da sociedade. Nao houve nenhum escrutinio desses fenomenos para estabelecer sua origem, para demonstrar que suas raizes estavam nas relacoes sociais especificas de um sistema economico definido, o capitalismo.

Voltando-nos especificamente para o caso de Keynes: uma queda na renda nacional ira, no curso normal das coisas, produzir uma queda no nivel de emprego; mas isso apenas levanta uma questao mais profunda e fundamental: o que provoca a queda inicial da renda? Qual e a fonte interna (relativamente oculta) desse movimento externo? E esta questao que, diz Marx, qualquer analise seria do capitalismo e de suas crises deveria procurar responder. Mas e uma questao que o empirismo diz nao admitir uma resposta - uma busca pelas causas internas dos fenomenos e considerada futil em ultima instancia. De acordo com Marx, a essencia das crises capitalistas, apesar de muitas formas diferentes que tais crises necessariamente assumem, consiste em uma ruptura nas condicoes do giro do capital, uma ruptura no circuito MCC 'M'. O movimento do capital e o elemento crucial do qual tudo o mais e derivado e as leis que governam o movimento do capital agregado sao as leis fundamentais da economia. E por isso que Marx afirmava que a confusao sobre a naturezas do capital deve levar a confusao sobre todas as outras categorias da economia.

RECEITA E CAPITAL

A questao levantada aqui, o angulo a partir do qual uma analise da economia capitalista deve comecar, e uma que preocupou continuamente a economia politica no passado. Tomemos o caso de Adam Smith. Como e amplamente concebido Smith sustentou duas teorias de valor contraditorias. Em alguns lugares, Smith defende a ideia de que o valor de uma mercadoria e determinada  por uma coisa e apenas uma coisa: a quantidade de trabalho incorporada nessa mercadoria. Em muitas ocasioes, no entanto, ele propos o que Dobb e outros caracterizaram apropriadamente como uma teoria da soma do valor em que as varias formas de receita (salarios, lucros, aluguel) eram mantidas, em sua soma, para  determinar o valor da mercadoria. A conclusao desta ultima concepcao de valor e, como diz Marx, "que o valor da mercadoria e composto de varios tipos de receitas, ou, alternativamente, "resolvido em" essas receitas, de modo que nao sejam as receitas que consistem no valor da mercadoria , mas sim o valor da mercadoria que consiste nas receitas (Capital II: 465). Aqui, Marx esta levantando precisamente a mesma questao fundamental envolvida em  uma critica a Keynes" Na analise do capitalismo, alguem comeca a partir do valor e do capital ou do preco e da renda (receita)?

Essa duality em Smith constituiu uma contradicao nao resolvida em seu trabalho teorico: por um lado, o esforco para descobrir o funcionamento interno da economia (aqui estava o elemento realmente classico em sua obra) e, por outro, um mero registro ou catalogacao de fenomenos (aqui, de acordo com Marx, encontram-se as sementes da vertente vulgar em Smith), Marx atribuiu consideravel importancia a confusso de Smith sobree valor e receita:
"Mas e essa categoria de "receita" a responsavel por toda confusao prejudicial em Adam Smith. Os varios tipos de receitas formam com ele as "partes componentes" do valor da mercadoria produzido anualmente e recem-criado, enquanto vice versa, as duas partes em que este valor da mercadoria se resolve para o capitalista - o equivalente ao seu capital variavel adiantado em forma de dinheiro na compra de trabalho e a outra parte do valor, a mais valia, que tambem lhe pertence mas nao lhe custou nada - constituem fontes de rendimentos. (II:382)
E mais: Depois de comecar por definir corretamente as partes componentes do valor das mercadorias e a soma do produto-valor incorporado nelas e, em seguida, demonstrar como essas partes componentes formam varias fontes diferentes de receita, depois de obter receitas do valor, ele prossegue na direcao oposta - e esta continua sendo sua concepcao predominante - e transforma as receitas em "partes componentes" em "fontes originais de todo valor de troca", abrindo assim as portas para a economia vulgar. (II:372)

Insistindo mais uma vez que devemos partir do capital se quisermos compreender o conceito de receita, e determinar sua magnitude, Marx diz"
Se eu definir o comprimento de 3 linhas retas independentemente e, em seguida tornar essa s linhas "componentes" de uma quarta linha reta igual em comprimento a sua soma, este nao e o mesmo procedimento como se eu comecasse com uma determinada linha reta e a dividisse por um proposito ou outro. "resolve-lo" por assim dizer - em tres partes. O comprimento da linha no primeiro caso muda invariavelmente com o comprimento das tres linhas cuja soma ele forma; no ultimo caso, o comprimento dos tres segmentos e limitado desde o inicio por  de suas partes  formadoras de uma linha de determinado tamanho. (ibid:383)

PRINCIPAIS CONCEITOS DE KEYNES

Sustentamos que os pontos de partida para o trabalho teorico de Marx e Keynes sao de um carater diametralmente oposto: Marx insiste que o ponto de partida crucial para o exame do capitalismo e o movimento do capital, um movimento que por si so explica a natureza e o tamanho das varias receitas ou rendas da sociedade capitalista. Keynes, por outro lado, comeca sua analise precisamente desse ultimo ponto, da renda ou, para usar seu termo, da demanda efetiva. 

Keynes estava preocupado com um problema fundamental: as formas que determinavam os niveis de investimento e consumo. Agora, em primeiro lugar, esta claro que essas categorias nao sao de forma  alguma unicas ou especificas do capitalismo. O consumo de riqueza (como a comida, roupa, abrigo)   constitui a base material da vida em todas as  sociedades, quaisquer que sejam as condicoes especificas sob as quais essa riqueza e produzida e distribuida. Da mesma forma, o investimento - a utilizacao de uma parte da riqueza social atual como meio de produzir riqueza no futuro - nao e de forma alguma uma atividade exclusiva do capitalismo, mas esta presente em todas as economias, exceto nas mais primitivas, onde o baixo nivel de tecnica impede a  producao de um excedente economico, pelo menos de forma regular e sistematica. O que precisamos saber e a forma especifica que assume esse xcedente e a maneira como ele e extraido de quem o produz. Keynes nao fornece aqui nenhuma resposta  pela simples razao de que essas questoes nao entram em seu horizonte.

Nesse sentido, muitos escritores chamaram a atencao para um fato impressionante sobre toda a obra de Keynes: a saber, que os agregados de seu sistema nao estaao centralmente preocupados com a forma especifica assumida pelo consumo e investimento na economia capitalista. Assim, um escritor disse:
"Uma das diferencas significativas no carater metodologico do agregado entre Marx e Keynes reside na direcao em que a abstracao e realizada. A intencao de Marx era representar, da formas mais simples possivel. a inter-relacao especifica dos agregados que e caracteristica do capitalismo, ao passo que os agregados keynesianos nao se preocupam necessariamente com as especificidades do capitalismo. Destinam-se principalmente a auxiliar na contabilizacao do nivel total de emprego, partindo do pressuposto de que e proporcional ao produto nacional liquido. (Tsuru 1968)

Marx nao inicia sua analise do ponto da renda nacional e sua divisao, mas com o capital social total e a sua desagregacao basica em capital constante(equivalente a gastos com maquinas, materias-primas), capital variavel (equivalente a folha de salarios) e excedente valor (na forma de lucro, aluguel.[7] Essas categorias nao sao apenas especificas do capitalismo, mas as contradicoes que surgem entre elas sao, de acordo com Marx, uma expressao de um modo de producao historicamente limitado, o capitalismo. Por comparacao, os conceitos chaves da Teoria Geral sao abstrato no sentido especifico de que nao se relaciona com o sistema economico capitalista como tal. A teoria de Keynes se baseia na proposicao de que tres variaveis, a propensao a consumir (funcao consumo) o incentivo a investir (a eficiencia marginaldo capital) e a taxa de juros (preferencia pela liquidez), em sua interacao determinam os limites dentro do qual a renda nacional funciona.

Para considerar primeiro a taxa de juros: Para Keynes, ela e determinada pela quantidade de dinheiro e pela "preferencia pela liquidez". (A preferencia pela liquidez Keynes define como a tendencia "natural" das pessoas de manterem ativos liquidos na ausencia de incentivos suficiente - na forma de juros - para  abrir mao dessa liquidez). Para entender a natureza da  preferencia pela liquidez, e necessario saber algo da "preferencia temporal psucologica" inerente a propensao a consumir. De acordo com Keynes, cada individuo e confrontado com dois conjuntos de preferencias temporais sobre as quais e obrigado a agir. Primeiro, o individuo toma uma decisaso sobre a proporcao de sua renda a ser gasta agora e a proporcao a ser economizada para gastos futuros. Tendo decidido a proporcao a ser salva, ele deve tomar uma segunda decisao:De que essas economias devem ser mantidas" Como sabemos, Keynes propos que havia tres razoes basicas para reter dinheiro, sendo o motivo especulativo(a capacidade de tirar vantagens de mudancas antecipadas nos precos) o decisivo.

A taxa de juros e a "recompenssa por se separar da liquidez por um periodo especifico", e e determinada no ponto em que o desejo de masnter uma certa quantidade de dinheiro e apenas contrabalancado pela atracao da taxa de juros oferecida por essa quantidade  de dinheiro. ASssim, como diz Keynes, a taxa de juro e um "fenomeno altamente psicologico"(GT:202) Nao e um pagamento pela espera ou pela abstinencia como na economia pre-keynesiana, mas para nao acumular (GT:182), para se desfazer da liquidez. Talvez porque Keynes tenha ficado um tanto obsecado com  o parasita "investidor sem funcao" sua teoria ignora o fato de que os juros representam um retorno sobre o capital monetario que e da mesma natureza geral e origem que o retorno sobre todo o capital - em suma, que os juros sao um segmentos de mais valia. A Teoria de Keynes, que propoe que o juro e formado por forcas bastantes independentes do processo de producao, falha especificamente em captar este ponto essencial. Isso nao e surpreendente, dado que o capital que rende juros, onde o dinheiro parece gerar dinheiro, parece prima facie totalmente separado do proceddo de producao. Como diz Marx, "O capital aparece como uma fonte misteriosa e auto criadora de juros, uma coisa se se cria a si mesma...O valor do uso do dinheiro ...torna-se uma faculdade do dinheiro gerar dinheiro e render juros, assim como e a faculdade das pereiras produzir peras (III:287).

Mas a economia nem sempre se apegou ao tipo de concepcao fetichista de juros proposta por Keynes. Adan Smith, por exemplo, diz:
"Pode ser estabelecido como uma maxima, que sempre que muito pode ser feito pelo uso do dinheiro, muito sera dado pelo uso dele; e onde quer que pouco possa ser feito por ele, menos sera comumente dado por ele...O progresso do juro, portanto, pode-nos levar a formar alguma nocao do progresso  do lucro. (Smith 1776:105-6) 

Os juros, sustenta Smith, sao apenas parte do lucro pago pelo capitalista industrial ao capitalista monetario. Seus limites sao, portanto, fixados pela magnitude do lucro. "Em qualquer caso, a taxa media de lucro deve ser considerada como o determinante final da taxa maxima de juros" (III:353) Essa posicao de Marx tambem foi defendida pelo melhor da escola classica, pois "de acordo com os ricardianos e todos os outros economistas dignos de mencao, a taxa de juros e determinada pela taxa de lucro" Th I:92).

E por essa razao, porque lucro e juros sao formas de uma mesma categoria, ou seja, a mais-valia, que normalmente se movem juntos na mesma direcao. A demanda por liquidez so se torna uma forca potente em periodos de crise economica aguda. O fato de que os proprietarios do capital como um todo desejam repentinamente transformar seu capital de mercadoria em sua forma dinheiro e, em si, uma expressao grafica de uma serie de ruptura no giro do capital. De acordo com a teoria de preferencia pela liquidez do Keynes, o dinheiro assume a  forma de tesouro e os juros sao a recompensa por nao acumular. De fato, porem, a funcao do dinheiro como tesouro e apenas uma de suas varias funcoes e todas elas devem ser estudadas em sua unidade contraditoria antes de podermos agrupar o papel real do dinheiro na  economia capitalista. [8] Por exemplo, uma funcao do dinheiro, como todos reconhecem, e um meio de pagamento. Mas  esta e uma funcao contraditoria, um fato de forma alguma reconhecido universalmente.  Pois quando os pagamentos se equilibram, o dinheiro funciona apenas nominalmente, como unidade de conta, como medida do valor. Mas quando os pagamentos reais devem ser feitos, o dinheiro nao mais atua um mero intermediario no processo do metabolismo social, mas como a encarnacao da riqueza em abstrato, como uma mercadoria universal. Quando, por qualquer razao, ha uma perturbacao generalizada no sistema desenvolvido de pagamentos, o dinheiro deixa de desempenhar seu papel ate entao meramente nominal como unidade de conta, mas agora se torna a personificacao da riqueza social em si. Anteriormente, os proprietarios do capital declaravam que o dinheiro era uma criacao imaginaria e que apenas as mercadorias constituiam valor real. Agora, em tempo de crise aguda, ouve-se um grito diferente e "como o cervo anseia por agua doce a alma  ofega pelo dinheiro, a unicas forma real de riqueza" (I:266). E, portanto em tempo de crise que a demanda por dinheiro aumenta dramaticamente e, com ela, a taxa de juros, que agora pode estar totalmente fora de sincronia com a taxa de lucro. Assim, "Se observamos os ciclos em que se move a industria moderna....descobriremos que uma taxa baixa de juros geralmente corresponde a periodos de prosperidade, e um maximo de juros, ate o ponto de  extrema corresponde ao periodo de crise(III:353). E um pouco mais tarde Marx diz:
"A taxa de juros atinge sei pico durante  as crises, quando o dinheiro e tirado emprestados a qualquer  custo para cumprir os pagamentos. Dado que um aumento nos juros implica uma queda  no preco dos titulos, isso simultaneamente abre uma boa oportunidade para as pessoas com capital monetario disponivel, para adquirir a precos ridicularmente baixos titulos que rendem juros como devem,  no curso normais das coisas, pelo menos recuperar  seus precos medios, assim que a taxa de juros cair novamente. (III:354)

Em outras palavras, e em uma crise, quando a taxa de lucro entra em colapso, que a taxa de juros pode subir rapidamentee. E em condicoes de crise que a corrida por liquidez para cumprir as obrigacoes contraidas na fase de prosperidade pode tornar um fator controlador. Na medida que a pressao por liquidez se torna mais generalizada, pode ocorrer uma escassez de dinheiro e provocar um forte aumento nas taxas de juros, a medida que os precos dos outros ativos cai violentamente. Muitas obrigacoes nao podem ser cumpridas e segue-se uma serie de falencias. E nessas condicoes que a demanda por liquidez por meios de pagamentos imediatos torna-se tao acentuada que, para o observador teoricamente despreparado, pode parecer assumir uma existeencia inteiramente independente, de modo que pode ser elevada como a causa da crise e nao ser vista , para o que e.

A ultima passage citada por Marx e interessante na medida em que sugere que uma teoria dos juros do tipo proposta por Keynes tomou certo fenomenos que emergem em condicoes de crise - quando,  por definicao, todas as relacoes monetarias e de credito sao violentamente interrompidas - e os generalizou em principios universais. Como ja apontamos, para Marx, os juros sao um retorno ao capital monetario. E, desse ponto de vista, da mesma natureza fundamental que o retorno sobre o capital como um todo - e o pagamento feito a partir da mais valia obtida sobre todo o capital pela utilizacao de uma determinada porcao desse capital. O capital de emprestimos depende, para sua recompensa, de ser empregado com sucesso na esfera da producao.. Assim, Marx diz "Emprestar dinheiro como capital - sua alienacao sob a condicao de ser devolvido apos um certo tempo - pressupoe, portanto que ele sera realmente empregado como capital, e que realmmente fluira de volta ao seu ponto de partida (III:349) Um empresario (envolvido, suponhamos, na producao de veiculos) divide seu lucro total com outro proprietario de capital (um banqueiro, digamos) em troca de um emprestimo que sera usado com o objetivo de expandir seu capital e mais valia. Voltando a forma mais geral de capital, representada pelo circuito MC-C'-M', um empresario que deseja expandir seu capital deve estar preparado para fazer varias  coisas. Primeiro, ele deve se desfazer de seu capital monetario, M. Ele deve transforma-lo em capital com um forma diferente, C, transformando-o em forca de trabalho, materiais e equipamentos de producao. Nosso empresario deve entao colocar essas varias mercadorias em um processo de  producao que as transformara em mercadorias diferentes, C' que pode (com sorte) ser vendido por uma quantia  equivalente em dinheiro M'. Assim, M foi "metarmofoseado", como diz Marx.

Agora, essa separacao inicial da liquidez ocorre de forma bastante independente das predisposicoes do proprietario do capital. Somente na condicao de que o capital seja inicialmente transformado de M em C, ele pode continuar existir. Marx teve muito cuidado em enfatizsr que, nesse processo, o capital nao deve ser visto unilateralmente, como M ou como C: ele era, na verdade, a unidade de ambas as formas, formas que continuamente passavam de uma para a outra. O capital era "valor em movimento". O processo de acumulacao de capital nao surge das inclinacoes ou preferencias do dono do capital: seus imperativos decorrem da propria natureza do capital e e precisamente por isso que as leis de sua acumulacao se impoem sobre o capitalista individual, na verdade sobre  os proprietarios do capital como um todo. 

Nesse ponto, Keynes tem uma concepcao radicalmente diferente. Pois, de acordo com ele, a disposicao do dono do dinheiro de se desfazer dele e, na raiz, uma questao psicologica, nao um reflexo das necessidades intrinsecas do proprio capital. Aqui Keynes esta completamente enganado ao dizer que o dinheiro e sempre colocado em circulacao em condicoes definidas, condicoes que, em ultima analise, estao enraizadas na realizacao de uma taxa de lucro definida. Se tais condicoes nao forem satisfeitas, se houver um colapso repentino na taxa de lucro, entao nao so o capital monetario deixara de ser comprometido com a circulacao, mas como ja sugerimos, o exato oposto pode ocorrer: havera uma corrida geral para a liquidez que servira tanto para agravar a crise como para forcar a alta taxa de juros. (Naturalmente, erros de calculos podem  ser feitos pelos proprietarios do capital quanto as perspectivas de lucro futuro e,  nas circunstancias apropriadas, isso pode agravar claramente os problemas do capital como um todo. Mas esses erros de calculos nao podem, por si proprios, constituir a base para uma explicacao de uma crise).

No esquema keynesiano das coisas a taxa de juros e a oferta de dinheiro sao abstraida do processo de rotacao do capital; isto e, do proprio processo em que somente eles se originam. O ponto de partida de Keynes e o individuo isolado que, dadas certas disposicoes, toma uma serie de decisoes sobre como manter sua riqueza. Nao ha aqui uma analise concreta de como o dinheiro funciona especificamente dentro do sistema capitalista, e isso apesar do fato de Keynes rejeitar a concepcao presente em algumas versoes do neoclassicismo de que o dinheiro era apenas um veu, sem nenhum papel independente. Pois o dinheiro do qual comeca a rotacao do capital no esquema MC-C'-M' nao e apenas dinheiro, mas dinheiro funcionando como capital - em suma, capital monetario. Em outras palavras, ele so pode ser compreendido a partir de uma concepcao cientifica elaborada do capital e e exatamente isso que falta em Keynes. Alem disso, a existencia de dinheiro desempenhando o papel nao de dinheiro, mas de capital, obviamente implica a existencia do capitalismo, mas tambem do capitalismo em um ponto de sua evolucao onde ocorreu uma diferenciacao entre as varias formas de capital - capital industrial, capital monetario, capital mercantil. Se essas relacoes especificas forem mantidas em consideracao, a questao da liquidez e da taxa de juros serao abordadas de uma maneira bem diferente daquela de Keynes. Considerando que, para Keynes, a decisao de manter os ativos na forma liquida depende  das expectativas sobre os movimentos de  precos futuros e da taxa de juros.

Um ultimo ponto em conexao com a teoria keynesiana da taxa de juros pode ser feito. Como ja observamos, paras Keynes, a taxa de juros e determinada pela psicologia dos credores e pela politica de emprestimos do sistema bancario. Para entender  esse segundo fator, a quantidade de dinheiro em circulacao. Aqui a teoria de Keynes e enganosa, pois  confude a quantidade de dinheiro e a qualidade  de capital de emprestimo. Mas esses dois nao sao de forma alguma a mesma coisa ("a massa do capital de emprestimo e muito diferente da quantidade de circulacao" - III:499). O primeiro funciona como capital, como uma fase inicial mas necessaria no circuito do capital. No caso da inflacao, dado um crescimento do papel moeda acima das exigencias de faturamento e precos das mercadorias, um aumento na oferta  de capital para emprestimos que ocorrera como resultado de um crescimento de fundos temporariamente livres no banco sera neutralizado por uma depreciacao do capital para emprestimos resultantes da inflacao. Consequentemente, nessas circunstancias, pode nao haver aumento na oferta real de capital para emprestimos. Aqui, novamente, e revelado o fato de que os fenomenos do capitalismo nao podem ser julgados com base em suas aparencias imediatas, mas requerem uma analise teorica real para serem compreendidos

KEYNES E A QUEDA DA TAXA DE LUCROS

Na opiniao de Marx a tendencia de queda da taxa de lucro - uma questao muito discutida e disputada entre os economistas classicos - era a lei mais importante da economia politica. Isso porque se entendia que era a taxa de lucro que efetivamente regulava o processo de acumulacao de capital. Em outras palavras , o lucro era importante nao apenas como uma das varias formas de renda dentro do sistema capitalista, mas como a fonte da qual poderia ver os meios para a futura acumulacao de capital. Ao comentar Ricardo, Marx demonstra a importancia central que atribui a taxa de lucro e sua tendencia ao declinio, uma tendencia que o proprio Ricardo sentiu mas nao apreendeu inteiramente:-
"A taxa de lucro e o poder de atracao da producao capitalista, e somente as coisas que dao lucros sao produzidos. Dai o pavor dos economistas ingleses com a queda da taxa de lucro. Que a mera possibilidade que tal coisa possa ocorrer preocupa Ricardo, mostra sua profunda compreensao das condicoes  da producao capitalista...o que preocupa Ricardo e o fato de que a premissa fundamental e a forca motriz da acumulacao podem ser ameacada pelo desenvolvimento da producao (III:254)

A questao tambem e importante na consideracao da relacao entre a teoria economica de Keynes e a de Marx, na medida em que muito escritores compararam no passado a eficiencia marginal declinante do capital de Keynes a  teoria de Marx da tendencia da queda taxa de lucro.[9]

Antes de lidar com o tratamento de Keynes desse assunto, podemos apresentar brevemente, em termos um tanto formais, a concepcao geral de Marx sobre a queda da taxa de lucro. Marx divide o capital social total em tres grandes categorias: (1) capital constante (c), equivalente aos gastos com maquinarios, materias primas, eletricidade edificios. Este capital foi considerado constante na medida em que apenas transfere o valor nele incorporado e nao pode ser a fonte do novo valor. (2) capital variavel (v), o dispendio do capital na compra ds forca de trabalho, variavel porque e a unica fonte de expansao do valor. (3) mais-valia (s), o incremento no valor que cabe aos proprietarios de capital. A taxa de lucro e dada pela mais valia sobre o capital total: s/c+v. Agora, a medida que o capital se acumula, ha uma tendencia do capital constante crescer mais rapidamente do que a porcao variavel do capital: esta e a expressao em termos de valor dos avancos tecnologicos associados ao capitalismo ao longo de sua historia. O aumento relativamente rapido do capital  constante em comparacao com o elemento variavel do capital, Marx refere-se como a tendencia de aumento da composicao organica do capital (c/v). Embora um aumento nas composicao organica do capital normalmente produza um aumento na taxa de mais valia (s/v), ou pelo menos em sua (s) massa, existem limites objetivos definidos para esse aumento, entre eles os elementos fisico real para o tempo de trabalho disponivel. Mas, a menos que s/v aumente com rapidez suficiente para compensar o aumento da composicao organiaa (c/v) a lei da tendencia da queda do lucro se impoe e uma queda real da taxa de lucro ocorre.

Esse e esboco muito simples do que e na realidade uma lei complexa, um esboco que ignora tantas as varias  forcas contrarias a sua operacao para as quais Marx chamou atencao, quanto as disputas de longa data entre os marxistas sobre a sua interpretacao adequada. Mas o ponto a ser infatizado aqui e que, no que diz respeito a Marx, a tendencia da queda da taxa de lucro e um produto de forcas intrinsecas ao capital. A atributo essencial do capital e sua necessidade de se expandir constantemente e uma das consequencias dessa expansao e a tendencia declinante da taxa de lucro. Agora Keynes, sem duvida em um esforco para a suavisar o impacto de seu proprio trabalho, tentou criar a impressao de que todos os economistas ortodoxos ao longo do seculo XIX haviam aderidos a nocao de um capitalismo sem crises. Isso estava longe de ser o caso; mas o que caracterizou virtualmente  todas as discussoes sobre os problemas associados a acumulacao de capital foi que eles eram quase invariavelmente vistos como localizados em disturbios emanados de fora das relacoes sociais reais do capitalismo. (Esse foi o caso da celebre teoria das "manchas solares" do ciclo comercial de Jevons.)

Tendo esse ponto em consideracao, podemos considerar como Keynes trata o movimento da eficiencia marginal do capital. Keynes considera uma coisa, um "bem de capital" que produz uma renda. Ao interpretar o capital como uma serie de ativos que produzem renda, Keynes distingue duas de formas principais: "capital instrumental" (uma forma materializada de capital engajado no processo de producao, como no caso de uma maquina) e "capital de consumo" (uma forma material de capital operando na esfera do consumo, como, por exemplo, uma casa) (GT:226) Se aplicarmos essa definicao a producao, isso significaria que por capital temos apenas meios de  producao, isto e, empregando o termo de Marx, capital constante, e nao todo o  capital que compreende tanto elementos constantes quanto variaveis. Mas em qualquer caso, a sequencia do argumento geral de Keynes indica que por Capital ele entende apenas seus elementos materializados, ou seja, os meios de producao (uma concepcao comportilhada por seus seguidores radicais, principalmente Joan Robinson.) Portanto, verifica-se que a eficiencia marginal do capital nao deve ser igualada a taxa de lucro marxista, como muitos pareciam ter assumido no passado, uma vez que aqui o lucro e obtido apenas em conexao com o capital constante, e nao com o capital total.

De acordo com a teoria de Keynes, qualquer investimento ainda nao utililizado sera realizado com uma condicao: que a taxa de retorno prevista sobre o custo do investimento exceda a taxa de juros. Dado que os empreendedores buscam a maximizacao do lucro, novos investimentos serao realizados ate o ponto em que a eficiencia marginal do capital seja igual a taxa de juros. A deficiencia marginal e determinada por dois fatores: (a) o retorno esperado de um ativo que gera renda e (b) o preco de oferta ou custo de reposicao do ativo que e a fonte desse rendimento potencial. Esse rendimento assume a forma de um fluxo de renda durante um periodo de tempo, uma serie de anuidades durante a vida prevista do investimento:-
"Mas precisamente, defino a eficiencia marginal do capital como sendo igual a taxa  de desconto que tornaria o valor presente da serie de anuidades dadas pelos retornos esperados do ativo de capital durante a sua vida apenas igual ao preco da oferta"(GT:135)

Os rendimentos prospectivos de um ativo sao, sem duvida, para Keynes, o elemento chave na determinacao da eficiencia marginal do capital. Eles sao prospectivos e nao reais porque, no momento em que ocorre o investimento, nada mais sao do que expectativas por parte do investidor. Devido a natureza dos ativos  de capital, especialmente aqueles de longo prazo, grandes despesas imediatas sao necessarias antes que qualquer retorno esteja disponivel para o investidor. Na concepcao de Keynes, os ativos de capital sao um elo entre o presente conhecido e um futuro incerto.

Agora, por que a eficiencia marginal do capital deveria diminuir no longo prazo? Porque, diria o argumento de Keynes, quanto mais capital e investido, ele se torna mais abundante (menos escassos) e, portanto, produz um rendimento menor. Subscrevendo a teoria de escassez  de capital, Keynes argumenta que os retornos dos ativos de capital excedem seu preco de oferta apenas porque sao escassos. (Gr: 213). Cada aumento no investimento tras um aumento na producao que compete com a producao do capital existente. O volume crescente de producao tende baixar os precos e, portanto, diminuir tambem os rendimentos esperados da capacidade futura da planta. E obvio que Keynes argumentou que, se a taxa de juros fosse mantida abaixo da eficiencia marginal (em declinio) da producao de capital, o investimento poderia continuar descomedidamente. Com investimento continuo, o capital deixaria de ser escasso em certo ponto e seu retorno, ou eficiencia marginal, seria entao reduzido a zero, perspectiva que poderia ser realizada no espaco de uma geracao, pensva Keynes. (Exatamente como o capitalismo poderia funcionar com uma taxa de retorno zero para o capital so pode permanecer um misterio do ponto de  vista da compreensaso marxista  desse sistema. Keynes estava, de fato, propondo a existencia de capital sem a existencia de lucro, uma situacao  nao muito toleravel para os proprietarios do capital, alguem poderia pensar!).

Uma familiaridade com a historia da teoria economica revela que, na explicacao de Keynes para um declinio secular na eficiencia marginal do cspital, pode-se  encontrar mais do que um eco da teoria de Adam Smith da queda da taxa de lucro, proposta cerca de 150 antes. Pois foi Smith, seguindo David Hume nesse ponto, que procurou explicar o declinio da taxa de lucro como resultado da crescente competicao entre os capitais consequentre a acumulacao. Em A Riqueza das Nacoes, Smith diz:-
"O aumento do estoque, que eleva os salarios, tende a diminuir o lucro. Quando as acoes de muitos comerciantes ricos sao transformadas no mesmo comercio, sua competicao mutua tende naturalmente a eliminar seu lucro; e quando ha um aumento semelhante de estoque em todos os negocios diferentes realizados na mesma sociedade, a mesma competicao deve produzir o mesmo efeito em todos eles.(Smith 1976:105)

E referindo sobre a taxa de lucro, Smith diz:- "O estoque neles acumulados chega com o tempo a ser tao grande, que nao se pode mais ser empregado com o antigo lucro naquela especie de industria que lhes e particular. Essa industria tem seus limites como qualquer outra; e o aumento do estoque, ao aumentar a concorrencia, necessatismente reduz o lucro. (ibid: 144-5).

Marx rejeitou essas explicacoes para o  declinio da taxa de lucro centrado na competicao. Podemos supor que as "forcas de competicao" fixem a taxa de lucro em 15%, mas a questao ainda permanece: porque esse numero e de 15%? Por que nao 150%?Atribuir a determinacao da taxa de lucro a competicao era, sustentava Marx, eram tentativa de explicacoes sobre  a oferta e demanda que deixavam de lado,  inexplorada as forcas que estavam por detras da oferta e demanda. Isso levou a um argumento circular: as "forcas de competicao" determinavam a taxa de lucro enquanto, o mesmo tempo, a intensidde dessa competicao era medida precisamente pela mesma taxa de lucro. Naturalmente, ninguem nega o fato observavel da competicao entre capitais; o ponto de Marx, no entanto, era que esta competicao e meramente externas, forma externa  em que as contradicoes internas do capital se expressam. A competicao e a esfera onde  que as leis do capital sao executadas. mas essas leis nao sao geradas nessa esfera.

A explicacao de Keynes para o declinio da taxa de lucro, apesar do fato de ser adornada no que superficialmente parece ser uma nova terminologia, em ultima instancia, se apoiava na velha lei neoclassica dos rendimentos descrescentes.Marx despresava essa "lei formulada de maneira clara pelo  economist do seculo XVIII Turgot, como sendo nada mais do que uma tautologia, baseada em suposicoes estaticas e, a esse respeito, pouco diferente da "teoria" malthusiana da populacao que tambem foi implicitamente fundada na pressuposicao de uma tecnologia estatica.

A teoria de Keynes da eficiencia marginal do capital era uma lei que pretendia lidar com uma tendencia secular fundamental na economia capitalista, uma economia caracterizada exatamente por aquelas forcas das quais a lei se abstrai, ou seja, uma tendencia de revolucionar constantemente as tecnicas de producao. E por essa razao que Keynes foi atacado pela falta de realismo ligada a esse aspecto de sua teoria, uma critica de forma alguma restritas aos simpaticos ao marxismo. Como Schumpeter (1952: 283), por exemplo corretamente apontou sobre os dispositivos teoricos de Keynes: "Todos os fenomenos incidente a criacao e mudanca neste aparelho [industrial], isto e, os fenomenos que dominam o processo capitalista, sao, portanto, excluido da consideracao".

Essa suposicao muito artificial  de uma dada tecnologia  tem consequencias diretas para a teoria do multiplicador keynesiana. Essa teoria trata do fato de que o consumo cresce com a expansao da producao. O crescimento da producao do Departamento I (aquele que produz os producao de producao) cria, na verdade, uma demanda adicional por maquinarios, materias primas, etc bem como pelos meios de consumo dos trabalhadores empregados neste  departamento. Isso, por sua vez, implica um crescimento da producao no outro departamento - Departamento II - que produz meios de consumo. Mas o crescimento mais rapido  da producao dos meios de producao significa o crescimento da forca produtiva do trabalho social e e apenas outra forma de expressar o fato de que a composicao organica do capital (a proporcao do capital constante para o variavel) esta aumentando. Um aumento na composicao organica do capital encontra expressao no declinio relativo e, em certos casos, absoluto, da demanda por forca de trabalho. A acumulacao de capital significa a expansao da producaso em um nivel novo e mais alto de tecnologia. E esse crescimento do peso relativo do capital constante  em relacao ao capital variavel ocorrera em ambos departamentos da economia. Os resultados desse aumento na composicao organica dependem da natureza precisa do aumento, mas uma coisa segue: embora a acumulacao de capital (para o keynesiano, um aumento do investimento) possa levar a um aumento absoluto no numero de empregados vai causar uma reducao relativa de emprego. Consequentemente, nao existe uma relacao precisa entre um aumento do investimento e um aumento do emprego; embora possa ser possivel obter essa relacao pars investimentos anteriores, ela e interrompida toda vez que ocorre um novo investimento, na medida em que esse investimento ocorre quase invariavelmente em um novo e mais elevado nivel de tecnica produtiva. Portanto, aqui novamente o keynesianismo abstrai das caracteristicas especificas do capitalismo, isto e, o que desenvolvimento das forcas produtivas  assume a forma de uma composicao organica de capital e que a producao, em ultima instancia, depende do consumo.

Ha uma consequencia final da suposicao de Keynes de uma dada tecnologia que merece ser mencionada: isto e, que ela nao pode oferecer nenhuma explicacao adequada para o movimento ciclico da taxa de lucro. Se a medida que o capital se acumula e se torna "menos escasso", sua eficiencia marginal diminui, entao a taxa de lucro pode mover-se apenas em uma direcao: para baico. Isso implica que o problema fundamentsl do capitalismo nao e um problema de alternacao ciclica entre  expansao e recessao, mas de estagnacao e declinio constante, como observamos, precisamente a direcao em que varios seguidores de Keynes, como Alvin Hansen nos EUA, de fato interpretou seu trabalho. Aqui, novamente, deve ser enfatizado que a concepcao  de Marx era de uma ordem bem diferente. Pois apesar das interpretacoes ao contrario, nao ha nenhum elemento de mecanicismo em sua concepco da tendencia da queda da taxa de lucro. Precisamente porque essa lei refletia o choque de fatores objetivos e subjetivos (os quais incluiam a forca da classe trabalhadora, seu grau de consciencia, a qualidade de sua direcao, etc) seu desdobramento empirico nunca poderia ser conhecido de antemao. O capital faz esforcos continuos para superar os efeitos da operacao desss lei, mas ao faze-lo apenas levanta obstaculo cada vez maiores para a expansao suave e sem crises das forcas produtivas: Essa e a natureza contraditoria do sistema capitalista: "Producao capitalista estas continuamente empenhada na tarefa de superar essas barreiras iminentes, mas as superas apenas por meios que colocam as mesmas barreiras em seu caminho em um tamanho mais formidavel" (III:243).

KEYNES SOBRE O CONSUMO

Podemos considerar brevemente o componente final do sistema de Keynes, isto e, o consumo. Aqui novamente, a tendencia geral de sua obra de abstrair das relacoes sociais especificas do capitalismo e muito evidente. (E digno de nota que a ortodoxia em geral lida com "o consumidor" como um dos atores centrais, se nao o principal ator, no palco economico.  Naturalmente, essa pessoa e uma abstracao vazia, arrancada de todas as relacoes sociais e de classe. O fato de que "todos sao consumidores" e uma proposicao que serve para ocultar as divisoes antagonicas que caracterizam a sociedade capitalista.)

As proposicoes de Keynes sobre o consumo ja foram mencionadas, ja bem conhecidas e, portanto, nao requerem mais que um breve esboco. Em primeiro lugar, ele sustentou que, devido a existencia da propensao marginal a consumir - de acordo com Keynes uma ley psycologica fundamental - a lacuna entre a renda e o consumo aumentaria e, a menos que essa lacuna fosse adequadamente eliminada, o nivel de renda cairia abaixo do necessario para sustentar o pleno emprego. Varias medidas estariam disponiveis para aumentar o nivel de renda, incluindo um certo grau de redistribuicao de renda, embora Keynes tivesse o cuidado de insistir que isso deveria ter proporcoes apenas "moderadamente conservadoras".

Para Keynes, "consumo" e o consumo de todos os individuos da sociedade, cada um estando sujeito a lei psicologica basica que ele acreditava determinar a relacao entre renda e consumo. Isso esta longe de ser a  abordagem de Marx. Ele tracou uma distincao entre consumo individual, por um lado, e consumo industrial, por outro. Uma distincao analoga e aquela entre comprador e consumidor. O comprador, para Marx, e alguem que consome algo para suas proprias necessidade, ao passo que o ato de consumo, envolve o uso de algo no processo de trabalho. As compras realizadas pela maioria da populacao dentro da economia capitalista excluem a maior parte das mercadorias produzidas dessa economia. Pois os trabalhadores nao compram nenhum instrumento de  trabalho, nenhuma materia-prima; compram apenas artigos de subsistencia, isto e, mercadorias que entram no consumo individual em oposicao ao consumo produtivo. Marx explica o significado desse ponto quando diz:-
"Isso mostra tambem a ambiguidade da palavra consumidor e o quanto e errado identifica-la com a palavra comprador. No que se refere ao consumo industrial, sao justamente os trabalhadores que consomem maquinas e materias primas, utilizando-as no processo de trabalho. Mas eles nao os usam para si proprios e, portanto, nao sao compradores deles. As maquinas e as materias primas nao sao para eles nem valor de uso nem mercadorias, mas condicoes objetivas de um processo do qual eles proprios sao as condicoes subjetivas.(Th II:518)

Marx esta aqui com efeito insistindo que nao e possivel lidar com o nivel de consumo em abstrato, a-socialmente, explicando-o por referencia a uma suposta  disposicao psicologica universal por parte de cada individuo separado, Dentro do sistema capitalista, o consumo ocorre sempre dentro de relacoes economicas (de classe) definidas e e somente comecando com essas relacoes humanas bastantes objetivas que a  natureza real do consumo e seus limites podem ser analisados. No que diz respeito ao sistema capitalista, as caracteristicas essenciais dessas relacoes economicas, visto que afetam o consumo, sao (1) a maioria dos produtores (a classe trabalhadora) nao sao consumidores(sao nao-consumidores) [sao nao-compradores na terminologia de Marx] da maior parte dos seus produtos, isto e os meios de producao e as materias primas, e (2) a maioria dos produtores pode consumir o equivalente de seu produto com uma condicao: que criem mais-valor. Em suma, o nivel de consumo da classe trabalhadora nao pode ser considerado determinado pelas tendencias psicologicas de um grande numero de individuos dispares, mas pela quantidade  de capital variavel (o equivalente a massa salarial) que, por sua vez, depende da taxa de acumulacao de capital.

MAIS UMA VEZ SOBRE A NATUREZA DO CAPITAL" O CASO DE JOAN ROBINSON

Concentramo-nos de proposito nas concepcoes conflitantes de capital na obra de Marx e Keynes. Fizemos isso, porque o problema da essencia do capital afeta a natureza mais intima da producao de riqueza  na sociedade contemporanea. Sustentamos que o tratamento que Keynes da ao capital e, entre outras coisas, caracterizado pela tentativa de separa-lo da sua relacao real com a producao. "E bem preferivel falar do capital como tendo um rendimento ao longo de sua vida acima do seu custo original, do que como sendo produtivo. .."(GT: 213). E o que diz Keynes, reduzindo assim a questao a apenas uma questao de semantica. Sua unica preocupacao nao e com a fonte do "rendimento do capital" mas com os fundamentos sobre os quais um ativo como capital traz um rendimento superior ao seu "preco de oferta"

Este capitulo falou da importancia decisiva para os marxistas de uma critica teoricamente solida de Keynes, dados os esforcos de varios escritores para construir uma ponte entre Marx e Keynes (embora um Keynes adequadamente interpretado). Joan Robinson foi nisso uma figura decisiva para essa tentativa. Nem e preciso dizer que Robinson por muito tempo ocupou uma posicao central na teoria economica do seculo XX. Membro do famoso "Cambridge Circus), que ajudou Keynes  a formular as ideias que produziu a Teoria Geral, ela tem sido uma das principais defensoras da tradicao de Keynes nos anos apos sua morte, tanto contra seus "amigos" quanto contra seus inimigos declarados. Nao sendo marxista, ela sempre alegou simpatia consideravel pelas ideias de Marx. Politicamente, ao longo dos anos do pos-guerra, ela se identificou com uma serie de  causas  radicais. Tendo em vistas essas varias facetas de seu trabalho, suas opinioes sao de consideraveis interese no contexto das questoes levantadas neste capitulo. Obviamente que ela tambem esteve na vanguarda daqueles que criticaram algumas das propostas acalentadas da economia neo-classica, especialmente aquelas que tratan da suposta "produtividade" do capital. Nao nos preocupamos aqui com a natureza dessas criticas em si. .Elas derivam essencialmente do trabalho de Sraffa, que comecou na decada de 1920. A escola de Cambridge tem persistentemente chamado a atencao para os problemas que a teoria neo-classica ortodoxa encontrou em conexao com a teoria do capital. Eles podem ser resumidos da seguinte forma. Essa teoria nao contem pre-requisitos para agregar  bens de capital, isto e, descobrir a verdadeira base que une as coisas para formar o capital e determinar sua magnitude. Em segundo lugar, em qualquer teoria que relacione a origem e os retornos do capital com a questao do tempo, ocorre um circulo vicioso: a magnitude do capital e determinado pela capitalizacao das receitas futuras, mas para estabelecer esse metodo e necessario uma taxa de juros; esta e  entretanto, uma magnitude cujo tamanho depende da quantidade de capital. Este e o cerne das criticas a teoria ortodoxas feitas por aqueles da escola de Sraffa.

Agora a questao e: a escola de Cambridge foi realmente ao fundo da questao em suas criticas a nocao neo-classica de capital? Joan Robinson esboca sua ideia do problema dea produtivdade do capital quando diz:-"Se decidimos  dizer que o capital e produtivo ou que o capital e necessario para tornar o trabalho produtivo, nao e uma questao de muita importancia (aqui, como em Keynes, a questao e reduzida a um problema inteiramente semantico)....Na verdade, uma linguagem que nos obriga a dizer que o  capital (em oposicao a propriedade do capital) nao e produtivo obscurece a questao. E mais convincente dizer que o capital e a aplicacao da ciencia a industria sao imensamente produtivos, e que as instituicoes de propriedade privada, evoluindo para o monopolio, sao deleterias, porque nos impedem de ter tanto capital, quanto o tipo de capital, de que precisamos.(Robinson 1941:18)

Agora, a menos que se considere que, o valor, o capital e "apenas um nome" a questao de saber se o capital e produtivo e, se for, em que sentido preciso, nao e de forma alguma uma questao de  definicao de palavras, mas uma questao central, na verdade, a questao central para a teoria economica.Isso e demonstrado, entre outra coisas pela historia da economia, que tem sido forcada a lidar continuamente com o misterio apresentado pelo capital [10].

Segue-se do ponto de vista da teoria do capitalismo de Marx que apenas o trabalho (mais precisamente o trabalho abstrato) cria valor. Mas nao e de forma alguma uma consequencia dessa concepcao que, na opiniao do marxismo devem ser negado a qualquer forma de produtividade aos "fatores de producao"como sugere Robinson (1975:19) Muito pelo contrario: na medida em que esses fatores aumentam o nivel de produtividade do trabalho, eles certamente contribuem para a producao de riqueza, ou seja, para  de valores de usos. A palavra "produtividade", entretanto, aqui carrega dois significados distintos.  Primeiro, pode ser usado para denotar a producao de valores de usos,; tambem pode indicar que relacoes sociais definidas estao sendo produzidas e reproduzidas. Quando Marx enfatizou que o capital e produtivo, ele o fez de um angulo definido: como a relacao social predominante da sociedade capitalista. E sua produtividade e, deste  ponto de vista, bem especifica: e produtiva de trabalho excedente que assume a forma de juros, lucros, etc. E o capital nao estava em posicao de extrair esse trabalho porque envolvia espera, porque o "risco" estava envolvido, era "escasso", funcionava como um "meio de producao" ou "favorecia a "aplicacao da ciencia a industria (Robinson). O capital e produtivo precisamente porque foi uma relacao historica essencial para a  extracao de trabalho excedente e muito mais "produtivo" neste sentido do que o feudalismo ou qualquer outra forma de economia pre-capitalista. Uma maquina a  vapor em uma mina e produtiva de valores de uso (ou melhor, o trabalho materializado em tal maquina e produtivo), mas isso nao tem nada a ver com o fato de ser capital. Seria igualmente produtivo em termos de riqueza se pertencesse aos trabalhadores da mina e nao ao empresario. Nao estamos lidando aqui com uma questao de palavras, mas com uma questao central: derivamos o significado da palavra produtividade das  relacoes do homem com a natureza ou das relacoes do homem com o homem?Em outras palavras, ha uma distincao a ser feita entre a produtividade em abstrato e algo que e produtivo especificamente para o capital? Na opiniao de Marx, nao ha apenas uma distincao aqui, mas uma contradicao profunda e cada vez mais profunda:(11)(A distincao que Robinson estabelece entre capital e propriedade do capital confunde precisamente a essencia da questao: que o capital sendo uma relacao social nao pode existir a parte de relacoes de propriedades definidas. Como aqueles socialistas utopicos do seculo XIX criticados por Marx, eles querem se livrarem dos capitalistas enquanto retem o capital. Mas e claro que eliminar um e necessariamente eliminar o outro. Quando Keynes anunciou sua teoria da escassez do retorno ao capital, ele estava claramente "explicando" concepcao de produtividade do primeiro ponto de vista, isto e do ponto de vista da relacao do homem com a natureza; o capital e produtivo porque existe apenas em quantidade limitada, assim comp a terra rende uma renda porque e "escassa". E assim com Robinson, que confunde capital com a "aplicacao da ciencia a industria [12]

O CONCEITO DE EQUILIBRIO

Um tema persistente entre muito dos keynesianos radicais e a sua hostilidade a nocao de equilibrio. Agora, uma coisa que Marx e Keynes certamente compartilhavam em comum era a sua rejeicao da lei de Say, a concepcao de que o capitalismo era um sistema economico que se autoequilibrava automaticamente. Mas a concordancia deles sobre esse ponto, na verdade, esconde mais do que noz diz, porque os fundamentos sobre os quais Marx se opos a Say eram fundamentalmente diferentes  dos de Keynes. Sustentamos que, em sua caracterizacao do desenvolvimento do pensamento economico do seculo XIX a lei dos mercados de Say. Na verdade, como ja observamos, em sua redefinicao da economia classica, Keynes foi mais longe a ponto de tornar a aceitacao da lei de Say o criterio distintivo para a adesao a essa escola.

Nao ha duvida de que o amplo apoio dado ao argumento de Say segundo o qual o desequilibrio na economia capitalista e em principio impossivel foi uma expressao significativa da natureza cada vez mais apologetica da economia do seculo XIX, bem como uma reflexao por parte de setores da classe media pela paz e estabilidade social. Mas nao se segue dai que a negacao de qualquer desiquilibrio de longo prazo na economia burguesa tenha marcado a verdadeira essencia da escola vulgar da qual Say e o verdadeiro pai. Tambem nao se segue que a rejeicao da concepcao de equilibrio, a moda do pos-keynesianismo, constituia uma base solida para a critica da economia neo-classica ou para o esbabelecimento de uma teoria que capta o movimento real do capitalismo [13], mas surgiu de uma fonte mais profunda e universal: na remocao consciente  de uma consideracao das relacoes sociais de producao do dominio da economia. Foi esse afastamento de uma analise das relacoes (antagonicas) da economia burguesa, uma justificativa do sistema capitalista como baseado em uma harmonia natural e eterna de interesses, que transformou a ciencia da economia politica na ideologia da escola vulgar. A esse respeito, Keynes, estava longe de ser justificado ao agrupar Say e Ricardo com o argumento de que eles compartilhavam uma crenca comum na natureza inerentemente estavel da producao capitalista, por mais conveniente que esse dispositivo pudesse ser para os propositos pedagogico da Teoria Geral.

Tentamos demonstrar  que no nivel de suas categorias basicas  Keynes adotou o ponto de vista da escola vulgar, que comecou sua analise nao a partir das relacoes sociais objetivas da economia capitalista, mas a partir do reflexo imediato dessas leis na consciencia dos participantes na producao da burguesa. Assim, quando Marx criticou a afirmacao de Say de que o capitalismo assegurava as condicao para o equilibrio automaticamente, Marx apontou que Say foi capaz de chegar a essa (falsa) conclusao apenas ignorando  precisamente as caracteristicas que eram especificas  do capitalismo. Concretamente, quando Say propos que "a oferta cria sua propria  demanda" (Marx chamou isso de "balbucio infantil" e "indigno" de Ricardo quando esse o repetiu), ele de fato assumiu as condicoes nao da producao capitalista, mas da troca elementar.  Marx se opos a proposicao de Say - que a oferta e a demanda sempre existiram em um estado de equilibrio - porque era uma tautologia vazia, isto e, esvaziada de  qualquer conteudo social e historico. Naturalmente, as categorias de oferta e demanda existem na economia capitalista, assim como as categorias que constituem a base do sistema de Keynes (investimento, consumo, poupanca etc) certamente existem em um sentido empirico. Mas, para analisar concretamente a oferta e a demanda dentro de tal economia, era preciso entender que a producao de  riqueza assume uma forma social especifica - a producao de mercadorias para o mercado, e que a oferta e a demanda por mercadorias foram moldadas pela caracteristica que domina nesta economia -sua divisao nas duas grandes classes , uma que monopoliza os meios de producao e outra que depende inteiramente da venda de  sua forca de trabalho. Em conexao com a producao de mercadorias, uma mercadoria, como algo que atende a uma necessidade humana especifica, e um valor de uso; mas ao mesmo tempo, tem um valor de troca definido, significando o fato de que constituia uma proporcao do trabalho social total. Marx se opos a proposicao vazia de Say porque, na verdade, ela obscurecia a natureza contraditoria de toda a riqueza produzida na economia capitalista.

A essencia do argumento de Marx neste ponto e a seguinte. Tomemos o caso de um fabricante fornecedor de aco. Ele fornece em um determinado periodo de tempo uma quantidade de aco de valor de uso definido; digamos 10 toneladas de metal de certa qualidade. Ao mesmo tempo, ele fornece aco por um valor de troca especifico, representado por seu preco, $500. Mas entre esses dois lados da mercadoria ha uma diferenca profunda que o pensamento formal obscurece. Pois por um lado o fabricante coloca no mercado aco com valor de uso definido que, pelas suas caracteristica fisicas e capaz de suprir necessidades definidas. Ao mesmo tempo,  o valor de troca desse aco existe apenas idealmente  na forma de um preco pelo aco que ainda nao foi realizado. O vendedor do aco esta interessado em uma coisa e apenas uma coisa: o valor de troca de seu aco. Ele fornece o valor de uso, mas esta preocupado apenas com o valor de troca.  que assim obtera (em dinheiro). Obviamente, e perfeitamente possivel que o  valor de troca de aco seja expresso em quantidade bem diferentes do metal e, de fato. sera o caso quando houver mudancas na produtividade do trabalho na fabricacao de aco. A oferta do valor de uso e a oferta do valor de troca a realizar nao sao, portanto, de maneira alguma identicas, uma vez que quantidades bem diferentes de valor de uso podem ser representadas pela mesma quantidade  de valor de troca. E so porque o valor de troca de aco fornecido, mas ainda nao realizado, e a quantidade de aco nao coincidem, nao ha razao para assumir a priori que nao havera contradicao entre esses dois polos  opostos da mercadoria.

O ponto aqui e que Marx nao se opos a Say porque ele empregou a concepcao de equilibrio como tal, mas porque na proposicao de que a oferta  e demanda sempre necessariamente equilibram as relacoes sociais especificas que estao por detras dessas abstracoes nao foram consideradas e, portanto, a possibilidade de uma contradicao surgindo entre elas. Resumindo, digamos que ele chegou as suas conclusoes com base em abstracoes vazias e puramente formais.
"Nunca se deve esquecer que na producao capitalista o que importa nao e o valor de uso imediato, mas o valor de troca e, em particular, a expansao da mais valia. Este e o motivo motriz da producao capitalista, e e uma concepcao bonita que - para afastar as contradicoes da producao capitalista - se abstrai de  sua base e a retrata como uma producao que visa a satisfacao direta  dos produtores. (Th II:495)"  E mais:- "ja que o processo de circulacao do capital nao se completa em um dia, mas  se estende por um periodo muito longo ate que o capital retorne em sua forma original, uma vez que este periodo coincide com o periodo em que os precos de mercado se igualam aos precos de custos, as grandes convulsoes e mudancas ocorrem na produtividade de trabalho e, portanto, tambem no valor real das mercadorias, e bastante claro que entre o ponto de partida, o capital pre-requisito, e o ponto de seu retorno ao final de um desses periodo, grandes catastrofes podem ocorrer e elementos de crises devem ter se acumulado e desenvolvidos, e esses nao podem de forma alguma ser descartados pela proposicao lamentavel de que produtos trocam produtos. A comparacao do valor em um periodo com o valor das mercadorias em um periodo posterior nao e uma ilusao escolar....antes, constitui o principio fundamental do processo de circulacao do capital.(Th II493)

Uma analise do capital deve levar em conta nao apenas as relacoes sociais especificas desse modo de producao, mas deve compreender seu movimento como um todo - em todos os seus momentos interconectados e contraditorios. A essencia do ecletismo e pegar pedacos do que e um processo unificado e combina-los em uma serie de abstracoes vazias. Por mais flexivel, por mais aparentemente "nao dogmatico" que esse ecletismo pode parecer a mente destreinada, Marx insiste, corretamente em um metodo diferente: neste caso, um que busca apreender o capital como um todo no curso de seu desenvolvimento real. E se este e o objetivo da ciencia, torna-se impossivel separar os momentos de equilibrio daqueles de desequilibrio em qualquer sentido absoluto; isso ocorre porque as  condicoes para o equilibrio da economia burguesa nascem das condicoes de seu desequuilibrio e vice versa. Aqui, o metodo formal da economia esta completamente perdido. Durante o periodo de expansao, o olhar vulgar e dirigido exclusivamente para aqueles indices - cifras da producao, crescimento do comercio, expansao do investimento - que refletem apenas as formas externas superficiais da economia capitalista. Esses "fatos" empiricos podem ser comparados de varias maneiras, e muito economistas gastam seu tempo fazendo pouco, mas apenas isso. Em uma recessao, todos esses indicadores tendem a se transformar no oposto. Novamente seguindo a prescricao do positivismo, os indicadores podem mais uma vez ser comparados no esforco de explicar a treansformacao. Mas porque a economia burguesa nao penetra abaixo da superficie dos "dados" economicos imediatos (declarando que tais esforcos sao impossiveis ou envolvem "metafisica"), essa transformacao, embora possa ser registrada empiricamente, nunca pode ser entendida teoricamente. Para entender  qualquer fenomeno teoricamente, os conceitos cientificos sao essenciais. E so porque isso esta faltando na economia ortodoxa, nem os periodos de alta nem os periodo de recessao que crescem organicamente a partir das condicoes da expansao podem ser compreendidos [14]

A analise de Marx da producao de capitais individuais poderia talvez  dar origem a falsa impressao de que o unico objeto da producao capitalista  - a criacao de valor e, acima de tudo, a criacao de mais-valia -e aquele em que o papel dos valores de uso pode ser ignorado. Quando Marx estuda a producao e a reproducao do capital social, isto e, o capital considerasdo como um todo, isso nao e verdade, pois transparece que essa producao de valor e mais valia e, de fato, restringida por uma barreira que nao era tida em consideracao na analise anterior, isto e  a barreira constituida pelo valor de uso a escala social. A fim de reproduzir seu capital, a sociedade nao deve apenas  ter um fundo de valor total disponivel, mas deve encontrar esses valores a mao de uma forma util especifica; isto e, em forma material definida (como maquinas, materias primas, meios de subsistencias, etc). E todas essas coisas diversas devem apresentar-se em proporcoes determinada pelos requisitos tecnicos da producao, proporcoes que, como os metodos de producao estao em constante mudanca, devem ser alteradas com o tempo.

Ao mesmo tempo, entretanto, a proposicao basica de Marx - de que o capitalismo e um sistema fundado na producao e reproducao da mais-valias, e um processo no qual a satisfacao das necessidades humanas e uma questao inteiramente acidental - ainda se mantem. Ou seja, as necessidades humanas so sao satisfeitas na medida em que satisfaze-las e um meio para acumulacao de mais-valor. E essa contradicao sempre presente, crescente e em desenvolvimento entre o valor de uso e o valor de troca que esta no cerne das contradicoes do capitalismo.

Marx de forma alguma nega a possibilidade de uma solucao para essa contradicao. Mas e a natureza dessa solucao que deve ser considerada com cautela.[15] Os Esquema de Reproducao do volume 2 do Capital fornecem a chave para compreender essa contradicao e a maneira como o capitalismo lida com ela. Marx divide a producao social em dois grandes departamentos, aquele que produz meios de consumo para as ambas classes basicas (Departamento II), e aquele que produz meios de producao, a partir dos quais o estoque de capital existente e substituido e ampliado (Departamento I). Marx mostra como cada departamento e obrigado a trabalhar para o outro, estabelecendo assim uma serie de relacoes reciprocas complexas entre eles. Cada departamento pode substituir seus elementos de producao necessarios apenas na condicao de obter uma fracao desses elementos do outro departamento e em uma forma adequada. Por outro lado, cada departamento so obtem os valores de uso de que necessita se os obtiver do outro departamento por meio da troca de valores equivalentes. Nesses esquemas de reproducao, Marx visa estabelecer  nao apenas a maneira pela qual todos os componentes do produto de valor anual da sociedade (c+v+s) se substituem mutualmente. Pois ele tambem demonstra como uma proporcao da mais-valia total produzida pode ser dedicada a expansao posterior da producao capitalista, o que naturalmente pressupoe a troca regular desses componentes de valor e sua realizacao no mercado. Nesse sentido, os esquemas de reproducao sao aspectos  da solucao que Marx da ao problema da realizacao.

Deve-se notar que essa divisao da economia capitalista em duas secoes basicas nao era para Marx arbitraria. O produto do Departamento I e, em termos fisicos, maquinas e equipamentos, materiais de varios tipos, como combustiveis e eletricidade, que sao consumidos de forma produtiva, Os produtos do Departamento II (alimentacao, vestuario, habitacao) so podem ser utilizados para consumo pessoal nao produtivo. O objetivo de Marx, seguindo o exemplo de Quesnays, era retrar os varios atos individuais de circulacao que aparecem na superficie da sociedade em seu movimento caracteristico, isto e, a luz da "circulacao entre as grandes classes economicas funcionalmente deteerminadas ds sociedade" (II:363) Aqui, a distincao que Marx faz entre consumo produtivo e consumo pessoal e de natureza bem diferente da distincao consumo/unvestimento de Keynes. Enquanto a separacso analitica de Marx e, em ultima instancia, um reflexo da divisao de classicas basicas da sociedade, a de Keynes e desprovida de conteudo social real, pois para ele a distincao entre consumo e investimento se limita essencialmente a questao do tempo.

Como ja indicamos, varios economistas - James Mill, Ricardo e Say entre eles - de fato "resolveram" esse problema da relacao entre a producao e o consumo, mas apenas de maneira superficial. Eles fizeram isso confundindo producao capitalista (M - C-M') com producao de mercadoria simples (C-M-C) e esta ultima com troca (C-C). Qualquer ato de producao, de acordo com essa concepcao, cria sua propria demanda e, uma vez que, em ultima analise, os produtos sao, por definicao, trocados por produtos, ha um equilibrio automatico entre vendedores e compradores. Mas e umas conclusao estabelecida nao por meio de uma investigacao dos processos reais de producao e circulacao na economia capitalista, mas por meio de suposicoes arbitrarias e bastantes irrealistas. Se as suposicoes propostas por Say forem aceitas, a unica fonte de colapso capitalista ocorrera se, por quaisquer razoes, as  mercadorias nao forem produzidas nas proporcoes corretas. Em outras palavras, a crise do capitalismo seria de desproporcionalidade.

Sismondi defendia uma posicao diametralmente oposta na questao do equilibrio na economia capitalista. Ao contrario dos economistas classicos ingleses, ele considerava as mercadorias que apareciam no mercado nao apenas como produtos do trabalho, mas como produtos do capital. Ele acreditava que o capital e capaz de gerar aumento de valor, isto criar as condicoes para a sua propria auto-expansao, porque o dono do capital nao paga todos os custos da producao e, essencialmente, porque da ao trabalhador um salario insuficiente em troca de seu trabalho. Para ele, e justamente esse aumento de valor que fornece a fonte para a acumulacao de capital. Mas entao deve surgir a questao: como pode o produto do excedente ser vendido se o trabalhador que o produziu nao pode comprar de volta a parte do produto correspondente ao seu trabalho, e se os proprios capitalistas nao consomem esse produto excedente (uma proposicao que se segue se uma parte dele foi capitalizada)? Sismondi considerava esse um problema insoluvel. Ele acreditava que, em ultima analise, a realizacao do produto excedente era impossivel, a nao ser que fosse alienado, isto e realizado no exterior.

Marx rejeitou ambas as solucoes, a de Malthus e de Sismondi como sendo igualmente unilaterais e, portanto, em ultima analises, falsas. Ele nao queria negar que a realizacao da mais valia fosse um problema real para a economia capitalista. No entanto, ele rejeitou as duvidas de Sismondi quanto a possibilidade de sua realizacao sob o capitalismo. Segundo Marx, a producao capitalista  de fato cria seu proprio mercado e, dessa forma, e capaz de "resolver" o problema da realizacao da mais valia. Mas nao o faz de maneira metafisica (abolindo o problema), mas em um sentido verdadeiramente dialetico. Isso o resolve, isto e, elevando esse problema para um nivel cada vez mais aslto e mais amplo - em suma, mais universal. Ou, para ser mais concreto, o problema de realizacao so e resolvido na medida em que avanca o modo de producao capitalista, apenas na medida em que expande constantemente seus mercados internos e externos. Nesse sentido, a reproducao ampliada do capital nao e puramente impossivel, nem pode prosseguir para sempre, ininterruptamente, sem interrupcoes, sem discontinuidades, como imaginavam os economistas classicos. O capitalismo "resolve" o problema de realizacao levando suas contradicoes internas a um nivel cada vez mais alto, produzindo e reproduzindo-as continuamente em uma base cada vez  mais ampla, ate o ponto em que engolfam toda a sociedade e criam as possibilidades de transicao para o socialismo, como os economistas classicos imaginavam ser o caso.

Para Marx, as fases de expanao e de equilibrio relativo conduzem inexoravelmente aos seus opostos e e atraves da forma de crises que as contradicoes acumuladas durante a fase de expansao sao finalmente e violentamente resolvidas por meio da destruicao do capital; isso serve para trazer o capital social total mais uma vez a uma relacao apropriada com o total da mais valia produzida.Comentando das inumeras influencias que estao em acao durante o processo de expansao, Marx diz:- 
"Essas diferentes influencias podem, ao mesmo tempo, operar  predominantemente lado a lado no espaco e no tempo. De vez em quando, o conflito de agencias antagonicas encontra vazao numa crise. As crises sao sempre as solucoes momentaneas e convincentes das contradicoes existentes. Sao errupcoes violentas que por algum tempo restauram o equilibrio perturbado. (III:244)

R obvio que Marx se opos a concepcao de equilibrio proposta por Say. Mas nao se deve concluir disso que esse conceitoo nao tenha lugar em sua analise. Ele certamente criticou Say e outros economistas por terem abstraido a concepcao de equilibrio das  relacoes sociais que constituem o verdadeiro fundamento da economia capitalista. Isso permitiu que os apologistas transformasse essa categoria em uma categoria absoluta. E eles foram capazes de declarar que o equilibrio era uma condicao "natural", "normal", enquanto o movimento pertubava essa normalidade, essa condicao "natural"  era considerada uma aberracao temporaria e passageira.

Mas, enfatizamos, isso nao deve nos levar a conclusao de que Marx exclui o conceito de equilibrio de sua obra. Vamos considerar isso do ponto de vista da lei do valor. Se presumirmos que dois produtos de  trabalho se trocam por seus valores de troca, presumiremos que existe um equilibrio entre os dois ramos de producao dados. Mudancas no valor do trabalho de um produto destroem esse equilibrio e causam uma transferencia do trabalho de um ramo de producao para outro, trazendo assim a consequente redistribuicao das forcas de producao na economia. Sao as mudancas nas forcas produtivas do trabalho que causam mudancas na quantidade de trabalho necessaria para a producao de determinadas mercadorias, pondo em movimento aumentos ou diminuicoes correspondentes no valor das mercadorias.

O mecanismo acima, Marx ve como uma expressao do funcionamento da producao pequena de mercadorias. Nas condicoes de producao capitalista, o processo pelo o qual o equilibrio e simultaneamente quebrado e restabelecido e de uma ordem diferente e superior. Sob o capitalismo, a organizacao da producao nao mais reside nas maos dos pequenos produtores individuais, mas, e agora organizada por capitalistas industriais. Os capitalistas investem seu capital na esfera de producao que e mais lucrativa. A transferencia de capital para uma determinada esfera de producao cria uma maior demanda por forca de trabalho naquele ramo especifico da economia. Como consequencia, supondo que outras coisas sejam iguais, isso acarretaria um aumento no preco ds forca de trabalho (salarios). Isso atrai mao de obra viva para esse setor em expansao. A distribuicao das forcas  produtivas entre as varias esferas da economia e o estabelecimento de condicoes de relativo equilibrio entre elas tomam a forma de distribuicao de capitais entre elas. E o movimento do capital, o elemento decisivo da producao burguesa, que e a fonte de estabilizacao e desestabilizacao. O trabalho assalariado deve se mover em respostas as necessidades do capital. Em suma, "o trabalho assalariado subordinado ao capital ....deve submeter-se a ser  transferido de acordo com as necessidades do capital e a ser transferido de uma esfera de producao para outra (III:) Epecificamente, e o movimento do capital das areas com baixas taxas de lucro para aquelas com taxas mais altas que provoca uma tendencia ao equiulibrio e ao estabelecimento de uma taxa geral de lucro.

Mas, novamente, essa tendencia deve ser vista como um processo que nao e realizado de maneira mecanica. Como todas as leis, ele nunca aparece  de forma nao adulterada. Ou seja, nunca produz uma situacao em que haja de fato uma taxa geral de lucro em toda a economia. Como acontece com toda as leis, estamos diante de uma tendencia, um movimento contraditorio rumo a um equilibrio que nunca e alcancavel e um movimento que deve assumir a forma de rupturas necessarias e constantes. E desse movimento contraditorio que Marx esta falando quando  se refere ao "equilibrio incessante de divergencias constantes" (III: 192).

Ora, os neo-keynesianos objetam corretamente ao fato de que a teoria neoclassica ortodoxa trata a economia capitalista como se fosse uma maquina, tendendo por sua propria natureza ao equilibrio. Isso nao significa, entretanto, que toda a nocao de equilibrio deve ser descartada, como Kaldor e outros tendem a sugerir.[16]O fato e que ha uma certa tendencia dentro do capitalismo para o equilibrio, mas esta e uma tendencia  que nao pode ser considerada como absoluta, nem como um estado em que o capitalismo "naturalmente" existe, mas como aquele alcancado apenas por aquele equilibrio incessante de divergencias constantes Marx fala. Se considerarmos o movimento da taxa de lucro e, repetimos, e esse movimento que e mais significativo no funcionamento e desenvolvimento da economia burguesa, e a existencia da  tendencia para o estabelecimento de uma taxa geral de lucro que serve para colocar a oferta e a demanda em equuilibrio, apenas para interromper esse equilibrio no proprio curso de seu estabelecimento. Aqueles que veem no capitalismo apenas um mecanismo de equilibrio assumem, e claro, uma visao unilateral (e geralmente apologetica) do sistema capitalista.

As leis necessarias de quaisquer serie de fenomeno encontram seu caminho, estabelecem-se por meio de um labirinto de desvios. Superficialmente, esses desvios aparecem como ocorrencias contingentes; no entanto, e somente por meio deses acidentes aparentes que a lei, a necessidade, se estabelece. Ao mesmo tempo, porque e nesses desvios que a  tendencia se expressa, tambem sao introduzidos no processo varios novos aspectos que nao decorrem da necessidade, mas sao condicionados por circunstancias externas. Tome por exemplo a lei marxita do valor. Ela afirma que ha uma relacao necessaria entre os precos das  mercadorias e seus valores - a quantidade de trabalho socialmente necessaria para a sua producao. Essa conexao se manifesta, e so pode se manifestar, na forma de constante divergencias de valor do preco, ora em uma direcao ora em outra. Esses desvios sao, como ja indicado,  exatamente o mecanismo pelo qual a taxa geral de lucro e estabelecida em condicoes em que a composicao organica do capital - a razao entre o capital constante e o variavel - nao e uniforme nos varios ramos da economia.

Para enfatizar que Marx havia reconhecido que o conceito de de equilibrio era uma abstracao necessaria, isto e, um momento necessario no caminho real do desenvolvimento capitalista - podemos nos referir a uma passagem em que ele discute a funcao da taxa geral de luxo. Ele comeca dizendo que, se assumirmos que as forcas de oferta e demanda estao em equilibrio, teremos que explicar  os fenomenos nos quais estamos interessados (neste caso o preco) por meio de outras forcas que nao a oferta e demanda:-
"Se a oferta for igual a demanda, eles param de agir e, por isso mesmo, as mercadorias sao vendidas a seus valores de mercado. Sempre que duas forcas operam igualmente em direcoes opostas, elas se equilibram, nao exercem influencias externas e quaisquer fenomenos que ocorrem nessas circunstancias devem ser explicadas por outras causas  que nao essas duas forcas. Se a oferta e a demanda se  equilibram, elas ja  explicam nada, nao afetam os valores de mercado e, portanto nos deixam nos escuro quanto ao motivo do valor de mercado ser expresso apenas nesta formas de dinheiro e em nenhuma outra (III: 186)"
Marx entao passa explicar por que e necessario presumir, para fins de analise, que a oferta e a demanda se coicidem, embora na realidade nao seja esse o caso. Esse procedimento seria necessario "para poder estudar os fenomenos em suas relacoes fundamentais, na forma correspondente a sua concepcao, isto e, estuda-los independentemente das aparencias causadas pelo movimento da oferta e demands" E ha um motivo adicionall. Isso seria para permitir o pensamento
"...encontrar as tendencias reais de seus movimentos e, ate certo ponto, registra-las. Dado que as inconsistencias sao de natureza antagonicas, e uma vez que continuamente secedem, elas se equilibram por meios de seus movimentos opostos e de sua contradicao mutua. Uma vez que, portanto, oferta e demanda nunca se igualam em qualquer caso, suas diferencas se sucedem dessa forma - e o resultado de um desvio em uma direcao e que ele provoca um desvio em direcao oposta - aquela oferta e as demandas sao sempre equacionadas quando o todo e considerado ao longo de um certo periodo, mas apenas como uma media dos movimentos anteriores e apenas como um movimento continuo de sua contradicao. "(III: 186).

Ao examinar as concepcoes teoricas basicas de Keynes, argumentamos que longe de marcar qualquer avanco na obra de seus predecessores classicos, elas constituem uma degeneracao grave, pois enquanto Smith, Ricardos e outros se propuseram a estabelecer as leis objetivas do capitalismo, o trabalho de Keynes esta profundamente impregnado do subjetivismo que caracteriza o pensamento burgues como um todo no seculo XX. E  primeiro lugar, como tentamos mostrar, seu trabalho era altamente ecletico, baseando-se em elementos da escola neoclassica para explicar as leis de distribuicao, mas ao mesmo tempo, apelava pra Malthus para explicar s pobreza dos 1930. Era por esse motivo, porque o trabalho de Keynes parecia um saco de trapos, que qualquer um podia mergulhar-sse nele e escolher o que quisesse.  Isso certamente esta relacionado com a concepcao de Keynes do Estado como uma instituicao acima das classes, um ponto examinado no capitulo anterior. O Estado seria uma instituicao para ser usada para dirigir a economia de acordo com as  ideias de cads um. Mas isso deve deixar em aberto a questao de exatamente quais politicas devem ser seguidas. Sismondi e  Proudhon empregaram uma analise nao muito diferente da de Keynes para  defender ideias socialistas utopicas;  Malthus usou seu subconsumismo para defender a posicao do feudalismo dentro de um capitalismo rapidamente avancando para o seculo XX (sob condicoes historicas muito diferentes ,quando o capitalismo deixou de ser uma forca para o progresso), tanto o fascismo quanto a social democracia operaram politicas economicas que podem revindicar parentesco legitimo em Keynes.

As tres variaveis independentes de Keynes (GT: 246-7 nem mesmo mencionam o lucro que, para Keynes, ficou em segundo plano em relacao ao instinto de jogo que era supostamente inerente a natureza humana, pois "se a natureza humana nao sentiu a tentacao de arriscar, nao teria satisfacao (lucro a parte) em construir uma fabrica, uma ferrovia, uma mina ou uma fazenda, pode nao haver muito investimento como resultado de calculos a frio"(GT: 150) E o que devemos fazer com uma teoria economica, que afinal pretendia explicar alguns dos problemas fundamentais do capitalismo do seculo XX, que poderia declarar:- "Ao avaliar as perspectivas de investimento, devemos ter em conta, portanto, os nervos e historia e ate mesmo as digestoes e reacoes ao clima daqueles de cuja atividades espontaneas ela depende em grande parte") (ibid: 162)?

Apesar de suas obvias fraquezas, o keynesianismo foi certamente uma importante vertente da ideologia burguesa do pos-guerra. Foi a teoria que legitimou os gastos do governo e a criacao do Estado do Bem-Estar. No proximo capitulo, examinaremos as implicacoes economicas desses gastos.

NOTAS;-

1.  No mesmo livro Kregal faz uma afirmacao semelhante quando diz;- "A[ teoria] keynesiana, por outro lado, esta mais intimamente ligada a Ricardo  e Marx da tradicao classica, da analise do valor em termos fisicos, a analise  das quantidades em termos de algum tipo de medida baseada no trabalho e da analise de um sistema em mudanca ao longo do tempo historico" (1975:33)

2. Uma questao envolvida na critica de Baran e Sweezy e sua nocao de superavit economico. Como parte de sua disposicao das categorias de Marx, eles substituem a nocao de mais valia economica  pela nocao de mais valia. Esse termos e claro, nao sao os mesmos: todas sociedades, exceto as mais primitivas, geram um excedente economico. Somente sob o capitalismo esse excedente assume a forma de mais valia.

3.  Keynes certamente nao foi tao complacente com Marx. Ele afirmava que as ideias de Marx eram "caracterizadas...por mera falacia logica" e acreditava que "o socialismo marxista deve sempre permanecer um pressagio para os historiadores da opiniao - como uma doutrina tao ilogica e monotona pode ter exercido um efeito tao poderoso e duradoura influencia na mente dos homens e, por meio deles, nos eventos da historia" (Keynes, Laissez-Faire e Communismo, citado em Hunt 19979:377) Em outro texto, Keynes disse:- "Como posso adotar um credo que, preferindo a lama ao peixe, exalte o proletariado grosseiro acima da burguesia e da intelectualidade que, com quaisquer defeitos, sao a qualidade de vida e carregam as sementes de todo o progresso humano? (JMK:CEW 9). E isso vindo de um homem que, por um lado, nao fizera nem mesmo uma inspecao superficial das ideias de Marx, mas sabia que seu proprio trabalho destruiria seus alicerces.

4. "De uma vez por todas, posso afirmar que por Economia Politica Classica, entendo aquela economia que, desde o tempo de W. Petty, investigou as relacoes reais de producao na sociedade burguesa, em contraste com a economia vulgar, que trata com apenas as aparencias, rumina sem cessar sobre materias ha muito fornecidas pela economia cientifica, e busca explicacoes plausiveis dos fenomenos mais intrusivos, para uso diario burgues, mas para o resto se limita a sistematizar de forma pedante, e proclamar verdades eternas, as ideias banais sustentadas pela burguesisa autocomplacentes com relacao ao seu proprio mundo, para eles o melhor de todos os mundos possiveis" (I:81)

5. Aqui o empirismo e totalmente inutil como meio para o conhecimento cientifico. Cada individuo ve o mundo, incluindo seus fenomenos economicos, atraves dos olhos sociais, como parte integrante de uma rede definida de relacoes sociais formada historicamente com base no trabalho humano. E por ser assim, "as propriedades socio-historicas das coisas muitas vezes se fundem aos olhos dos individuos com suas propriedades naturais, enquanto as propriedades transitorias das coisas e do proprio homem comecam parecer  as propriedades eternas ligadas a propria essencias das coisas. Essas ilusoes naturalistas e fetichistas (o fetichismo da mercadoria e apenas um exemplo)e as abstracoes que as expressam nao podem portanto, serem refutadas pela mera indicacao de coisas dadas na contemplacao" (Ilyenkiv 1982: 127)

6.  "Os economistas politicos estabeleceram como um axioma que o Capital, a forma de propriedade atualmente predominante e eterno: eles encarregaram seus cerebros de mostrar que o capital e contemporaneo ao mundo e que nao tem comeco, portanto, nao pode ter fim. Prova dessa assertiva todos os manuais de economia politica repetem com muita complacencia a historia do selvagem que tendo em sua posse dois lacos, empresta um deles a um irmao selvagem, por uma parte do produto da caca. Tao grande foram o zelo e o ardor que os economistas exerceram em sua busca pela propriedade capitalista nos tempos pre-historico, que conseguiram, no curso de suas investigacoes, descobrir a  existencia de propriedade fora da especie humana, a saber, entre os invertebrados; para a formiga, em sua visao, e um colecionador de provisoes. E uma pena que nao tenham dado um passo adiante, afirmando que, se a formiga guarda loja, o faz com o objetivo de vende-las e obter lucro com a circulacao de seu capital" (Lafargue, 1975)

7. Estritamente falando, o capial variavel e equivalente a massa salarial total dos trabalhadores produtivamente empregados, isto e, trabalhadores que produzem mais valor, e nao aos dos trabalhadores improdutivos. Portanto, cifras como as das parcelas dos salarios na renda nacional nao podem nos dizer nada diretamente sobre coisas como a taxa de eploracao. A distincao entre trabalho produtivo e trabalho improdutivo sera discutida no proximo capitulo; mas ha uma indicacao de que as categorias do Capital de Marx nao correspondem imediatamente aos dados empiricos.

8.  Os economistas discutem continuamente entre si sobre as qualidades essenciais do dinheiro. E convencional dizer que o dinheiro tem quatro funcoes. E convencional dizer que o dinheiro tem quatro funcoes: (a) como meio de troca (b) como um padrao de valor (c)como meio de pagamento e (d) como reserva de valor. Foi Keynes quem deu enfase especial a essa ultima funcao, tornando-se a base de sua teoria de juros: juros eram o pagamento de nao acumular. Por outro lado, os adeptos da teoria quantitativa de dinheiro colocam sua enfase principal no papel do dinheiro como meio de troca. Os esforcos para chegar a essencia do dinheiro por meio do registro de suas funcoes estao fadados ao fracasso, pois na verdade colocam de cabeca para baixo o problema real. Suas funcoes acabam por ser nao a maneira pela qual a qualidade essencial do dinheiro aparece, mas, pelo contrario, a  condicao da qual sua natureza e deduzida. O problema e que o dinheiro manifesta varios aspectos relacionados, mas contraditorios, dentro do sistema capitalista; assumir um aspecto,  conforme expresso em uma funcao particular, esta fadado a chegar a uma  concepcao abstrata e erronea do dinheiro. Assim, no caso do mercantilismo, foi feito um absoluto da funcao do dinheiro como reserva de riqueza, e isso abriu o caminho para a identificacao do dinheiro com o ouro e a prata. Nos anos, no momento de crescente criticas a posicao ocupada pelo dolar no sistema monetario mundial, economista como Jacques Rueff na Franca defendiam a restauracao do Padrao Ouro, esquecendo que este Padrao operou sob condicoes historicas especificas durante o ultimo seculo que foram incapazes de ressureicao no presente. Por outro lado, as teorias que sustentam que o dinheiro e purament uma convencao, empregados como meio de fixar precos relativos, sao igualmente unilaterais. Eles levam a conclusao de que o papel-moeda, em vez dos metais preciosos, e a forma de dinheiro ideal. O papel-moeda e, no entanto, uma forma especifica de dinheiro e que surge de sua funcao como meio de troca. O problema e que as varias funcoes do dinheiro nao podem ser meramente listadas, mas devem ser consideradas em sus interconexsao real.

9.  Um dos primeiros exemplos foi John Strachey (1938), que viu uma analogia proxima entre a teoria de Marx da taxa de lucro em declinio e a nocao de Keynes do declinio da eficiencia marginal do capital.

10. O misterio do capital consiste no seguinte: Como podem coisas (estoques de materias primas, saldos bancarios, maquinas e equipamentos, etc) tao diferentes na aparencia serem unidas sob o mesmo titulo de "capital"? E, segundo, qual e o segredo da capacidade do capital de se expandir em valor? Para um relato historico dos varios esforcos em ultima analise, inuteis, por pparte da economia ortodoxa para responder essas questoes, ver Shemyastenkov (1981)

11.  Em um ponto Joan Robinson corretamente observa que "as relacoes tecnicas e fisicas, entre o homem e a natureza, devem ser distinguida das relacoes sociais entre o homem e o homem" (Robinson 1960:v). Este e de fato o cerne da questao, mas esta claro pelo que ela diz em outro lugar que o significado real da distincso a iludiu.

12. Joan Robinson sugere que Keynes tinha uma visao totalmente  nova e revolucionaria do capital: "Toda a estrutura elaborada da justificativa metafisica para o lucro explodiu quando ele apontou que o capital da retorno nao porque e produtivo, mas porque e escasso." O fato da receita surgir em conexao com um bem ou servico que e natural ou artificialmente escasso e uma das caracteristicas centrais da teoria ortodoxa da renda e, a esse respeito, Keynes estava dizendo poucas novidades. Assim como a terra rende  uma renda nao porque e escassa, mas porque e propriedade privada, o retorno a varios instrumentos de producao reflete nao sua escasses, mas sua propriedade privada como capital. Sobre as semelhancas entre as concepcoes de Joan Robinson sobre o capital e as de Proudhon, ver Rosdolsky (1977).

13.  Dado o tempo em que ele estava envolvido em suas polemicas com Malthus (nos primeiros anos do seculo XIX) Ricardo estava em certa medida justificado ao presumir que o capitalismo poderia desenvolver as forcas produtivas de uma maneira tranquila e sem crises. Essa suposicao tornou-se muito menos sustentavel com o passar do seculo.

14.  A questao e que, embora o mundo seja dado ao homem em sensacao, ele nao pode ser compreendido por meio da sensacao. O material empirico e um componente necessario do conhecimento e, nesse sentido, o marxismo nao e de forma alguma hostil ao estudo do material empirico; na verdade, esse estudo e essencial. O Capital de Marx, por esemplo, envolveu o estudo exaustivo de uma massa de material factual durante um periodo de 25 anos. Mas o estudo material requer conceitos e categorias que devem ser desenvolvidos conscientemente. Aqueles qque imaginam estar lidando com "os fatos" e apenas os fatos operam invariavelmente com as categorias mais grosseiras de pensamento que foram assimilidas acriticamente pelo pensamento burgues.

15.  Isso envolve uma concepcao da ideia de contradicao. Em geral, pode-se dizer que o positivismo ve na contradicao um erro de pensamento e ve o desenvolvimento do pensamento como sempre envolvendo a eliminacao da contradicao. O marxismo, ao contrario, ve a contradicao como a propriedade mais vital do proprio objeto, e a tarefa essencial do penasmento cientifico nao e a eliminacao da contradicao por meio da redefinicao de termos, mas como a descoberta de contradicoes reais e uma analise de sua solucao real.

16. Joan Robinson parece nao assumir essa posicao extrema para "O conceito de equilibrio, e claro, e uma ferramenta indispensavel de analise",(1962: 81).
 
 






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